Vida perdida

Coronavírus interrompe sonhos das carreiras musicais de mãe e filha maranhenses

Aos 65 anos, cantora e compositora Isabel Cunha perdeu a luta para a Covid-19 em janeiro.

Neto Cordeiro/Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h04

SÃO LUÍS - “Há um vírus matando pessoas lá fora!... Ele matou minha mãe”. As palavras são da cantora, compositora e professora de Música e Teatro Carol Cunha, que escreveu uma crônica após perder a mãe para a Covid-19. Isabel Cunha morreu em janeiro - dias depois de completar 65 anos -, intubada em um leito lutando contra o vírus, que pôs fim em um total de 5.379 histórias no Maranhão até o momento.

“Foi um processo muito doloroso, muito traumático. Até hoje, eu não consegui me recuperar, não caiu a minha ficha que minha mãe morreu e que eu tenho que ressignificar tudo e levar a vida sem mamãe. É muito difícil”, relata a filha Carol.

Funcionária pública, professora de Filosofia, Isabel demorou para revelar ao público seu talento musical. Carol conta ao Imirante.com que a mãe se descobriu cantora aos 60 anos. “Minha mãe era uma pessoa muito alegre, divertida. Começou a cantar, tem vários clipes gravados, tinha uma parceria muito bonita com a irmã dela, que é minha tia Wanda Cunha”. Filha do poeta Carlos Cunha, Isabel já trazia a arte na veia ou na genética, como diz a filha.

Os últimos em vida Isabel Cunha dedicou-se à vida artística. Tinha planos com a filha de lançar clipes musicais e até um filme. “Veio o vírus e derrubou todos esses sonhos”, lamenta Carol.

Último registro de Isabel Cunha ao lado da filha Carol. Foto: Arquivo Pessoal.
Último registro de Isabel Cunha ao lado da filha Carol. Foto: Arquivo Pessoal.

No dia 16 de dezembro, Isabel deu entrada no hospital com falta de ar, após dias sentindo apenas os sintomas leves de gripe. Da enfermaria, ela precisou ser levada à UTI mesmo a contra vontade. Carol ressalta a sorte de poder visitar a mãe várias vezes, ao contrário de tantas pessoas que nem sequer puderam se despedir dos entes queridos vítimas da Covid-19.

Foram mais de 20 dias recebendo ar por meio de aparelhos, com Carol acompanhando e mantendo a música por perto da mãe. “Eu cantava para ele no leito. Apesar dela ‘tá’ dopada, eu sei que ela me ouviu, porque os batimentos cardíacos dela aumentavam ao me ouvir. No dia do aniversário, que ela estava intubada, eu cantei para ela, os médicos e enfermeiros encheram o leito de balões rosas para homenageá-la”, lembra-se Carol.

No dia 8 de janeiro, a luta cessou com a perda de uma mulher, mãe e artista que deixou um legado na música. Recentemente, Carol lançou nas plataformas digitais (ouça) a música que Isabel compunha, aos 16 anos, com a irmã Wanda Cunha, intitulada Egoismo. Ela conta que tem como propósito lançar outras produções da mãe dela, que dentre suas canções tratou várias vezes de questões sobre a violência contra a mulher.

Confira mais músicas: Meu Coração Já Esqueceu; A Fé No Amor Virou Feminicídio; Penha Nele; Xote da Caranguejada.

Após o falecimento de Isabel Cunha, Carol escreveu uma crônica, em que fala sobre o vírus traiçoeiro e a necessidade de respeito às normas sanitárias para combater a Covid-19. Leia:

Pandemia: dentro ou fora de casa?

- Há um vírus matando pessoas lá fora!... Ele matou minha mãe, meu irmão, minha mulher, meu filho, meu primo, meu marido... E agora?
- A vida segue, tem o baile, tem a festa...
O café com os amigos... A família vem neste domingo para o almoço. Não podemos postar as fotos, mas todos virão! Tem uma churrascaria deliciosa ali... O barzinho novo para conhecer!... Tem um samba bom lá na Esquina do bairro.
Bobagem! Não posso faltar!
- Mas tem um vírus matando pessoas lá fora!!!
- A vida segue...
Não dá para parar, né?
Que bobagem, mané!...
Uma gripezinha, um remedinho de farmácia resolve!... Vamos?
- Não irei. Chame quem pensa como você!
- Ei, Espera!... Os mortos agora são meus!!! Fecha a porta!
Não irei mais.
-É sério?!... Pena que teve que doer em você para perceber que estamos numa pandemia que mata quem amamos.

(Carol Cunha)

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