CASO CHAGAS

Mecânico Francisco das Chagas vai a júri hoje

Mecânico do caso Meninos Emasculados será julgado por um dos 30 crimes praticados na Grande São Luís.

O Estado do Maranhão

Atualizada em 27/03/2022 às 14h14

SÃO LUÍS - O mecânico Francisco das Chagas Rodrigues de Brito vai a júri popular hoje, às 9h30, no Salão de Eventos do Serviço Social da Indústria (Sesi), situado na rua Projetada, no Araçagi, comarca de São José de Ribamar. O réu é acusado da prática de mais de 41 crimes contra menores. O caso ficou conhecido como dos Meninos Emasculados e teve repercussão internacional pela crueldade com que os meninos foram mortos.

Mais de 11 mortes de menores foram confessadas por Chagas e teriam ocorrido na cidade de Altamira, no Pará. Os demais assassinatos – 30 – aconteceram na Grande São Luís. Hoje, ele será julgado somente pelo assassinato de Jonathan Vieira, 15 anos, cuja morte aconteceu em 6 de dezembro de 2003. Ainda não há data para julgamento dos demais crimes.

A 1ª Vara da Comarca de São José de Ribamar ficará responsável pelo julgamento do mecânico, sob o comando do juiz Márcio Castro Brandão. A defesa do acusado será feita pelo advogado Erivelton Lago e a acusação, pelo promotor de Justiça Samarone de Sousa Maia, titular da promotoria da 1ª Procuradoria da vara onde tramita o processo, auxiliado pelos promotores Carlos Henrique Brasil Telles de Menezes e Emmanuel José Perez Netto Guterres Soares.

Os assassinatos dos menores na capital maranhense teriam ocorrido na zona rural da Grande São Luís, sendo que a Polícia Civil e o Ministério Público Estadual conseguiram reunir indícios que comprovam a autoria dos crimes cometidos pelo mecânico Francisco das Chagas.

Há 14 processos contra o mecânico tramitando na comarca de São José de Ribamar. Sete na 1ª Vara, referentes aos assassinatos de meninos com idade entre 9 e 15 anos ocorridos entre 1996 e 2004, e os demais na 2ª Vara, nos quais há nove vítimas e os crimes datam do período de 1997 a 2003.

Na comarca de Paço do Lumiar, tramitam nove processos contra Chagas, em um total de 10 vítimas – meninos entre 10 e 14 anos -, cujas mortes ocorreram entre 1991 e 2002.

Jonathan

Um dos casos que levou a polícia a suspeitar da mente criminosa do réu foi o homicídio de Jonathan Vieira. Em depoimentos a promotores de Justiça, Francisco das Chagas não assumiu a emasculação dos menores (extirpação da genitália).

Segundo a promotora Geraulides Mendonça, o que ficou claro em todo o trabalho de investigação é que Chagas não escolhia as vítimas. “Ele escolhia era a oportunidade da execução dos crimes, sempre observando a segurança pessoal e as possibilidades de êxito”, declarou.

Para a polícia, o mecânico não assume o aspecto sexual dos crimes, mas afirma que foi ele quem derrubou e estrangulou as vítimas. “Eu não passo para o outro lado”, disse o acusado aos policiais, quando confrontado com os detalhes da emasculação.

Em depoimentos, Francisco das Chagas disse que, do momento dos assassinato dos meninos, só conseguia se lembrar que sentia um grande mal-estar. Ele contou que, quando retomava a consciência, a criança ou adolescente já estava no chão e o crime consumado. Ele também nunca explicou o motivo dos crimes.

A promotora Geraulides Mendonça ressaltou que todas as confissões só aconteceram quando o mecânico Francisco das Chagas foi confrontado com provas irrefutáveis e depois que lhes foram dadas garantias pessoais. “Não se fez nenhum tipo de pressão de ordem física ou psicológica. Foi preciso estabelecer uma relação de confiança entre o acusado e a equipe de investigadores para que as confissões acontecessem”, observou a promotora.

Desde as primeiras horas da manhã de hoje está prevista uma concentração das famílias dos meninos emasculados em frente ao prédio do Tribunal de Justiça, na praça D. Pedro II. O objetivo da manifestação é fazer uma alvorada pelo desaparecimento das crianças, vítimas do mecânico Francisco das Chagas. Familiares também pedirão maior urgência no julgamento do réu. Após o ato em frente ao TJ, as famílias seguirão para o Sesi Araçagi, para acompanhar o júri.

Como será o primeiro julgamento do réu, foi armado um forte esquema policial no Sesi Araçagi. Uma das medidas será a revista, pela Polícia Militar, de todas as pessoas que forem ao local do júri.

Foram disponibilizadas 500 vagas no auditório, sendo 450 para a comunidade e 50 para entidades civis ligada aos Direitos Humanos. Houve inscrição e, posteriormente, sorteio.

Lista de vítimas de Chagas

Nome da vítima e local do achado

1 - Ranier Silva Cruz (17-9-91) Sítio Paranã

2 - Antônio Reis Silva (7-11-91) Matas do Batatã (São Luís)

3 - Ivanildo Póvoas (7-11-91) Horto da Maiobinha

4 - Carlos Wagner Sousa (20-11-91) Matas próxima ao Maiobão

5 - Bernardo Rodrigues Costa (3-3-92) Matas de São José de Ribamar

6 - Nerivaldo Ferreira (21-03-96) Mercês – Maiobão

7 - Jailson Alves Viana (25-12-96) Cidade Olímpica

8 - Raimundo Nonato da Conceição Filho (7-6- 97) Lixão de Paço do lumiar

9 - Eduardo Rocha da Silva (7-6-97) Lixão de Paço do Lumiar

10 - Josemar de Jesus Batista (9-10-97) Matas de Santana

11 - Rafael Carvalho Carneiro (25-10-97) Alto Turu - próx. Itapiracó

12 - Júlio César Pereira Melo (18-6-98) Matas de Ubatuba

13 - Nonato Alves Silva (28-6-98) Matas de Ubatuba

14 - Sebastião Ribeiro Borges (17-8-00) Matas de Santana

15 - Hermóneges Colares (3-9-00) Matas de Santana

16 - Raimundo Luís Cordeiro (3-9-00) Matas de Santana

17 - Welson Frazão Serra (7-10-01) Vila Jair-Vassoural

18 - Edvan Pinto Lobato (15-2-02) Thiago Aroso – Estrada da Maioba

19 - Daniel Ribeiro (10-2-03) Casa de Chagas (Vila Zé Reinaldo)

20 - Diego Gomes Araújo (06-03) Casa de Chagas (Vila Zé Reinaldo)

21 - Jonnathan Vieira (6-12-03) São Braz Macaco

22 - Emanoel Diego de Jesus Silva (03-02) Vala perto da casa de Chagas

23 - Evanilson Cantanhede Costa (1997 / 2000) Espaço Sideral –Itapiracó

24 - Laércio Silva Martins (5-5-01) Sumiu Maiobão/deixado Vassoural

25 - Não identificado (6-99) Sítio Cel. Riod

26 - Alexandre Gonçalves (12-10-01) São Braz Macaco

27 - Jontelvane (7-9-1991) Perto de 3 mangueiras- Mercês

28 - Bernardo da Silva Modesto (25-8-98) Nova Jerusalém - Paço do Lumiar

29 - Não identificado (1999) Próx. Nova Jerusalém

30 - Não identificado (1994) Araçagi

Mais 14 casos confessados em Altamira no Pará (três sobreviveram).

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