Câmara dos Deputados

Ministro do CGU confirma investigação de orçamento secreto

Wagner Rosário afirmou que a CGU e a Polícia Federal investigam um esquema de venda de emendas parlamentares por meio do orçamento do relator

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Wagner Rosário falou em esquema de venda de emendas no Brasil
Wagner Rosário falou em esquema de venda de emendas no Brasil (Wagner Rosário)

Brasília

O ministro Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União (CGU), afirmou ontem, em audiência na Câmara dos Deputados, que a sua pasta e a Polícia Federal investigam um esquema de venda de emendas parlamentares, em que deputados e senadores destinariam dinheiro público do Orçamento a prefeituras em troca de um porcentual. Ele também disse "não ter dúvida" de que há corrupção na compra de tratores pelo governo via orçamento secreto, caso que foi revelado pelo jornal O Estado de São Paulo e que ficou conhecido como "tratoraço".

“Sobre vendas de emendas, estamos investigando vários casos porque já fazemos esse trabalho em convênios em geral. Porque não é só trator, tem várias outras coisas acontecendo fruto de convênios no Brasil em diversos outros órgãos e estamos com trabalho bastante forte nisso, em parceria com a PF, e todos nós vamos ficar sabendo no dia da deflagração de operação e também no desencadeamento dos trabalhos”, afirmou aos deputados.

A reportagem apurou que uma das suspeitas dos investigadores é de que parlamentares cobram de 10% a 20% sobre o valor da emenda em troca da indicação de recursos para uma determinada prefeitura. O valor seria pago por empreiteiras interessadas nas obras que o dinheiro vai bancar ou pelos próprios agentes públicos.

As investigações cercam, sobretudo, emendas enviadas por deputados ou senadores para cidades fora do seus redutos eleitorais, até em outros Estados. Em reportagem, o jornal O Estado de São Paulo mostrou, em maio, que R$ 181 milhões foram destinadas desta maneira. "Não temos dúvidas de que vai existir corrupção na ponta, agora o nosso trabalho tem que ser bastante cauteloso", disse o ministro.

'Mercado persa'

Durante a audiência com o chefe da CGU, o deputado Jorge Solla (PT-BA) afirmou que a prática é conhecida no Congresso. "Nós temos recebido muitas denúncias de vendas de supostas emendas de relator, com pagamento antecipado de comissão em dinheiro. Chegamos a uma situação em que o volume de dinheiro é tão grande, que, para além de atender aos interesses da base do governo em votações, está se transformando em um mercado persa", afirmou.

Em resposta, Rosário antecipou que as investigações estão avançadas. "Em relação a irregularidades já estamos chegando a algumas e, em breve, será de conhecimento de todos, estamos com as equipes atuando em conjunto sempre com a PF e o MP."

Chamado de "tratoraço" por envolver a compra de tratores, o esquema do orçamento secreto tem ajudado o presidente Jair Bolsonaro a manter uma base fiel no Congresso e escapar de processos de impeachment. Bilhões de reais foram distribuídos para um grupo de deputados e senadores que determinaram o que fazer com o dinheiro sem qualquer critério técnico ou transparência.

Rosário disse aos deputados ter enviado à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República relatório que identificou R$ 142 milhões de sobrepreço em licitações e convênios do Ministério do Desenvolvimento Regional. A auditoria da CGU foi instaurada após relevação de que o governo Bolsonaro criou o mecanismo de "toma lá, dá cá" para aumentar sua base de apoio no Congresso. "Sobre a denúncia do Estadão, realmente, foi ela que deu início ao processo. E aqui até falaram, agradecer, claro, a gente sempre agradece toda reportagem ou ação da sociedade civil, que esse é o papel da imprensa de denunciar casos", afirmou o ministro.

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