HISTÓRIA

Praça Manuel Beckman é destaque entre pontos históricos de São Luís

Com vista privilegiada e importante condição histórica, ainda é desconhecido por muitos maranhenses; instalado no centro da cidade, logradouro e monumentos passam desapercebidos

Linhares Jr / O Estado

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Monumento tem base de antigo pelourinho
Monumento tem base de antigo pelourinho

SÃO LUÍS - Localizada na Avenida Beira-Mar, a Praça Manuel Beckman tem valor histórico para São Luís. Nomeada em homenagem ao revolucionário português radicado no Brasil, a praça é ponto de passagem para centenas de milhares de pessoas diariamente, e possui uma das vistas mais bonitas da Baía de São Marcos e da chamada “cidade nova”.

Ainda no início do processo de urbanização, o espaço era conhecido como "Parque 15 de Novembro", uma homenagem à Proclamação da República. A praça foi construída na década de 1970, na gestão do prefeito Haroldo Tavares.

Antes da paisagem urbana atual, em seus primórdios, a área era composta por um conjunto de praias. No lugar era localizada a Praia do Armazém, posteriormente batizada de Praia da Trindade. Manuel Beckman, grande figura local, fora enforcado na Praia do Armazém, como sentença por ter liderado a legendária Revolta de Beckman.

O personagem
Senhor de engenho português, radicado no Maranhão, no século XIX, Manuel Beckman entrou para a história do estado ao liderar, ao lado do irmão Tomás Beckman, a revolta que em 1984 reuniu comerciantes e moradores locais, que opuseram o governador, aboliram o monopólio comercial da época, extinguiram a Companhia do Comércio do Maranhão e expulsaram os jesuítas do estado.

A revolta demorou um ano, quando foi suprimida pela Coroa Portuguesa, que condenou Manuel Beckman à forca. O português se tornou símbolo da resistência contra o poder de Portugal e hoje é lembrado como herói local.

Oficialmente a data de sua morte é 2 de novembro (Dia de Finados). Contudo, estudos recentes do historiador maranhense Milson Coutinho, em seu livro "A Revolta de Bequimão", apontam que Beckman fora executado em 10 de novembro. “A prova da data foi retirada de uma carta então enviada ao Conselho Ultramarino pelo governador do Estado do Maranhão, Gomes Freire de Andrade, confirmando o dia 10 de novembro como data da execução de Manuel Beckman”, explicou o professor e pesquisador Euges Lima.

Praça fica em espaço privilegiado no centro da cidade
Praça fica em espaço privilegiado no centro da cidade

O monumento e a praça
O primeiro avanço urbanístico do lugar foi o chamado Cais da Sagração, no século XIX. A área do cais se estendia do Palácio dos Leões até as imediações da Praça Maria Aragão. “Por aproximadamente um século, desde a construção do Cais da Sagração, foi uma área portuária subutilizada”, explicou o historiador Diogo Gualhardo.

Com a construção do cais, grande descampado do começo da rua do Egito até a Montanha Russa foi batizado de Parque 15 de Novembro. Apesar de a praça ter sido construída na década de 1970, a Pirâmide de Beckman, monumento no centro do espaço, foi erguido em 28 de julho de 1910, na gestão do governador Luís Domingues (1910/1914). O momento faz referência à adesão maranhense ao movimento de independência e homenagem ao revolucionário enforcado no lugar.

A praça fora construída quando Haroldo Tavares resolveu urbanizar a região. Localizada originalmente na lateral, a Pirâmide de Beckman foi transportada para o centro.

Descoberta
Em 2014, pesquisadores locais fizeram uma descoberta arqueológica importante para a história da capital. Eles identificaram na pirâmide, o pedestal do antigo Pelourinho de São Luís, datado de 1815. Localizado no centro do antigo Largo do Carmo, o destino do pelourinho, após sua derrubada, era desconhecido.

“Essa informação estava esquecida da memória coletiva da cidade e da historiografia maranhense nas últimas décadas, gerando surpresa, pois se acreditava que não tinha havido restado vestígios desse Pelourinho ludovicense, quando, na verdade, sua base escapou da demolição do início da República (1889) e foi aproveitada quando da construção da Pirâmide”, disse o historiador Euges Lima.

Segundo o historiador e advogado Diogo Gualhardo Neves, a área do entorno da Praça Manuel Beckman ocupou espaço de área nobre na cidade. “A avenida Beira-Mar era um passeio público, realidade perdida com a construção do Anel Viário, em 1972. Pela qualidade dos chamados bangalôs e outras habitações de alto padrão para a época, além da vista privilegiada, ocupava lugar de destaque na cidade”, explicou.

Euges Lima ressaltou a importância da área. “A Casa da Família Tavares ainda fica nas imediações. Ela é um dos dois sobrados próximos da Praça localizados na avenida. Algumas casas do entorno são antigas e remetem ao século XIX e início do século XX. A praça e o monumento já passaram por várias reformas e restaurações ao longo dos anos, a mais recente data de 2016”, disse.

Ponto turístico
O mapa turístico da Prefeitura de São Luís considera a praça um ponto turístico. “Infelizmente, a falta de um memorial descritivo de Manuel Beckman e a revolta que ele participou ajudam no desconhecimento da população”, frisou Gualhardo.
Para o historiador, infelizmente o maranhense não conhece Manuel Beckman. “Apesar de saber existir um bairro com seu nome, o Bequimão, não faz a associação de uma coisa com outra. Além do ensino da história ser deficitário quanto às personalidades locais, também não existe educação patrimonial, e a praça, como outros logradouros públicos, costumeiramente é alvo de vandalismo”, disse.

Diogo Gualhardo acredita que o local deveria ser resgatado pelo poder público. “O uso educativo, sem dúvida, seria uma saída. Um memorial ao protagonismo de Beckman, que em pleno século XVII pedia o direito de liberdade de comércio, algo inédito nas Américas. A praça também deveria estar no roteiro das escolas públicas da cidade”, apontou.

Nos últimos anos a exploração comercial da área, que ficou por anos adormecida, voltou. A inauguração de bares, cafés e lojas tem elevado a rotatividade na área. Infelizmente, a arquitetura da época do Regime Militar, que tinha como característica terrenos acidentados e recortados para evitar aglomerações, impede que a área se torne um ponto de convivência.

Dadas as circunstâncias, é inadmissível que um vista tão privilegiada em um lugar tão simbólico não seja acompanhada de uma estrutura física acolhedora.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.