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Praça Deodoro: 153 anos de história, reformas e fama consolidada

Inaugurado oficialmente em 15 de agosto de 1868, o logradouro já concedeu a São Luís o status de cidade dona das mais belas praças do Brasil. O Estado resgata o passado e o presente de um dos espaços públicos mais emblemáticos da capital maranhense

José Linhares Jr. / Da Equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

São Luís - A história da interiorização de São Luís e o desenvolvimento da cidade se confundem com o Complexo Deodoro. A área abrange as praças Deodoro, Pantheon e os passeios Silva Maia e Gomes de Castro, no centro da cidade. Neste domingo, 15 de agosto, a Praça Deodoro, que nasceu Praça da Independência, comemora 153 anos de uma história que abriga em si grande parte da história da capital maranhense.

Antes considerado um dos lugares mais bem cuidados do Brasil, a Praça Deodoro foi perdendo sua importância estética/urbanística ao longo do final do século XX. Com a revitalização do lugar em 2018, a arquiteta e urbanista Débora Garreto identificou um retorno da importância da praça como logradouro de São Luís. “Há uma visível movimentação nos últimos anos de volta das pessoas para atividades que, até em um passado recente, haviam sido esquecidas”, disse.

História

O lugar que hoje abriga o grupo de praças e passeios que é popularmente conhecido Praça Deodoro começou a ser descoberto no século XVIII. Foi a partir da abertura do Caminho Grande, que tinha como objetivo proporcionar uma rota de interiorização na ilha, que o local começou a ser habitado.

Hoje o caminho é conhecido como Rua Grande e abriga, em sua primazia, comércios da capital. A primeira ocupação da área que hoje abriga o Complexo Deodoro foi o 5º Batalhão de Infantaria. Construído em 1793, ele foi o primeiro e, na época, maior quartel militar Português do Brasil.

Em 1862, o Largo do Quartel sofreu a primeira intervenção urbanística. Fora construído um chafariz, por parte da Companhia das Águas do Anil, que acabou atraindo a população.

Relatos da década de 1860 afirmam que naquele período já podiam ser identificadas as primeiras manifestações culturais na área. Sendo o carnaval a mais popular delas. Neste período uma série de mobiliários eram instalados.

Em 15 de agosto de 1868, por determinação da Câmara Municipal, o Largo do Quartel passou a ser chamado Praça da Independência. Poucos anos após a mudança, mais uma alteração. Desta vez em homenagem ao presidente Marechal Deodoro da Fonseca a Praça da Independência passou a ser chamada Praça Deodoro.

Com a constante atração de pessoas, ainda na última década do século XIX, foi construído à direita do Quartel um passeio público chamado de Praça Bolívar. Que em 1891 teve o nome alterado para Gomes de Castro

Em 1903, à esquerda do Quartel, tendo como modelo o mesmo padrão construtivo e de mobiliário do passeio público Gomes de Castro, foram construídos a avenida Silva Maia e seu passeio público.

Em sua pesquisa sobre a área, Débora Garreto pode identificar que neste período São Luís era uma das únicas cidades onde os espaços públicos eram bem cuidados.

Passado recente e presente

Segundo Débora Garreto, que também é doutora em Urbanismo e professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), entre as décadas de 1990 e 2000 a Praça Deodoro passou por um momento de decadência.

O comércio desorganizado, a insegurança na área e a infraestrutura debilitada reelegeram ao lugar um status de mero ponto de passagem.

Nos anos 2000, dados da extinta Secretaria Municipal de Transportes Urbanos (SEMTUR), apontavam que São Luís era atendida por 738 ônibus. Destes, 590 veículos de 106 linhas diferentes passam todos os dias pela Praça Deodoro.

Já a transformação do entorno do lugar na década de 1990 em camelódromo pela Prefeitura e a falta de fiscalização também foram, segundo a pesquisadora, determinantes para a degradação do lugar. “Apesar de manter-se ainda nesta época como ponto de manifestações, a praça foi deixando de servir como lugar de encontro e contemplação. As pessoas a frequentavam muito mais por obrigação do que por opção”, lembrou Débora.

O panorama mudou em 2018 com a conclusão de uma ampla reforma da praça realizada em parceria entre Prefeitura e Governo Federal. Débora Garreto percebeu que as obras e a regulação do comércio informal foram determinantes na revitalização da Praça.

“Começamos a perceber que as atividades na praça começaram a sofrer alterações. Principalmente a contemplação. Não que este tipo de comportamento fosse inexistente antes, mas elas começaram a ser mais frequentes”, explicou Débora.

O aumento na frequência de pessoas na Praça Deodoro nos fins de semana também foi identificado na pesquisa. “Antes existia um receio por conta da sensação de falta de segurança, o que mudou. São comuns agora grupos em horários que não eram observados antes”, disse.

A atração estética trazida com a reforma e a sensação de segurança também despertaram novos hábitos. “Após a reforma identificamos que as pessoas começaram a usar as dependências da praça para atividades em grupo que antes eram inexistentes. Como confraternizações, formaturas, books fotográficos”, explicou.

Débora Garreto lembra que a praça que chegou a ser o principal abrigo de manifestações políticas por um bom tempo (como a Greve da Meia Passagem em 1979). A divisão do espaço com outras atividades também indica um processo de redescobrimento do mobiliário pela população. “A heterogeneidade dos grupos atraídos pela reforma começou a desertar novas necessidades de uso. Essa descoberta foi muito surpreendente”, explicou.

O impulso das redes sociais e o futuro

Uma das revelações mais importantes no processo de redescobrimento da Praça Deodoro foi a ligação entre o espaço real e o virtual. Por meio de um método chamado netnografia (que analisa o comportamento humano e suas características por meio da observação e catalogação dos grupos sociais na internet), a pesquisadora identificou uma relação.

“Percebemos que, em alguns momentos, uma publicação nas redes sociais desperta o interesse real de visitação que produz novas publicações e a situação vai se retroalimentando. As pessoas registram, esse registro estimula as pessoas a virem, fazerem novos registros e assim por diante”, explicou.

Para Débora Garreto, a vivavidade no espaço público da Praça Deodoro está sempre acontecendo após a reforma. “Esse é o principal requisito para termos locais sustentáveis e autossuficientes. Hoje a população resgatou a Praça Deodoro em sua completude e eu acredito que esse processo deve se perdurar por muito tempo ainda”, concluiu.

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