Exposição

Itaú Cultural abre exposição Geraldo de Barros - imaginário, construção e memória

A mostra reúne mais de 400 itens, expostos em três andares da organização, sendo a mais extensa sobre ele já exibida, permitindo ao visitante fazer uma leitura imersiva sobre a vida e obra deste artista.

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Retrato de Geraldo de Barros, feito por Bob Wolfenson em 1998
Retrato de Geraldo de Barros, feito por Bob Wolfenson em 1998 (geraldo barros)

São Paulo- Até dia 7 de novembro, o Itaú Cultural expõe mais de 400 itens da obra e vida do artista que dá nome à exposição Geraldo de Barros – imaginário, construção e memória. É a primeira vez que uma mostra apresenta o conjunto de sua obra, sem recortes específicos. Do fabuloso à abstração formal, passando por métodos e princípios construtivos entre analogias e cruzamentos de fases e técnicas, ela acompanha a criação e produção do artista em cinco décadas de trabalho. Uma linha temporal desvenda o processo criativo e coerente de uma vida de trabalho, cruzando as obras e materiais do ateliê com o arquivo pessoal do artista, entre fotos de família, cartas, citações e objetos.

No final do mês, o acesso virtual à exposição poderá ser feito com um vídeo em 360°, possibilitando a visita de todas as pessoas do país. Além disso, no Experiência Virtual e Ateliê Livre, com os educadores da organização, conversas, dinâmicas ou atividades interativas sobre os temas tratados por Geraldo de Barros ficam disponíveis também.

A curadoria compartilhada de Lorenzo Mammi e Michel Favre é complementar, mas separa-se nos diferentes andares do espaço expositivo do Itaú Cultural. Para eles, no conjunto, Geraldo de Barros – imaginário, construção e memória, permite ao visitante fazer uma leitura imersiva sobre a vida e obra deste artista, possibilitando compreender a coerência entre todas as fases em que atuou: gravura, fotografia, pintura concretista e pop, mobiliário, arte gráfica.

Os mais de 400 itens apresentados nesta mostra, a tornam a mais extensa sobre ele já exibida. Eles vão de obras em suportes variados e móveis a dezenas de documentos e material inédito de seu arquivo pessoal. Traz, ainda, quadros pouco vistos como Arizona – arte pop de mais de quase três metros por um e meio, feito em esmalte sobre offset a cores e papel colado sobre aglomerado, de 1975 – e Minister II, em esmalte e colagem sobre aglomerado, produzida no mesmo ano. Eles estão entre os trabalhos que o artista costumava oferecer de presente, bastando o interlocutor dizer que gostou, e dos quais se perdeu o rastro de muitos.

“Esta é uma exposição em que tentamos juntar a coerência das várias fases de Geraldo e mostrar como tem vida própria”, conta Mammi. “Vai das primeiras gravuras inspiradas em Paul Klee, as fotografias, as obras concretas e pop até as Sobras. Fios condutores vão mostrando que ele é mais complexo do que apenas um artista concreto ou um fotógrafo. Ele é completo, tem uma visão ampla e original”, conclui.

“A obra de Geraldo de Barros tem um vocabulário em que percebemos que com poucas letras, ele consegue contar muitas histórias”, observa Favre, que além de curador da mostra, cuida do rico arquivo do sogro, conservado em Genebra, na Suíça, ao lado da artista Fabiana de Barros, filha de Geraldo e sua mulher.

Nascido em Chavantes, no interior de São Paulo em 1923, muito jovem Geraldo de Barros mudou-se com a família para a capital, onde morreria em 1998. Começou a trabalhar aos 14 anos para sustentar os seus estudos e rapidamente seu faro se apurou para a pintura. A partir de 1945, passou a estudar desenho com Clóvis Graciano (1907-1988), Colette Pujol (1913-1999) e   Yoshiya Takaoka (1909-1978). Nunca mais parou.

Geraldo tornou-se fotógrafo, pintor, gravador, artista gráfico, designer de móveis e desenhista. Criou coletivos, como o Grupo Rex e Ruptura. Expoente da fotografia experimental, integrou o Foto Clube Bandeirantes (FCCB), principal núcleo da fotografia moderna brasileira. A sua trajetória perpassa várias formas de expressão visual e reivindica o papel social da arte.

Ainda, pode se ver imagens do artista, pertencentes ao acervo do Itaú Cultural e presentes na mostra on-line do Google Arts & Culture Fotografia Modernista Brasileira, realizada com um recorte desta coleção da instituição.

‍Espaço expositivo
Os pisos 1 e 1S, trazem a pesquisa e curadoria de Mammi. Ele se ocupou com o imaginário e a abstração formal em Geraldo e a investigação das constantes de seus métodos e princípios construtivos, que se repetem do começo ao fim de sua carreira. Por sua vez, Favre centralizou a linha curatorial no 2S, a partir do arquivo do artista, relacionando obras, documentos e outros materiais, que reconstroem e problematizam as diferentes etapas de sua poética.

No primeiro andar, Mammi apresenta os trabalhos do artista a partir das influências de Paul Klee, cuja produção descobriu em 1948, e dos artistas do Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro, que conheceu em 1949, graças ao crítico Mário Pedrosa e ao artista Almir Mavignier. A condução do trajeto, aqui, é por meio da fotografia, desde os experimentos juvenis até a produção tardia das Sobras, incluindo desenhos, gravuras e pinturas de suas diferentes fases.

Descendo para o primeiro subsolo, a referência é o design mobiliário, sob o signo de Max Bill, um dos mais importantes e influentes designers concretistas do século XX e do século atual, que o artista conheceu em 1951. Ao todo, a exposição apresenta 31 móveis desenhados por Geraldo para a cooperativa Unilabor e a Hobjeto, fundada por ele e Antônio Bioni em 1964.

Pela mão de Favre, o segundo subsolo procura retratar a carreira entrelaçada à vida de Geraldo de forma cronológica, mas não necessariamente linear. O intuito do curador, aqui, é oferecer uma visão panorâmica de sua produção, de modo a ressaltar as relações entre as práticas e as épocas da vida pessoal e artística dele. Diferente dos outros dois andares, em que citações de críticos como Mário Pedrosa e poetas como Augusto de Campos permeiam e alinhavam as obras, neste espaço é a própria voz do artista que se refere ao seu trabalho. Este material resulta de uma minuciosa seleção de documentos no arquivo pessoal de Geraldo. Deste mesmo lugar saiu a matéria prima para costurar esta linha temporal.

“Aqui tratamos de mostrar as diferentes fases de trabalho de Geraldo de forma linear, mas não como uma mera linha do tempo”, explica Favre. “Tem peças que permitem mostrar um pouco da personalidade dele além da obra, pois, pela primeira vez, apresentamos uma cronologia com dados importantes de sua produção, colocando, lado a lado, a origem da obra e elementos que participaram da sua criação, como um rascunho, um negativo ou projeto de desenho de móveis, e a própria obra completa.“

Assim, o espaço apresenta um cruzamento de trabalhos audiovisuais, fotos de família, cartas, material de ateliê, técnicas que o artista foi desenvolvendo, como negativos fotográficos e matrizes de gravuras de modo a demonstrar todas as suas fases e desvendar o processo de como trabalhava, explorava e criava.

“Desta maneira se percebe a experimentação, a procura de material e de técnicas, além de sua abertura de espírito nada dogmática”, continua o curador. “Passa dos negativos riscados ou furados apresentados nas fotos dos anos 50, até estudos de fórmica dos anos 80 e o processo da fabricação das Sobras, indo do negativo final ao que foi recortado e não entrou na foto, em um diálogo da construção dessas imagens.”

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