Volta da rotina

"A família deve ficar atenta à ansiedade e emoções do filho, seja criança ou adolescente"

Em conversa com O Estado, psicopedagoga orienta pais para a retomada da rotina de alunos, cuidados para que o retorno possa ocorrer de forma saudável e evitar quadros de ansiedade

Bárbara Lauria / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Kedma Gomes alerta para a necessidade de observar e acompanhar os filhos na mudança de rotina
Kedma Gomes alerta para a necessidade de observar e acompanhar os filhos na mudança de rotina (Kedma Gomes)

São Luís - Bianca Cristine Pereira, de 13 anos, passou o ano de 2020 e o primeiro semestre de 2021 alternando entre aulas presenciais e a distância, e com o aumento de casos da Covid-19 ainda no início deste ano, sua mãe, Ivana Maria Pereira, supervisora, optou por manter a filha apenas no ensino EaD enquanto a transmissão do vírus estivesse alta.

Contudo, com a conclusão do processo de vacinação contra a Covid-19 referente à primeira dose para profissionais ligados à educação básica e superior, as aulas presenciais nas redes pública e privada de ensino serão retomadas em agosto em todo o Brasil, e Bianca vai retornar para suas atividades presenciais.

“Quando os casos aumentaram optamos por manter as aulas à distância, mas agora, com o fim das férias e a diminuição dos casos, minha filha vai voltar para as aulas presenciais, além da natação, que também é na escola, e o reforço escolar, que será em casa e seguindo todos os cuidados de segurança. Apesar de ela ainda não ter tomado a vacina, eu já me sinto mais segura em mandar ela para escola, pois os professores e funcionários já estão imunizadas, então me sinto bem confiante. Além disso, conversamos muito com ela. Explicamos a importância de todos os cuidados e protocolos fora de casa”, relata Ivana Maria.

Assim como Bianca Pereira, outras crianças, tanto da rede particular, quanto da estadual e municipal, vão voltar a partir do início de agosto, gradativamente, às suas atividades. Para se preparar para o retorno da rotina, a psicóloga e especialista em psicopedagogia Kedma Gomes explica alguns pontos que os pais precisam estar atentos, para que esse retorno possa ocorrer de forma saudável, sem gerar ansiedades, estresse e problemas no desempenho dessas crianças e adolescentes.

Que tipos de adaptações pais e filhos precisam passar para se adequar à rotina das aulas?

Temos que considerar que os alunos que vão voltar às aulas presenciais, principalmente, deverão estar atentos a uma série de regras que antes eles não precisavam cumprir nas escolas, que são essas regras que já conhecemos, de biossegurança, como manter o distanciamento, uso e troca de máscaras, e outras regras que as escolas irão, com certeza, reforçar, e que os alunos devem seguir. E isso já precisa ser trabalhado antecipadamente pela família. Então, se a família já segue essas regras regularmente, provavelmente ele vai ter menos dificuldade de cumprir isso fora de casa. É preciso que a família tenha diálogo antes de mandar a criança de volta para a escola. A família também deve ficar atenta à ansiedade e emoções desse filho, seja criança ou adolescente, ao retorno para as atividades presenciais, considerar que essas aflições são reais, dialogar e até procurar ajuda e conversar com a escola.

No caso do sistema híbrido, é possível que essa alternância entre presencial e Ead possa atrapalhar o desempenho do EaD?

Estamos falando de pessoas, de sujeitos, e a gente não pode perder de vista que cada um responde de uma forma a realidade em que está vivendo, então, partindo desse ponto, vamos considerar também, de um modo geral, que somos seres sociáveis, e que por sermos seres sociáveis, os contatos sociais que as crianças e adolescentes estabelecem voltarão durante o presencial na escola. Isso pode prejudicar ou favorecer em alguns casos. Mas, volto a dizer, é preciso estar atento como cada um vai receber. Se uma escola, por exemplo, opta por fazer uma semana presencial e uma semana, os pais e responsáveis precisam observar como seus filhos estão recebendo essa rotina.

Para aqueles que optarem por manter o ensino a distância, quais são as orientações para os estudos manterem uma boa qualidade?

Para as crianças e adolescentes que vão manter o estudo remoto é importante ficar atento à manutenção de uma rotina, porque devemos considerar que o nosso cérebro está acostumado com as atividades do dia a dia. Acordar, tomar café, tomar banho, trocar de roupa, preparar o material para escola e sair para a escola. Então, uma vez que a criança aprendeu a fazer isso, durante as aulas presenciais, quando essas aulas passam a ser apenas em modo que o ambiente escolar agora é a própria casa, em casa que a criança vai estudar aquilo ali no seu quarto, ou na sua sala, ou em algum outro lugar onde tenha sido organizado ali o posto de trabalho de estudo dessa criança, é importante que ela passe a reconhecer esse ambiente também como ambiente próprio para isso. E por isso, é importante manter algumas dessas etapas dessa rotina anterior, ou então criar uma nova rotina de horário. Algumas escolas orientam que a criança vista a farda, então se assim for vestir a farda não vestir uma roupinha ali adequada confortável, organizar o material e organizar o ambiente de trabalho ou de estudo. É importante que a família crie esse ambiente de trabalho e estudo próprio para essa criança. Então, além de criar esse ambiente também é importante estipular prazos bem definidos. Aí vem a própria escola. Com relação às atividades e às tarefas escolares, o que a criança deve fazer, quando deve fazer quando deve enviar as atividades. Criar também ali um espaço de motivação. é importante que a própria escola, esteja atento a isso. A didática que o professor vai apresentar aquela disciplina. Que tipo de recursos o professor vai utilizar para apresentar o conteúdo. E aí nesse caso vale muito utilizar, por exemplo, jogos educativos jogos interativos ainda que a atividade remota para que essa criança e adolescente se sinta motivado em participar.

Para as crianças e adolescentes que vão manter o estudo remoto é importante ficar atento à manutenção de uma rotina, porque devemos considerar que o nosso cérebro está acostumado com as atividades do dia a dia”Kedma Gomes, psicóloga e especialista em psicopedagogia

Para muitas crianças e pais, a rotina de se organizar para ir até as escolas podem ser complicada e estressante e gerar atrasos. O que é indicado para ajudar ao aluno a manter uma rotina em conjunto com seus pais?

Basicamente estabelecer a rotina, mesmo se foi preciso utilizar algum recurso em que essa rotina possa ser descrita objetivamente, mais concreta, no cronograma. Colocar isso à disposição para que a criança visualize todos os dias e construir esse cronograma, descrever essa rotina em papel ou mesmo em um quadro de avisos. No quarto da criança, em algum lugar que seja fácil de visualizar todo tempo, seria um recurso interessante pois a criança ou adolescente vai estar participando dessa construção, desse quadro e vai visualizar sua rotina dividida em dias da semana e os horários que ele tem que cumprir. Não temos que ter cuidado temos que ponderar e direcionar a irresponsabilidade na dose adequada para cada criança adolescente. Agora também pode se esquecer de que esses pais precisam ser exemplo.

E durante esse período de pandemia, o distanciamento e a falta de interação com colegas de classe, pode ter influenciado negativamente no desempenho dos estudantes?

Sim, é possível que sim, porque sabemos que a escola é a primeira interação social depois da família. E, assim sendo, tem um papel fundamental na construção de autonomia, no desenvolvimento de uma rotina de horários, de cumprimento de regras, de interação com pessoas fora do convívio familiar, como, por exemplo, os colegas, os professores e funcionários. Então a escola tem esse papel fundamental na formação do indivíduo. E quando esse convívio é interrompido de uma forma brusca, é claro que isso gera consequências. Sabemos de pesquisas que foram feitas que falam que o distanciamento causou consequências psíquicas em todos os tipos de pessoas, inclusive crianças e adolescentes, porque ficaram sem poder exercer esse papel que é tão importante na vida de todos nós, que é o convício social.

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