São Paulo - Hoje é comemorado o dia de São João, data que no Nordeste do Brasil não é apenas uma comemoração religiosa, mas um grande evento cultural, inclusive, é feriado nas principais cidades da região. Há relatos que contam que essa comemoração começou com os indígenas, que faziam suas festas com danças e rituais para comemorar a colheita da mandioca (ou macaxeira, no norte e nordeste) e do milho.
Também eram comuns na Europa as festas da colheita, sendo assim, com a colonização portuguesa no Brasil, essas comemorações ditas pagãs ganharam um cunho religioso e passaram a ser realizadas em torno da igreja, com comidas feitas com ingredientes nativos, como a mandioca, o milho e o amendoim e técnicas vindas dos países europeus. Nestas festas, além das comidas, barracas de brincadeiras e danças eram organizadas a fim de arrecadar fundos para a igreja ou alguma obra de caridade financiada por ela.
Essa tradição das chamadas quermesses ainda acontece hoje em todo o País, mas as Festas Juninas e Julhinas tornaram-se eventos para reunir comida típica, músicas regionais e diversão. "Neste contexto contemporâneo, a Gastronomia é a atração principal das comemorações de São João, que saem dos limites da igreja e vão para outros ambientes", afirma o chef Maurício Lopes, especialista em cozinha brasileira. "Existem pratos que nós esperamos para comer nesta época", completa.
Mas em um país tão grande como o Brasil, cheio de peculiaridades, o que podemos chamar de pratos típicos de festas juninas? O chef explica que há uma tríade básica dessa época, composta por milho, mandioca (ou macaxeira) e amendoim. A partir daí, além das receitas tradicionais, que sofrem variações de acordo com a localidade ou mesmo a receita da família, não há limites para utilizar os ingredientes nativos.
O amendoim, por exemplo, pode ser o bolo pé-de-moleque nordestino, que nada mais é que um bolo feito com o grão. Pode simplesmente aparecer assado ou cozido na casca, muito comum no Nordeste, ou em forma de doces como paçoca, pé-de-moça e pé-de-moleque.
Já o milho, além de cozido, ele é tradicionalmente transformado em mingau. Mas enquanto no sudeste chamamos o prato de curau, no Nordeste e Norte do país ele é a canjica. Já a canjica do sudeste, para eles é o mungunzá. "Outra diferença além do nome, é que no Sudeste acrescentamos amendoim triturado ou paçoca", complementa o especialista. Há também a canjiquinha ou quirera - um prato feito com o milho de canjica amarelo quebrado e com uma proteína animal, que no Nordeste é muito comumente feito com galinha. Já pelas bandas de São Paulo e Minas Gerais, usa-se costelinha ou suã.
Ainda feita de milho, a pamonha é um clássico em qualquer lugar do país. Seja doce ou salgada, é feita da mesma forma. Em Goiás é muito comum preparar a versão salgada com queijo, porco ou pimenta.
Outro ingrediente nativo que ganha muitos nomes pelo país, é a mandioca, que também é macaxeira ou aipim. Principalmente no Nordeste, ela é consumida no café-da-manhã, cozida e servida com manteiga ou açúcar. Mas para a festa, pode-se assar na brasa ou fazer preparações como um tradicional bolo Mané Pelado - feito com o tubérculo ralado.
De herança portuguesa, há ainda o arroz doce - um mingau cremoso de arroz, que, a depender da receita da família, pode levar bastante canela ou raspas de laranja ou limão.
Os caldos são muito consumidos no Nordeste o ano todo, independente da estação. "Para eles, as sopas são comidas para reforçar o organismo, como o caldo da mulher parida, uma canja mais forte. Curioso que o Sul e Sudeste do Brasil são mais frios nessa época do ano, mas as sopas e caldos só passaram a ser mais frequentes por aqui quando apareceram em festivais de inverno de padarias e mercadões", comenta o chef.
Nas Festas Juninas do Sudeste encontramos ainda o pinhão e sanduíches, como o buraco quente, cachorro quente, pernil e carne-louca, que não são comuns mais ao norte e nordeste do país.
Como o Brasil enfrenta ainda a pandemia da Covid -19 e a recomendação é manter o distanciamento,, as festas juninas não vão acontecer pelo segundo ano consecutivo. Mas não é por isso que vamos deixar a data passar sem comemorarmos. Que tal preparar um bolo Mané Pelado para o lanche da tarde ou uma Canjiquinha para o jantar?
E não esqueçam do Quentão e do Vinho Quente, hein!
*Bolo Mané Pelado
Ingredientes:
200 gramas de mandioca limpa
150 gramas de açúcar refinado
50 gramas de manteiga sem sal
100 gramas de ovo branco
70 gramas de coco fresco ralado
60 ml de leite de coco
20 gramas de açúcar cristal
Manteiga para untar
Modo de preparo:
Pré-aqueça o forno a 170º C. Unte a forma com a manteiga e polvilhe o açúcar cristal. Rale a mandioca crua no ralo grosso. Misture todos os ingredientes, despeje a massa na assadeira e leve ao forno por cerca de 30 minutos até dourar.
*Canjiquinha com costelinha de porco
Ingredientes
150 gramas de canjiquinha (quirera) de milho amarelo
700 ml de água fria
300 gramas de costelinha de porco fresca
30 gramas de toucinho (bacon) defumado picado
15 ml de banha de porco
50 gramas de cebola
2 alhos roxos
125 gramas de tomate Débora
1 pimenta malagueta
Salsinha fresca
Cebolinha fresca
Sal
Modo de Preparo
Limpe, lave bem e escorra a canjiquinha. Reserve.
Em uma panela grande, coloque as costelinhas, o toucinho e o óleo. Leve ao fogo alto e frite, mexendo sempre, até as costelinhas ficarem bem douradas e sequinhas (se ainda não estiverem macias, junte água quente aos poucos, até completar o cozimento).
Retire do fogo, escorra a gordura e reserve a costelinha e o toucinho frito em local aquecido.
Leve a panela das costelinhas novamente ao fogo, junte a cebola picada, o alho esmagado e os tomates sem pele e sem sementes, cortados grosseiramente. Cozinhe mexendo sempre por cerca de 5 minutos.
Adicione a canjiquinha, a água quente e as costelinhas. Tampe a panela e cozinhe até que a canjiquinha esteja macia. Acrescente mais água, se necessário.
Ajuste o tempero com sal e a pimenta-malagueta picada finamente. Junte a salsinha e a cebolinha. Retire do fogo.
Coloque as costelinhas e o toucinho por cima e sirva.
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