Em 8 horas de depoimento, Terra diz que gabinete paralelo é "ficção"
Deputado federal do Rio Grande do Sul, defensor de dados como somente 800 mortos por coronavírus no Brasil e tempo reduzido da doença no país, disse que errou nos números e que é defensor da vacina e uso de máscaras
BRASÍLIA - Em depoimento de mais de oito horas de duração à CPI da Covid ontem, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) recorreu a diversas expressões para negar a existência de um “gabinete paralelo” que teria atuado à revelia do Ministério da Saúde durante a pandemia.
Terra chamou de “ficção”, “falácia” e “construção de narrativa” a hipótese de que houve um assessoramento alternativo, o chamado gabinete paralelo, trabalhando para o presidente da República.
O deputado, que se disse amigo do presidente Jair Bolsonaro, foi chamado a prestar depoimento sobre o envolvimento com o suposto núcleo de aconselhamento que teria indicado ao presidente medidas ineficazes para o combate ao coronavírus.
Desde o início da pandemia do coronavírus, Osmar Terra, que é médico, defendeu medidas ineficazes e fez previsões equivocadas sobre o impacto da doença. Ele previu 800 mortes por coronavírus e uma duração curta da doença – no último sábado, o Brasil ultrapassou a marca de 500 mil mortos.
Ao ser confrontado por suas projeções, o deputado admitiu que errou quando tratou de temas relativos à quantidade de vítimas, à segunda onda e à vacinação.
À CPI, Osmar Terra também se disse favorável à vacinação e ao uso de máscaras, e contou que ficou internado na UTI e teve 80% do pulmão comprometido após ter contraído a doença.
Osmar Terra afirmou ainda manter reuniões e participações “episódicas” em reuniões com o presidente a cada 15 dias ou uma vez por mês.
Sobre a pandemia, contou, Bolsonaro o ouviu “algumas vezes” e perguntou a ele "algumas coisas"
“De vez em quando eu falo com ele. Qual o problema? Se eu fosse tão influente assim, estaria em outra situação”, declarou Terra, que já foi ministro no governo Bolsonaro.
Terra, no entanto, disse não ter poder sobre as opiniões de Bolsonaro ou sobre as atitudes que ele toma.
“Ele ouve todo mundo, como todo mundo. O presidente da República não pode fazer isso? Ele pode, claro. Isso não significa que tem gabinete paralelo, que tem estruturas paralelas. Isso é uma falácia”, disse o deputado.
Senadores, no entanto, ressaltaram semelhanças entre o conteúdo e o momento das declarações feitas pelo presidente e as ideias expressadas por Terra em relação ao controle da pandemia, como a imunidade de rebanho
“Impressionante é o ventríloquo, que geralmente fala o que o deputado fala também”, ironizou o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), apelou ao deputado para exercer influência sobre Bolsonaro para que o presidente se vacine, a fim de dar exemplo
Reuniões no Planalto
Terra também foi questionado sobre a ligação com pessoas apontadas como integrantes de um gabinete de aconselhamento paralelo – o deputado negou manter relações e disse ter conhecido parte delas em encontros promovidos pelo presidente.
Com o virologista Paolo Zanotto, por exemplo, o deputado disse que falou com ele uma única vez durante um evento no Planalto – no encontro, registrado e divulgado pelas próprias redes do presidente, Zanotto propôs a criação de um “gabinete das sombras”.
“Foi a primeira e única vez que eu conversei com ele porque ele estava sentado do meu lado. Transformar isso num gabinete secreto, que vaza vídeos, é um absurdo, não tem sentido. Eu posso dizer que não existe esse gabinete, esse gabinete é uma ficção. Se assessores do presidente lhe dão alguma recomendação, algum conselho, isso é natural”, afimrou.
O deputado contou que também conheceu a médica Nise Yamaguchi durante evento na Presidência – e afirmou que “nem por telefone” conversa com ela. Yamaguchi foi apontada como uma das pessoas que defenderam a alteração da bula da cloroquina, remédio ineficaz contra a Covid.
Sobre Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro e filho do presidente, disse que nunca conversou com ele.
“Em um ano e pouco que fui ministro e, agora, com as relações que eu tenho, de amizade, com o presidente, eu nunca conversei com o Carlos Bolsonaro. Eu o cumprimento quando ele está no gabinete do presidente ou ia numa reunião de ministério, sentava lá atrás, eu o cumprimentava”, disse.
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