Artigo

A Palmeira do Babaçu - II

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Como e por que os franceses começaram a se interessar pelo babaçu?

Ernesto Pereira Carneiro era filho de um grande comerciante de Recife. No final do século XIX, seu pai o havia enviado para estudar na Europa a ponto de ter concluído seus estudos no Saint George College, uma das mais renomadas escolas de Londres. Tornou-se personalidade reconhecida na Inglaterra e na França onde frequentava a embaixada brasileira em Paris.

Durante a primeira Guerra Mundial, adquiriu a Companhia de Comercio e Navegação e seus navios desafiavam o bloqueio de submarinos alemães para transportar tecidos e alimentos para Inglaterra.

Através de Dunshee de Abranches, influente político maranhense, o Sr. Pereira Carneiro, que viria a se casar mais tarde com sua filha (Marina Dunshee Pereira Carneiro), tomou conhecimento das potencialidades da palmeira babaçu e, graças a ação do embaixador do Brasil na França, Sr. Luiz de Souza Dantas, fez chegar aos ouvidos dos franceses a existência dessa “exuberante palmeira”.

O Sr. Henry Charbonnel era engenheiro formado pela École Polytechnique de Paris. Após a conclusão de seu curso, foi trabalhar em Madagascar como oficial de artilharia colonial, na pacificação e na organização administrativa do local. Serviu a colônia durante nove anos, sob as ordens do grande marechal Gallieni, o salvador de Paris no final da primeira Guerra Mundial.

Importantes empreendimentos agrícolas e industriais haviam sido criados e desenvolvidos no Extremo Oriente, muitos deles tendo como base a exploração da “hevea”, originária do Brasil, para produção de borracha.

Nomeado Cavalheiro e Oficial da Legião de Honra, em recompensa pelos serviços prestados a seu país em Madagascar e durante a Guerra, o Sr. Henry Charbonnel retorna a Paris e lá conhece o Conde Pereira Carneiro, que almejava ver desenvolvidas as relações econômicas entre o Brasil e a França, manifestando o interesse em participar ativamente desse processo.

O Sr. Henry Charbonnel, à essa época, tinha conhecimento da existência do babaçu. Em 1914, em companhia de um de seus amigos, o piloto aviador Luiz Morel, empreendeu uma viagem ao norte do Brasil e sobrevoou, através de um hydro-avião, vastas áreas cobertas de babaçus. A partir daí, encantados com a imensidão das florestas ocupadas pela palmeira, dedicaram-se aos estudos objetivando o aproveitamento econômico de todos os subprodutos.

Tamanha era a sua empolgação que chegou a registrar a descoberta uma década após, em uma apresentação feita na Associação Comercial no Rio de Janeiro: “Diz-se senhores que quando um historiador começa a escrever a vida de uma das figuras femininas, que deve desempenhar um papel importante na obra, ele frequentemente enamora-se de seu modelo. Um fenômeno análogo produziu-se entre nós e o côco babaçu”.

O Sr. Henry Charbonnel, por insinuação do Sr. Conde Pereira Carneiro, foi o fundador da “Societé Financière Franco-Brésilenne”, com capital de 5 milhões de francos e destinada aos trabalhos de exploração da nova indústria, de tanto futuro na economia nacional.

Em seguida viabilizou o concurso técnico da “Societé de Chimiques Purs”, que lhe conferiu o direito exclusivo de utilizar no Brasil os seus processos de destilação e de recuperação de produtos em todo o nível de craqueamento.

Aí residia o grande salto para o desdobramento da cadeia produtiva. Até então os produtos utilizados eram o óleo e a torta como subproduto. As avaliações técnicas sucederam-se a ponto de serem identificados outros produtos mais nobres, como o carvão vegetal de alto poder calorífico e baixo índice de enxofre, que poderia ser utilizado nos altos fornos para produção de aços especiais, além dos destilados para as mais diversas aplicações.

Em 1928, convidado pelo Conde Pereira Carneiro, então presidente da Associação Comercial, veio ao Rio de Janeiro divulgar o empreendimento. Na oportunidade asseverou: “O “babassú” é uma mina. Felizmente o Sr. Magalhães de Almeida não criou nenhum embaraço fiscal à expansão econômica do estado que lhe coube governar. E o Maranhão ressurge contribuindo para o ressurgimento do Brasil.”

A história segue no próximo artigo.

José Jorge Leite Soares

Ex-deputado estadual, membro da Academia Pinheirense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

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