Risco a saúde

Farmacêuticos alertam para uso irregular de remédios sem receita

Apesar de os medicamentos isentos de prescrição serem considerados de menor risco, analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios podem levar a intoxicação

Bárbara Lauria / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16
Medicamentos sem prescrição tomados indiscriminadamente podem causar danos ao organismo
Medicamentos sem prescrição tomados indiscriminadamente podem causar danos ao organismo (medicamentos)

São Luís – De sintomas gripais a dores de cabeça, a população brasileira já está acostumada a se automedicar, no caso de sintomas leves, com medicamentos isentos de prescrição (MIP). Uma pesquisa do Conselho Federal de Farmácia apontou, inclusive, que em 2019, 77% dos brasileiros se automedicavam sem passar pela orientação de médicos ou profissionais de saúde. Contudo, o Conselho Regional de Farmácia (CRF) alerta para o uso irregular dessas substâncias, que podem trazer riscos para a saúde.

“O uso de remédios para problemas de saúde considerados simples é visto, por grande parte da população, como uma solução imediata para aliviar sintomas os leves, as dores ou o mal-estar momentâneo. Os efeitos das substâncias presentes nos fármacos têm sido subestimados e a automedicação é, hoje, uma prática comum entre os brasileiros, que, se feita incorretamente, pode causar graves danos ao organismo”, explica o farmacêutico Adriano dos Anjos Costa.

Com a pandemia da Covid-19, o uso de MPI aumentou no Brasil de forma significativa, seja para tratar sintomas gripais, para a prevenção do vírus ou de outras enfermidades que podem fragilizar a saúde. O farmacêutico Jouberth Ferreira conta que, atualmente, polivitamínicos, remédios para dor e para sintomas de gripe passaram a ter maior saída nas farmácias. “As pessoas estão mais preocupadas agora em se prevenir contra o vírus, então temos visto mais saída dos remédios para sintomas gripais. Mas, temos sempre o cuidado de orientar quem vem aqui, porque nem todos vem com receita ou orientações médicas. Vimos um aumento de pessoas sem prescrições”, relatou.

Intoxicação
Segundo os dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os medicamentos são o maior fator de intoxicação/envenenamento, respondendo por 40,10% dos 39.521 casos ocorridos no Brasil em 2020. A médica da família, Rosana Castello Branco, explica que o uso de medicações sem saber a dose certa e o tempo adequado de uso para cada paciente, é um dos agravantes nos casos de intoxicação medicamentosa.

“O paciente nem sempre sabe que tipo de medicamento pode tomar. Ás vezes, um remédio pode causar alergias, ou ter reações com outros remédios que o paciente já toma, o que é muito comum no caso de idosos. O uso de doses inapropriadas também tem causado diversas intoxicações, pois os pacientes acabam usando uma dose maior do que a necessária e por muito tempo” explica a médica, que ainda ressalta que o uso inadequado de substâncias pode levar a hospitalização. “Esse abuso dos medicamentos podem causar outras consequências graves, como a carga renal e gastrites medicamentosas, o que pode fazer o paciente parar até mesmo na UTI”.

A médica ainda alertou para o caso do uso de polivitamínicos, um dos produtos que mais teve aumento de consumo nas farmácias, que em caso de superdoses podem causar problemas de saúde que vão desde a constipação até mudança da cor da pele e quedas de cabelo. “Temos de entender que apesar de querermos nos prevenir, precisamos saber, antes, quais as necessidades do nosso organismo e o que ele precisa, e só um profissional indicado deve dar essa orientação”, ressalta Rosana Castello.

A Anvisa destaca que os medicamentos que mais causam intoxicação são os analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios. De acordo os dados do Conselho Federal de Farmácia, 25% da população compra remédios com base na indicação de familiares e amigos, contudo, o ideal é que a orientação seja de profissionais de saúde, como explica a presidente do Conselho Regional de Farmácia do Maranhão (CRF-MA), Gizelli Coutinho.

“É importante que a população seja orientada a comprar seus medicamentos em um estabelecimento farmacêutico legalizado, e comprometido com a prestação de serviços destinada à assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva, na qual se processe a manipulação e/ou dispensação de medicamentos magistrais, oficinais, farmacopeicos ou industrializados, cosméticos, insumos farmacêuticos, produtos farmacêuticos e correlatos”.

Calmantes
O farmacêutico Jouberth Ferreira também destacou que durante a pandemia da Covid-19 o uso de medicamentos fitoterápicos, para o controle da ansiedade, teve aumento, mesmo sem prescrições médicas. Apesar de medicamentos fitoterápicos serem considerados mais saudáveis, por serem naturais, a médica Rosana Castello lembra que eles, ainda sim, possuem substâncias químicas e que o seu abuso pode resultar em transtornos.

“Muitos acreditam que, por serem produtos naturais, não há problemas em fazer o uso, mas, assim como outros medicamentos, os remédios fitoterápicos podem causar tanto transtornos psíquicos, por serem usados para a ansiedade, como intoxicações e insuficiências renais. Até o chá, que achamos ser inocente, não deve ser consumido sem orientação”, explicou.

SAIBA MAIS

Medicamentos mais consumidos

De acordo com o Conselho Federal de Farmácia, no Brasil, os medicamentos isentos de prescrição mais consumidos são:

  • Analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios (50%)
  • Relaxante muscular (24%)
  • Anti-inflamatórios, corticoides e corticosteroides (21%)
  • Antialérgicos (16%)
  • Vitaminas e minerais, suplementos vitamínicos (15%)
  • Calmantes, ansiolíticos, antidepressivos (12%)

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