Enfrentamento

365 dias contra a Covid-19: a luta de profissionais de saúde e pacientes

Hospital São Luís (HSLZ) já salvou milhares de vidas de servidores estaduais nesta pandemia

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Médico intensivista Rafael Matos Hortegal
Médico intensivista Rafael Matos Hortegal

São Luís - O mês de março de 2020 ficou marcado na história pessoal e profissional de todos os trabalhadores da área da saúde e administradores hospitalares que, de repente, passaram a vivenciar a maior e mais desafiadora experiência profissional que já tiveram até então, salvar vidas em meio à pandemia da Covid-19.

Para o time do Hospital São Luís, mais conhecido como HSLZ ou Hospital dos Servidores, não foi diferente. E, há exatos 365 dias a luta tem sido intensa, repleta de inseguranças, medos pessoais e profissionais além de emocionantes vitórias a cada paciente que é devolvido para seus familiares após o tratamento na unidade hospitalar.

“Nesse período, a gente está aprendendo muitas coisas novas, precisando rever conceitos, práticas e tratamentos. Está sendo muito pesado e a carga horária tem sido mais que dobrada para todos nós que trabalhamos na fonoaudiologia hospitalar. Os plantões têm sido extremamente longos, e o mais complicado de tudo é olhar os pacientes que chegam à UTI e que precisam ser entubados, e não sabermos se ele ou ela vai voltar um dia para a sua família. Isso mexe muito com o emocional de todos nós profissionais. É impossível ficarmos neutros; seguimos refletindo sobre tudo isso que está acontecendo e sem ver uma luz no fim do túnel, parece que estamos trabalhando no escuro, testando procedimentos sem nenhuma certeza científica absoluta. Mas se há uma certeza, é a de que estamos dando o máximo de nós enquanto profissionais da linha de frente, para tentarmos preservar o máximo de vidas que conseguimos”, aponta Cíntia Seipel, coordenadora do Serviço de Fonoaudiologia do HSLZ.

Fernanda Valéria Dutra, fisioterapeuta intensivista
Fernanda Valéria Dutra, fisioterapeuta intensivista

“O que a gente tem vivido aqui é realmente um cenário de guerra, contra um monstro invisível. A gente tem desgaste físico e emocional diariamente, não é fácil sair de casa e deixar nossas famílias, e nem é fácil chegar para cuidar dos pacientes pois sabemos que ali está o amor de alguém e é muito difícil lidar com tantas mortes”, desabafa a isioterapeuta intensivista Fernanda Valéria Maciel Dutra.

O sentimento de impotência e medo de uma doença tão traiçoeira, como é a Covid-19, é geral entre os profissionais da linha de frente. “Ainda estamos no olho do furacão, mas prometemos não desistir e nem recuar mesmo estando exaustos, tentando amargamente aprender a lidar com essa maratona, e quebrando a cabeça para tentar entender o que está acontecendo com o paciente dia a dia nessa luta pela vida. E tentando lidar com o vazio que surge a cada óbito. Só piora sabermos que a qualquer momento os papéis podem se inverter, e o colega que estava hoje na linha frente com você pode ser seu paciente amanhã”, confessa Daiane Amorim, fisioterapeuta intensivista do HSLZ, que está há um ano na linha de frente contra a doença.

Para o médico intensivista Rafael Matos Hortegal, cada extubação de um paciente é mais que um procedimento bem sucedido, é uma vitória da medicina. “O paciente que chega para nós como um desconhecido, se torna um ente querido ao longo do tratamento, que nem sempre é fácil e, na maioria das vezes, é longo e complicado. Cada paciente extubado e que conseguimos devolver para sua família é mais que uma vitória, é um incentivo a nossa luta e um troféu para todos os colegas envolvidos” disse.

Mais que números ou estatísticas, cada alta realizada no Hospital São Luís é um sinal de Deus e de que vale a pena tantos esforços empenhados por todos. Há um ano o volume de atendimentos e internações no HSLZ têm sido bem acima da média.

Para o diretor Geral Plínio Valério Tuzzolo, seguir motivando toda a sua equipe multidisciplinar é fundamental e mais que merecido. Ele lembra que o grupo do HSLZ que está à frente do atendimento aos pacientes de Covid-19 foi merecidamente homenageado com uma placa solene colocada na sede da unidade, pela diretoria e pelo Grupo Mercúrio, controlador do hospital.

[e-s001] “Todos estão dando o máximo de si, muito além do profissionalismo normal. Digo que são todos grandes heróis, mesmo. Bravos e corajosos profissionais que, do maqueiro, servente ao médico, estão salvando vidas e colaborando para devolvermos às famílias os seus amores, nas melhores condições possíveis. Não tem sido fácil, mas sei que estamos fazendo história juntos”, frisou o diretor.

Curado
O pastor evangélico Nelson Roberto Silva Abreu, de 48 anos faz parte da feliz estatística de curados do HSLZ. Casado com a técnica em administração Vanessa Abreu, de 34 anos, e pai de Davi Augusto, de 5 anos, e Miguel Nagai, de apenas 1 ano e 8 meses, ele sentiu medo de não voltar a ver sua família.

Ele que é policial militar da reserva e pastor da Primeira Igreja Batista de São Luís no Centro, sentiu os primeiros sintomas da Covid-19, em 30 de janeiro deste ano. Como a doença avançou rápido, Nélson Abreu precisou se internar no décimo dia, e depois na UTI do HSLZ.

[e-s001] “No início, não tive medo, só fiquei preocupado em transmitir o vírus para minha esposa e filhos. Senti dor de cabeça, tive febre e tosse, falta de olfato e paladar e pensei que ia ficar bom logo. Fiquei dez dias em casa, mas depois o quadro complicou, e precisei internar no Hospital dos Servidores/HSLZ. Fiquei 21 dias no hospital, sendo 17 na enfermaria e depois na Unidade de Terapia Intensiva. A doença foi se agravando e passei quatro dias internado na UTI. Fiquei com 80% dos pulmões comprometidos e muita falta de ar, devido a saturação baixíssima, mesmo com 15 litros de oxigênio e na posição de bruços, era muito difícil respirar. Continuei tendo tosse, diarreia, dor de cabeça, febre além de muita ansiedade, medo e saudades da família. Um mix de emoções e sentimentos tristes”, contou.

O pastor continuou. “Tive muito medo de morrer quando precisei ir para a UTI, mas não cheguei a ser entubado. Deus me deu uma dose exagerada de cuidados, generosidade e carinho através da equipe multidisciplinar do HSLZ – graças a todos eles fiquei curado. O médico Samuel Gregório e sua equipe de médicos, enfermeiras, técnicas de enfermagem, fisioterapeutas, maqueiros, nutrição, todos foram de uma perícia e competência fora do comum. Meu tratamento foi um sucesso”, lembrou, em seus 31 dias de grandes provações.

Para aqueles que ainda estão internados no HSLZ lutando pela vida, o pastor Nélson deixa uma mensagem de fé e esperança. “Tenham paciência, perseverança e, acima de tudo, fé em Deu, pois o tratamento funciona e a instituição HSLZ é excepcional. Eu já estive nesta situação e venci, graças a Deus Todo Poderoso! A todos os profissionais desse hospital, deixo minha gigantesca gratidão e o reconhecimento público pelo profissionalismo, carinho, respeito, generosidade e humanidade com que fui tratado por todos. Sei que o Senhor Jesus os instrumentalizou como verdadeiros anjos, que me devolveram à minha família, à minha Igreja e para a minha comunidade. Gratidão, sempre!” disse o paciente curado e ainda mais fortalecido pela fé em Deus e na medicina.

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