Opinião

A Ford no Maranhão

Benedito Buzar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Família de Nhozinho Santos, visto sentado.
Família de Nhozinho Santos, visto sentado.

Em janeiro deste ano, a Ford, depois de mais de um século no mercado automobilístico do Brasil, anunciou o encerramento de suas atividades e o fechamento de suas fábricas em Camaçari, (Bahia), em Taubaté (São Paulo) e Horizonte (Ceará).

A empresa informou também que com a paralisação de suas ações seriam dispensados mais de seis mil funcionários, mas que não deixará de vender carros no Brasil, mas com os produzidos na Argentina e no Uruguai.

A montadora esclareceu ainda que deixará o Brasil por causa da pandemia que assola o país e fez ampliar a capacidade ociosa da empresa e a redução de vendas.

Anúncio de 1917 do primeiro revendedor da Ford em São Luís.
Anúncio de 1917 do primeiro revendedor da Ford em São Luís.

O automóvel no Maranhão

O advogado Fernando Silva, recentemente falecido, escreveu um livro interessante, publicado em 2011, Intitulado “Primórdios do Automóvel no Maranhão”.

Na condição de apreciador e colecionador de automóveis que marcaram época em São Luís, reportou-se aos primeiros veículos com motor a explosão, a gasolina, que circularam na capital maranhenses e os nomes dos proprietários.

Segundo informações do autor do livro, o primeiro automóvel trazido para São Luís ocorreu em novembro de 1905, importado da Inglaterra pelas mãos do comerciante e industrial Joaquim Moreira Alves dos Santos, mais conhecido por Nhozinho Santos.

Era um veículo de cor vinho, marca Speedwell, de 16 HP, sem capota e para-brisa e chegou embalado em duas caixas de madeira. Uma, acondicionava a carroceria, a outra o chassi com os componentes mecânicos.

Depois de descarregado do navio, foi conduzido pelo próprio Nozinho Santos, a única pessoa com habilitação para dirigi-lo, levando-o da Praia Grande à Praça João Lisboa, para ser conhecido e apreciado pela população.

Nhozinho Santos

Nhozinho Santos, nasceu em São Luís a 6 de junho 1884, filho da maranhense Ana Joana Moreira dos Santos e do rico português Crispim Alves dos Santos, comerciante e industrial. Estudou em Portugal, França e Inglaterra. Em Liverpool, formou-se em engenharia têxtil.

Ao voltar à terra natal, por gostar de futebol, fundou o Fabril Atlético Clube. Os últimos anos de sua vida foram no Rio de Janeiro, onde faleceu em 16 de fevereiro de 1951.

Em reconhecimento ao que fez pelo futebol maranhense, o vereador Walter Bessa apresentou o projeto e o prefeito Wilson Rebelo sancionou a lei, denominando de Nhozinho Santos o estádio construído pela municipalidade em São Luís.

A Ford no Maranhão

De acordo com Fernando Silva, em 1917, a casa comercial Santos, Sobrinhos & Cia., da qual Nhozinho Santos era sócio, foi a primeira a ser agente da Ford no Maranhão, “oferecendo automóveis ao preço de 2:000$000 Fob-New York-USA”.

O segundo agente da Ford foi a firma A. Lobo & Cia, que conforme registro no Diário Oficial do Estado, de 16 de agosto de 1927, dizia que “ Realizou-se ontem às 15 horas, com regular assistência, a inauguração do novo edifício da Agência Ford, nos confortáveis baixos do palacete do capitalista Salim Duailibe, à rua Nina Rodrigues, 45, da qual é representante o ilustre cavalheiro Arquiminio Lobo, sócio da firma A. Lobo & Cia. Oficiou a cerimônia o reverendo cônego João dos Santos Chaves e saudou os convidados o Dr. Ribamar Pereira”.

Depois da Ford

Após a ousada iniciativa de Nhozinho Santos, o mercado maranhense conheceu outras marcas de veículos. Com base no livro já citado, em 1919, a firma J.A. Bastos & Filhos, passou a importar de Ohio, nos Estados Unidos, veículos da renomada fábrica Willys-Overland, e em 1924, Pinheiro Gomes & Cia. foram nomeados agentes para o Maranhão e Piauí, fabricantes de automóveis Rugby.

Em junho de 1927, a Casa AutoVictor, nome fantasia da firma J.Aguiar & Cia, tendo como sócios Jacinto Coelho de Aguiar e Manuel Maia Ramos, estabelecida na Praça João Lisboa nº 18, comunicava a sua nomeação como agente-distribuidor dos produtos da General Motors, (automóveis Cadillac, Buick, Oakland, Oldsmobile, Pontiac e caminhões Chevrolet).

Caminhão em Itapecuru

No livro “O Itapecuru de Zuzu Nahuz”, organizado por este colunista, o jornalista itapecuruense, na crônica “O primeiro caminhão”, escreveu: “Em 24 de agosto de 1928, a barca Caxiense, rebocada pelo vapor Rui Barbosa, levou para Itapecuru o primeiro caminhão que a minha terra possuiu.

“Era um Ford de cor azul, propriedade de meu pai (Sadick Nahuz), que comprou na firma AutoVictor, em São Luís, no valor de 12 mil contos de réis.

“Aproximava-se o crepúsculo quando a barca atracou na rampa do velho Manoel Cobra. Que luta e quanto obstáculo para os estivadores arrancarem o veículo da embarcação”.

Depois de Sadick Nahuz, já na metade do século passado, as firmas dos comerciantes libaneses João Buzar e os irmãos Wady e Miguel Fiquene, compraram e trouxeram para Itapecuru os caminhões das marcas Chevrolet, Ford e GMC, para transportarem a São Luís os produtos agrícolas, arroz, algodão, milho e babaçu. No retorno às origens, traziam tecidos, ferragens, miudezas, secos e molhados.

Em cima dessas cargas, os caminhões ainda conduziam passageiros, que costumavam viajar em vapores, lanchas e trens. Pelas estradas de rodagem, que começavam a ser abertas no Maranhão, mesmo não sendo asfaltadas e sujeitas aos desconfortos decorrentes das chuvas no inverno e da poeira no verão, os passageiros optavam pelo transporte rodoviário por ser mais rápido e mais barato.

Eu e meus irmãos, estudantes em São Luís, não foram poucas as vezes que viajávamos nas carrocerias de caminhões, sentados em sacos de produtos agrícolas e protegidos no inverno pelos pesados encerados de lonas.

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