Entrevista - professor Carlos Brito

"Nanossatélite colocará o Maranhão em outro patamar de tecnologia espacial"

Satélite colocará o estado em outro estágio, quando o assunto é produção de conhecimento, principalmente no âmbito espacial. Satélite deve ir à orbita no próximo ano

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Carlos Brito é Doutor em Engenharia Aeronáutica e Mecânica
Carlos Brito é Doutor em Engenharia Aeronáutica e Mecânica (Carlos Brito engenheiro)

São Luís - Doutor em Engenharia Aeronáutica e Mecânica, o professor Carlos Brito afirma que a consolidação do projeto de nanossatélite colocará o Maranhão em outro estágio, quando o assunto é produção de conhecimento, principalmente no âmbito espacial. Satélite deve ir à orbita no próximo ano.

Para o pesquisador, além de auxílio para a navegação, com o “Cube” maranhense será possível coletar dados da ionosfera para modelagem computacional, a fim de verificar um padrão nas comunicações terrestres.

Quando o projeto começou?
Em fevereiro de 2020, na condição de coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial da UFMA [Universidade Federal do Maranhão], fui convidado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) para participar de um encontro das coordenações dos cursos de Engenharia Aeroespacial do Brasil. Na oportunidade conversamos com o presidente da AEB, Carlos Moura e sua equipe sobre os desafios para qualificação de alunos deste curso. No final desse encontro, a AEB se comprometeu com diversas ações para apoiar os nossos cursos, entre essas ações, o financiamento de um CubeSat para as Instituições que ainda não tinham projetado o seu. E, nesse caso, somente três universidades que têm o curso de Engenharia Aeroespacial não tinham ainda desenvolvido esse tipo de satélite, ou seja, a UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais], UFABC [Universidade Federal do ABC] e a UFMA [Universidade Federal do Maranhão]. Assim, retornei para São Luís com a perspectiva de conseguir este recurso mediante apresentação de um projeto para a AEB [Agência Espacial Brasileira]. Tínhamos pouco tempo, então formei uma equipe com professores e alunos para participar do projeto do primeiro satélite do Maranhão. Escrevi o projeto básico e o plano de trabalho que foram avaliados e aprovados para somente então, sermos contemplados com o fomento da AEB. Assim, em outubro de 2020 iniciou-se oficialmente o projeto.

Qual o custo do projeto? Todo ele com recursos federais?
Sim, o recurso é totalmente Federal. Recebemos meio milhão de reais por meio do termo de execução descentralizada (TED) assinado entre o presidente da AEB e o reitor da UFMA, Prof. Dr. Natalino Salgado que prontamente têm nos apoiado desde o começo da submissão deste projeto.

Quais os benefícios do nanosatélite?
Satélites são muito caros (na ordem de centenas de milhões de reais) pois demandam componentes tecnológicos específicos para o espaço, alto custo de lançamento devido ao seu peso, além de requerer recursos humanos altamente especializados para a sua execução. Neste aspecto, o nanossatélite vai na contramão de um satélite convencional, pois é de construção relativamente fácil, feito com componentes mais acessíveis comercialmente, bem mais leve, e, devido ao seu tamanho menor pode ser lançado com baixo custo. Esse é o benefício econômico, porém, um nanossatélite pode ser projetado para missões que antes somente um satélite de grande porte poderia fazer. E isso possibilitou o surgimento de um mercado novo, caracterizando-se como um dos principais artefatos tecnológicos que proporcionam diversos serviços para a sociedade. É o movimento ou era do New Space, onde as tecnologias espaciais se democratizaram para grandes e pequenas empresas. Não que deixaremos de precisar dos grandes satélites, longe disso, pois ainda há tarefas que somente eles podem realizar. Porém, para as demais possibilidades existem os nanossatélites. Agricultura de precisão, monitoramento de desastres naturais, planejamento urbano, sensoriamento remoto, vigilância de fronteiras, são somente alguns exemplos de aplicação de nanossatélites. O nosso CubeSat tem como missão uma prova de conceito para salvamento de náufragos na região costeira do Maranhão, além de coletar dados da ionosfera para modelagem computacional a fim de verificar um possível padrão de interferência nas comunicações terrestres.

É o primeiro projeto espacial deste gênero no Maranhão?
Sim. Desconheço outro projeto parecido no Estado. E apesar de ser uma plataforma acadêmica com o objetivo de qualificar nossos alunos e professores, pretendemos lançar e colocar em órbita este CubeSat para executar sua missão.

Existe um plano para complemento deste projeto do nano? Criação de outros dispositivos?
A ideia é que conseguindo tirar a prova-conceito deste primeiro CubeSat podemos buscar mais investimentos para construção de uma constelação de Cube
Sats e assim, começar a gerar um mercado aqui no Maranhão. Temos muito trabalho ainda antes disso, mas esse é o ideal que vislumbramos para o nosso Estado, pois há toda uma cadeia de serviços que podem ser gerados a partir dessa constelação. O que no final, são investimentos que devem retornar para a sociedade na forma de geração de empregos e recursos provenientes dos impostos desses serviços.

Há algum acordo pré-estabelecido com Alcântara para lançamento do dispositivo?
Temos expectativa de conseguir um lançamento em Alcântara. Caberá o andamento das tratativas da AEB com as empresas especializadas para que isso se realize, o que, até o momento, tem sido bem animador.

Qual a estimativa de término ou conclusão dos trabalhos?
Em nosso cronograma devemos concluir o CubeSat, com todos os testes necessários feitos no INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para a sua homologação em março de 2022.

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