Mudanças

Jardim será construído no lugar de abrigo demolido

Área ocupada pelo abrigo da Praça João Lisboa, segundo o Impur, receberá novo projeto paisagístico para embelezar mais a região

Evandro Júnior / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Abrigo foi demolido e espaço voltará a ser jardim público do passado
Abrigo foi demolido e espaço voltará a ser jardim público do passado (antigo abrigo)

São Luís - O jardim público que existia, originalmente, onde estava erguido o abrigo da Praça João Lisboa, no Centro Histórico de São Luís, será reconstruído pela Prefeitura de São Luís. A reconstrução se dará, também, porque o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Maranhão (Iphan/MA) sugeriu que nenhuma outra edificação seja erguida no local, garantindo o restabelecimento do visual original do conjunto arquitetônico e paisagístico da região. O abrigo foi demolido no último sábado, 17 e as pessoas que trabalhavam no local serão indenizadas e receberão apoio para recolocação de seus comércios em outras áreas.

“A área ocupada pelo abrigo receberá novo projeto paisagístico para embelezar ainda mais a região. O jardim será feito com piso em pedra portuguesa e no seu entorno serão instalados bancos de ferro fundidos com madeira. Será um lugar sombreado, pois plantaremos árvores no espaço. Será uma área voltada para a contemplação, leitura e descanso, como era na sua configuração original”, disse Fábio Henrique Carvalho, presidente do Instituto Municipal da Paisagem Urbana (Impur), órgão ligado à Prefeitura de São Luís e responsável pelas obras.

A edificação da década de 1950, com boxes e área de banheiros, estava com problemas estruturais graves. O grau de comprometimento da estrutura, que ameaçava ruir, foi demonstrado por meio de laudos técnicos e sua demolição autorizada pelo Iphan. No local, a Prefeitura executa, por meio do programa São Luís em Obras, reforma estrutural de todo o conjunto formado ainda pela Praça João Lisboa, Rua de Nazaré e entorno. O objetivo é de recuperar as características arquitetônicas originais dos logradouros históricos.

A demolição do abrigo, no entanto, divide opiniões nas redes sociais. Para uns, do ponto de vista arquitetônico, a área ganhará em visibilidade. Para outros, o abrigo não poderia ter sido eliminado ou em seu lugar poderia ter sido construída outra estrutura semelhante, haja vista o valor sentimental adquirido, ao longo dos anos, por quem costumava frequentá-lo, diariamente.

Em um post em sua página em uma rede social, o cineasta Joaquim Haickel, teceu alguns comentários favoráveis à demolição. “A Prefeitura demonstrou bom senso, correção e até mesmo coragem, pois algumas pessoas não concordavam com tal ação, que foi aprovada pela retumbante maioria das pessoas que se manifestaram sobre esse assunto nos jornais e nas redes sociais”, disse Haickel.

O cineasta ainda escreveu que “motivos meramente sentimentais não podem e não devem suplantar motivos funcionais e utilitários, no que diz respeito a um equipamento comunitário tão importante como uma praça”. “Imaginem quão ridículo e absurdo seria a municipalidade de Paris colocar um abrigo bem ao lado do Arco do Triunfo!?”, comparou.

Por outro lado, internautas que nutriam certo carinho pela estrutura se mostraram contrários a demolição. “Jesus!! Acabou a minha memória afetiva. Quando criança, ia todas as noites, tomar abacatada com bolo. A priori, temos o impacto. Retornar às veredas antigas é sempre muito bom. Poderia voltar os bondes.”, escreveu Rosane Campelo.

Zé Francisco Pereira completou. “Fico com saudades do velho abrigo, mas...a Praça ficará mais bonita sem ele”. O imóvel não possuía tombamento individual, mas estava inserido no Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça João Francisco Lisboa e Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico da cidade de São Luís, ambos tombados pelo Governo Federal.

Constatação
De acordo com o superintendente do Iphan no Maranhão, Maurício Itapary, havia previsão de reforma do abrigo, mas com o avanço das obras de reabilitação da praça e do Largo do Carmo, e a consequente necessidade de execução dos serviços de recuperação daquela edificação, a empresa Ducol Engenharia Ltda. constatou um alto grau de deterioração dos seus componentes estruturais e que o projeto inicialmente proposto para recuperação da edificação necessitava de readequação.

“Neste sentido, o Instituto Municipal da Paisagem Urbana protocolizou nesta Superintendência do Iphan no Maranhão, no mês de junho do corrente ano, diversos laudos de vistoria visual e registros fotográficos da edificação que atestam as patologias na estrutura de concreto armado, que são visualmente identificáveis, tais como a presença de fissuras, trincas, infiltrações, desplacamento do concreto, elementos sem capacidade de suportar as cargas impostas, erros construtivos, mobilizações do solo (recalque), dentre outras”, informou Maurício Itapary.

Nos laudos de vistoria visual apresentados, de acordo com o superintendente, o requerente informava sobre a impossibilidade de recuperação estrutural da edificação e solicitava sua demolição. Entretanto, não apresentava dados técnicos consubstanciados que justificassem tal tomada de decisão.

“Por se tratar de um imóvel que compõe um conjunto tombado, a função de avaliar a pertinência de sua demolição nunca é função simples e nem pode ser conduzida sem zelo e atenção. Mesmo com laudos e apontamentos efetuados, é importante exaurir as possibilidades razoáveis para resguardar a edificação. Os laudos de vistoria visual apresentados eram apenas indicativos e não conclusivos, sendo necessária a realização de ensaios e testes mais aprofundados na estrutura do imóvel. Neste sentido, naquele momento nos manifestamos contrários à demolição da edificação, visto que os laudos visuais apresentados não esgotavam tecnicamente a possibilidade de intervenção objetivando a recuperação por completo da edificação”, explicou Maurício Itapary.

Os ensaios e testes efetuados posteriormente detalharam a péssima situação em que se encontravam os elementos construtivos da edificação, demonstravam as perdas causadas pela falta de manutenção ao longo do tempo, a corrosão da armadura de aço, o desprendimento das alvenarias, a deterioração da marquise, a interferência da ação do solo sobre a edificação, ocasionando recalques em sua fundação, caracterizando todos estes itens como situações críticas, altamente desfavoráveis à manutenção do objeto em tela.

Maurício Itapary frisou que para uma estrutura alcançar um nível satisfatório de durabilidade, sem manifestações patológicas graves, é de suma importância a devida manutenção preventiva e/ou corretiva de toda e qualquer obra de construção civil, visando antecipar colapsos e prejuízos maiores, sejam eles de qualquer espécie.

“As manutenções preventivas são muito importantes à medida que a edificação vai ficando mais velha. A garantia de maior vida útil e de satisfatório desempenho estrutural e funcional só poderá ser obtida através de uma manutenção adequada, a qual deverá fazer parte de uma gestão eficiente, pois os inconvenientes resultantes da inexistência de atividades de manutenção preventivas e periódicas tornam-se mais frequentes e ameaçam o sentimento de segurança de seus usuários”, concluiu.

SAIBA MAIS

Edificações
Ao longo da primeira metade do século XX, a sedução pelo novo e moderno fez com que a cidade fosse objeto de transformações urbanas comandadas, em sua maioria, pelo poder público. Havia o desejo de transformar São Luís em uma cidade moderna. Para isso, era necessário remodelar seu tecido urbano e incentivar as construções modernas, como uma tentativa de renovar a fisionomia da cidade. Foi nesse contexto que duas edificações foram erguidas na década de 1950 do séc. XX na Praça João Lisboa e Largo do Carmo.

Uma serviu durante muitos anos como ponto de parada do bonde para deixar e receber seus passageiros, tendo sido demolida após o ano de 1966, com a extinção das linhas de bonde na cidade de São Luís. A outra, popularmente conhecida como “abrigo”, consistia em uma edificação em concreto armado e de volume denso. Era composta de cinco blocos, onde cada bloco era seccionado ao meio, gerando dez boxes que exerciam atividades de produção e venda de alimentos. Intercalados a estes, e localizados na região mais central do imóvel, havia mais dois blocos de tamanho menor, com a função de banheiros públicos, masculino e feminino.

A edificação encontrava-se sem uso, em virtude das obras de restauração e requalificação que estão sendo empreendidas pela Prefeitura de São Luís na Praça João Lisboa, Largo do Carmo e entorno imediato.

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