Abandono

Esquecida e suja: Praça João Lisboa é penalizada pelo descaso

Logradouro histórico foi local de reunião de intelectuais que discutiam sobre os mais diversos assuntos; hoje, o espaço está sendo penalizado com a falta de conservação; lixo e moradores de rua ocupam o local; estátua precisa de cuidados

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37
FALTAM cuidados com o espaço, que já foi o coração do centro de São Luís
FALTAM cuidados com o espaço, que já foi o coração do centro de São Luís

SÃO LUÍS - Feliciana Lisboa Guimarães levou sua filha, Nádia Alice Guimarães, para conhecer a Praça João Lisboa, no centro de São Luís, que o seu bisavô, Raimundo Carvalho Guimarães, costumava frequentar no período da tarde. Contudo, o logradouro de que esse imortal da Academia Maranhense de Letras (AML) tanto gostava hoje é penalizado com diversos problemas, reflexos do descaso da população e das autoridades públicas, que falham na conservação da praça.

Em tempos passados, a Praça João Lisboa foi o coração, alma e centro nervoso da cidade, onde funcionava um poderoso mecanismo de censura social. A praça ficou famosa por ter sido, durante muito tempo, o largo antigo, onde grupos de pessoas se reuniam todas as tardes para comentar a vida.

Lá, os intelectuais costumavam se encontrar para discutir arte, literatura e política. Por isso, um dos trechos do logradouro, também chamado como Praça da Liberdade, ficou conhecido como “senadinho”.

Infraestrutura
Porém, esse tempo áureo ficou no passado. O que se observa hoje é um espaço abandonado pelo poder público, com problemas de infraestrutura e sujeira pelo espaço. Apenas a estátua de bronze de João Lisboa, colocada no centro da praça, e que também carece de cuidados, consegue chamar um pouco da atenção de transeuntes.

A praça tem um piso mosaicado, que nos desenhos exibe um contraste entre a pedra clara e escura. Contudo, em vários espaços as pedras foram arrancadas, deixando apenas o espaço vago.

Alguns dos bancos de madeira estão quebrados e, em outros, a infiltração está causando o apodrecimento da madeira. Esses mesmos bancos também servem como dormitório para moradores de rua. Muretas quebradas e com rachaduras completam o visual da praça.

O aposentado Antônio Dias lamenta o estado da Praça João Lisboa, principalmente no que diz respeito à limpeza do espaço. “Não pode existir um negócio dessa natureza. Por onde você olha, há lixo. Antigamente, não era assim”, disse.

Apesar dos problemas, ainda hoje a praça recebe diariamente um grande número de pessoas em virtude das atividades realizadas nos prédios do seu entorno e que tem como frequentadores assíduos os aposentados e os jogadores de dama e dominó. O entorno imediato da praça dispõe de uma riqueza arquitetônica e histórica relevante, marcada nos casarões de inspiração lusitana.

A última reforma do logradouro aconteceu no período 2001/2002 e foi feita a renovação do piso, modificação dos canteiros de plantas e instalação de lixeiras. Desde então, apenas alguns serviços paliativos foram executados no local.

[e-s001]Por meio de nota, a Fundação Municipal de Patrimônio Histórico (Fumph) informou que a reforma da Praça João Lisboa está prevista com recursos do PAC Cidades Históricas, de responsabilidade do Instituto do Patrimônio Históricos e Artístico Nacional (Iphan). Já o Comitê Gestor da Limpeza Urbana comunicou que realiza, diariamente, varrição e coleta de lixo na praça durante o turno da noite. No entanto, o órgão se comprometeu em reforçar a fiscalização no local e promover a substituição das lixeiras danificadas, buscando otimizar a execução dos serviços. O comitê pediu o apoio da população e comerciantes locais para que evitem o descarte e acondicionamento de resíduos domiciliares fora do turno de coleta.

SAIBA MAIS

Sobre a história da Praça João Lisboa

O antigo Largo do Carmo, dentro de um programa governamental de melhorias urbanas, pautado no crescimento populacional de São Luís, e na demanda por espaço para a circulação de veículos, teve a sua área primitiva sensivelmente reduzida ao longo dos anos, findando por ter sido desmembrado em dois logradouros distintos.

O trecho compreendido entre as ruas Grande e da Paz, fronteiriço à Igreja do Carmo, permaneceu sendo chamado pela população de Largo do Carmo. Já o segundo trecho, compreendido entre as ruas da Paz e do Sol, denominou-se Praça João Lisboa, a partir de 28 de julho de 1901, por decreto municipal.

João Francisco Lisboa (1822-1863), maranhense, nascido na cidade de Pirapemas, é considerado o maior jornalista maranhense, tendo se destacado na arte da escrita e no campo político, por ser escritor de alguns jornais e de obras literárias relevantes para a história do Maranhão.

Foi patrono da cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras e de nº 11 na Academia Maranhense de Letras. No ano de 1918 foi erguido um monumento de bronze, com pedestal em mármore, em sua homenagem, obra essa do escultor francês Jean Magrou, que foi fixado no Largo do Carmo e depois deslocado para a Praça João Lisboa no governo de Paulo Ramos (1937-1945) Sob este monumento repousam as cinzas do intelectual.

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