Ilegalidade

Atratividade do Brasil para o comércio ilegal de cigarros desperta atenção

Além dos tradicionais paraguaios, cresce a presença de cigarros ilegais da Coreia do Sul, dos Estados Unidos e do Reino Unido, especialmente no Norte e Nordeste do Brasil

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Contrabando de cigarros se expande
Contrabando de cigarros se expande (cigarros)

São Paulo - Nem só de cigarro paraguaio vive o contrabando no Brasil. Campeão mundial no consumo de cigarros ilícitos, o mercado brasileiro é tão atrativo para o crime organizado que passou a despertar a atenção de novos players da ilegalidade. Segundo levantamento do Ibope Inteligência, tem aumentado exponencialmente a presença de cigarros contrabandeados da Coreia do Sul, do Reino Unido e dos Estados Unidos especialmente no Norte e no Nordeste do país.

Contrabandeada, a marca americana Bellois já é a terceira ilegal mais consumida no Nordeste, saltando de 2% em 2016 para 8% em 2019, na participação de mercado. No total, 12% dos cigarros ilegais consumidos no Nordeste vem dos EUA. No Norte, 11% vem do Reino Unido.

Segundo o Ibope, o preço médio do contrabando no Nordeste em 2019, era de R﹩ 3,49, já o do produto legal é de R﹩ 7,51. Pela lei brasileira, o preço mínimo de venda do cigarro é de R﹩ 5,00, mas, como aponta Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), "o contrabando não segue a lei". "A venda de cigarros contrabandeados é muito expressiva porque o crime vê aí uma possibilidade de altíssimo lucro e baixa punição", diz Vismona.

Marca coreana dobra de tamanho no Nordeste em um ano e meio
Estimativas da indústria apontam um crescimento expressivo da fabricante coreana KT&G no Nordeste do país. Com a marca Pine, a coreana saltou de 7% de participação de mercado em janeiro de 2019 para 14% em julho de 2020. A marca coreana vem desbancando marcas ilegais paraguaias, tradicionalmente líderes de mercado, como a Gift, produzida pela Urion, e a Eight, da Tabesa, indústria do ex-presidente do Paraguai Horácio Cartes.

Se considerados somente os estados do Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas e Paraíba, o crescimento da Pine chama ainda mais atenção: 26% de participação de mercado, o equivalente a 52% de todo o volume de ilegalidade consumido nesta região. A chegada de marcas asiáticas no Nordeste acontece principalmente por rota marítima, facilitada pela fronteira entre o Brasil e o Suriname.

Consumo é concentrado nas classes CDE
Considerando todas as marcas ilegais comercializadas no Norte e no Nordeste em 2019, chega-se ao total de 585 milhões de maços de produtos do crime. A faixa econômica da população é um indicativo para a força do produto ilegal especialmente nestas regiões. Aproximadamente 74% da população no Norte e Nordeste do país é das classes CDE, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP).

Segundo o economista Pery Shikida, professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, o contrabando de cigarros precisa ser entendido como um fenômeno econômico. "O comércio ilegal cresce porque há mercado. Este consumidor, em geral, procura atender sua demanda com o menor preço e com uma qualidade suportável ao preço estipulado", diz. "Quanto maior a diferença entre os impostos cobrados no Brasil e lá fora, maior o incentivo ao comprador e ao contrabandista", ressaltou.

Atualmente, 57% do mercado brasileiro de cigarros é ilegal. Apesar dos novos players, a vasta maioria ainda é proveniente do Paraguai, onde a carga tributária é de 18%, a menor do mundo. Enquanto isso, a alíquota no Brasil parte de 71%, podendo chegar a 90% dependendo do estado.

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