Roda Viva

O tricentenário da fundação de São Luís

Benedito Buzar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Capa do álbum comemorativo do 3º centenário
Capa do álbum comemorativo do 3º centenário (capa do álbum do 3º centenário)

São Luís - Em 2012, houve uma extensa programação de eventos, organizada pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de São Luís, com vistas às comemorações do quarto centenário de fundação da capital maranhense.

Naquela vasta programação, faltou, contudo, algo precioso e importante: um álbum comemorativo e ilustrado, preparado com esmero e recursos da tecnologia moderna, sobre avanços e conquistas da cidade aniversariante, ao longo de seus quatro séculos de vida, assim como fizeram o Governo do Estado e a Prefeitura de São Luís, em 1912, quando festejaram o terceiro centenário de fundação da capital maranhense.

O álbum do tricentenário

A feliz iniciativa de publicar um álbum relativo aos trezentos anos de fundação de São Luís foi do governador do Maranhão, Luiz Domingues da Silva (1910-1914) e do intendente da cidade, Mariano Martins Lisboa, à época, eleito para cumprir apenas dois anos de mandato (1910-1912).

O álbum, porque ainda não havia policromia, teve a impressão em preto e branco, trabalho realizado pela Typogravura Teixeira, considerada a melhor da cidade, com textos e fotos sobre os festejos comemorativos de tão auspicioso evento histórico.

A comissão organizadora

Para não haver nenhuma suspeita quanto à competência da comissão organizadora do tricentenário da cidade, o governador Luiz Domingues nomeou um grupo de alto nível, formada pelo geógrafo e professor do Liceu, Justo Jansen Ferreira, o historiador e diretor da Biblioteca Pública, José Ribeiro do Amaral, e o oficial da Secretaria de Governo, Domingos Castro Perdigão, para preparar uma programação “que se estendesse do dia 8 de setembro, data em que foi implantada, em 1612, a primeira cruz, no lugar onde é hoje a Avenida Maranhense (Pedro II), até o dia 1° de novembro , quando celebrou-se a incorporação dos indígenas da ilha à civilização do Ocidente pelo compromisso de obediência à França”.

Exposição dos produtos

A parte principal da comemoração foi a exposição dos produtos do Estado, “organizado pela Sociedade Popular do Trabalho e instalada em cinco vastos salões do Palácio, ladeados pelo jardim da entrada e o Jardim Zoológico, que se achavam artisticamente ornamentados”.

Os salões palacianos “ostentavam belíssima decoração e de imenso gosto estético. No salão nobre realçavam as bandeiras nacional, a maranhense e a francesa. Numa das paredes, estava armado, em quadro, a carta geográfica do Estado, trabalho da autoria do Dr. Justo Jansen Pereira”.

A ornamentação interna e externa do Palácio dos Leões “foi toda custeada por empresas da cidade e fotografada pelo sr. Abdon Coelho, proprietário da Fotografia Popular”.

A inauguração da exposição

No dia da inauguração, “realizaram-se festas e solenidades no recinto da exposição, que se tornou o centro da comemoração, sendo franqueada ao público e visitantes às quintas-feiras, domingos e feriados”.

“A harmoniosa orquestra dos Irmãos Pargas deliciou os convidados com uma festa musical, onde foram executadas e escolhidas belas melodias. Essa atração artística atraiu grande número de famílias ao evento, especialmente os amantes da boa música”.

Presenças ilustres

Além das autoridades e de figuras importantes da sociedade maranhense, a Exposição Comemorativa “foi honrada com a visita de muitos viajantes, em trânsito na cidade, dentre estes alguns estrangeiros de alta posição social, como o ilustre general Ismael da Rocha e o famoso escritor francês, Paul Adam e de sua esposa”.

Para receber o intelectual visitante, “o governador Luiz Domingues, nomeou uma comissão especial, formada por Antônio Lobo, Godofredo Viana, Joaquim Franco de Sá, José de Almeida Nunes e Domingos Barbosa, major João Pedro Smith e do padre José Lemercier”.

Os ilustres hóspedes franceses “foram homenageados com um suntuoso almoço no Palácio do Governo, onde a Comissão da Exposição ofereceu ao casal diversos produtos maranhenses”.

O encerramento da exposição

Como o programado, “encerraram-se a 1º de novembro de 1912, os festejos comemorativos ao Tricentenário da Fundação de São Luís, ato revestido de brilhantismo, notando-se a presença das principais autoridades civis, militares, professores e alunos da Escola Modelo e do Instituto Rosa Nina, representantes da imprensa e de funcionários públicos”.

Presidiu a cerimônia o governador Luiz Domingues, que fez questão de premiar os produtores, após o que concedeu a palavra ao Dr. Justo Jansen, presidente da comissão organizadora, ao longo do discurso disse que a França, “se manteve grande entre as nações do mundo, para, mais uma vez, assegurar o valor da raça”.

Ao final da brilhante oração, fez questão de “glorificar Daniel de La Touche, senhor de La Ravardiére e dos seus arrojados companheiros que se deixaram esta ilha, com a esperança desvanecida de fundar a França Equinocial, em compensação, formaram os primórdios desta cidade, cuja população, 300 anos depois, aqui, distintamente representada, rememora os seus nomes, conservando-os entre os valorosos que da lei da morte se libertaram, permitindo-me parafrasear, mais uma vez, o sublime verso do imperecível vate da heroica nação lusitana de que descendemos”.

Franceses e portugueses

Pelo que li no Álbum Comemorativo do 3º Centenário da Fundação de São Luís, em 1912, o povo participou e aplaudiu o tão festejado evento, durante o qual não aconteceu nenhuma discussão ou polêmica, como se viu em 2012, em que intelectuais e historiadores, pelos jornais ou em reuniões acadêmicas, defendiam teses ou opiniões divergentes acerca da fundação de São Luís.

Enquanto um grupo defendia ardorosamente a tese da fundação de São Luís pelos franceses, o outro grupo, abraçava a causa de que a capital maranhense teve os portugueses como fundadores.

Em 1912, o povo do Maranhão não estava dividido entre franceses e portugueses quanto à fundação de São Luís, pois o sentimento dominante, à época, era de que a glória dessa iniciativa pertencia indiscutivelmente à França.

Outro assunto que não levantava discussão naqueles tempos: o nome da capital maranhense, que deveria ser grafada com s e não com z.

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