Homenagem

Os 90 anos do escritor maranhense Ferreira Gullar

Poeta maranhense deixou um legado de imensa contribuição para a literatura brasileira

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Poeta   Ferreira Gullar completaria 90 anos  hoje
Poeta Ferreira Gullar completaria 90 anos hoje (Filme Ferreira Gullar)

São Luís - O maranhense Ferreira Gullar celebraria hoje, se estivesse vivo, 90 anos de idade. Para marcar a data, a poeta e viúva Cláudia Ahimsa, reuniu no livro “As muitas maneiras de dizer ‘eu te amo’”, ilustrações do escritor, que também era artista visual. A publicação será vendida on-line a partir de hoje pelo site www.urucum.com. Além desta homenagem, outras deverão ocorrer ao longo do dia.
José Ribamar Ferreira, o Ferreira Gullar, morreu em 4 de dezembro de 2016, no Rio de Janeiro, onde estava radicado desde 1951. Com grande contribuição para as letras e artes do Brasil, o maranhense integrou, quando ainda morava em São Luís, na década de 1940, o movimento literário ao lado de nomes como Bandeira Tribuzi, Lago Burnett, José Sarney, Lucy Teixeira, José Bento Neves e outros.
Poeta, crítico de arte, tradutor, memorialista, ensaísta foi um dos fundadores do neoconcretismo. Engajado politicamente foi perseguido pela ditadura militar, exilando-se na União Soviética, Argentina e Chile.
Na Academia Brasileira de Letras, ocupou a Cadeira 37, que pertencia a Ivan Junqueira, e tomou posse a 5 de dezembro de 2014.

Obra
Foi em 1930, que o maranhense publicou seu primeiro livro, “Um Pouco Acima do Chão”, em 1949. Com o golpe militar, em 1964, foi preso e exilado — passou por Moscou, Santiago, Lima e Buenos Aires, só retornando ao Brasil em 1977. Durante o exílio na Argentina, escreveu o “Poema Sujo”, um longo poema, com quase 100 páginas, que foi traduzido em 25 países.
Em 1980, publicou “Na Vertigem do Dia” e “Toda Poesia”, que reunia toda sua produção poética até então. Em 1985, pela tradução da peça “Cyrano de Bergerac”, ganhou o prêmio Molière, o mais importante do teatro nacional.Indicado ao Nobel de Literatura em 2002, o escritor acumulou uma série de prêmios literários durante a sua trajetória, com desataque para os Prêmios Jabuti de Ficção e Poesia, e o Prêmio Camões.

Poema sujo (trecho)

turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos

menos que escuro
menos que mole e duro
menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma?
claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era…
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia



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