Gordofobia

Dia do Gordo: um não à gordofobia

A data é para combater a gordofobia e as cobranças sociais por padrões estéticos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

São Luís - A modelo plusize e ativista corporal do "Amor Próprio", Patrícia Muniz, de 24 anos, relata que já ouviu vários comentários preconceituosos e os que mais impactavam eram os dos seus próprios familiares.

"Pensam que, por serem mais próximos, podem ou devem falar o que vem à mente. Então, bastou uns quilos a mais e apareceram os ‘fiscais de corpo’ com seus comentários gordofóbicos: ‘tão linda, só falta emagrecer’, ‘é só parar de comer besteira que tu perde rapidinho’, ‘se continuar assim, ninguém vai te querer’! E por aí vai. E ainda usavam algumas expressões preconceituosas veladas de preocupação, sendo que ninguém, absolutamente ninguém, nunca questiona a saúde de um magro”, enfatiza.

Patrícia pesava entre 70 a 80 quilos e já era considerada acima do peso, segundo o Índice de Massa Corpórea (IMC). Nesse contexto, sempre houve o anseio pelo corpo magro, atrelado a uma imagem de beleza, saúde e bem-estar.

“O que ninguém sabia era que, sem saúde mental, a saúde física não integraria quase nada. Nesse processo, eu me privei de ir à praia usando biquíni, quase não comia em festas, com medo de ser julgada ou virar alvo de piadas. Eu passava horas tentando me vestir com roupas que disfarçam as gorduras do braço, costas ou qualquer área que me desagradasse. Eu fazia dietas e tentava com exercícios físicos na academia, mas nunca durou mais de dois meses por não gostar dessas atividades”, pontua.

Essa pressão externa existiu até os 22 anos, segundo Patrícia. Depois, tudo se tornou mais leve, quando houve a aceitação. Hoje, ela leva a importância do amor próprio e o empoderamento a outras mulheres. “A aceitação é um processo libertador. Foi o momento que passou um filme na minha cabeça, de tudo que eu já fiz e deixei de fazer em nome dos padrões e rótulos deixados por uma cultura da magreza. O quanto já quiseram que eu odiasse meu corpo e me sentisse infeliz. Sabendo eu que, no fundo, existia muito amor, e esse foi o começo do meu amor próprio”, ressalta.

Tudo isso resultou na busca do reconhecimento total, das suas origens, uma nova forma de ver sua história de vida, que trouxe diversas conquistas, entre elas, o terceiro lugar no concurso Plus Simpatia 2019. Agora, sua voz tem vez. “Compartilhei essas experiências na minha rede social, comecei a ver o Instagram como uma plataforma que estreitasse esses laços e que me ajudasse a chegar nas outras pessoas, sobretudo nas mulheres. Na rede social, eu trabalho aceitação corporal, amor próprio, falo das minhas inúmeras vivências, denuncio e milito dentro do meu nicho, contra qualquer tipo de preconceito, gordofobia ou body shaming, que é quando você torna o corpo de alguém uma vergonha, uma chacota, e isso independe dele ser gordo ou não. Empoderei minha existência e levantei minha voz, não aceito mais nenhum desrespeito”, conclui.

A psicóloga do Hapvida Saúde, Celiane Lopes, ressalta os cuidados com os julgamentos, ao falar sobre o corpo de alguém
A psicóloga do Hapvida Saúde, Celiane Lopes, ressalta os cuidados com os julgamentos, ao falar sobre o corpo de alguém

Dia do Gordo

Hoje, 10 de setembro, é o Dia do Gordo. A data é uma forma de combater a gordofobia, conscientizar a sociedade sobre a importância do respeito às pessoas gordas e um convite à empatia. A psicóloga do Hapvida Saúde, Celiane Lopes, explica que a gordofobia é o ato de julgar uma pessoa gorda como alguém inferior, desprezível ou repugnante, simplesmente pelo tamanho do seu corpo. Ela ressalta os cuidados com os julgamentos, pois falar sobre o corpo de alguém não acrescenta em nada em relação à sua saúde mental, pelo o contrário faz é prejudicar seu estado emocional.

“Alguns quadros de sobrepeso nem sempre podem ser apontados como falta de saúde em uma pessoa, que pode ter um ótimo funcionamento metabólico de seus sistemas corporais, assim como o sobrepeso não está associado somente ao ato de comer compulsivamente, pode ser um estresse, uso de medicamento, uma vida sedentária, ansiedade e até problemas hormonais”, exemplifica.

A especialista destaca que pessoas gordas vítimas de preconceito devem se defender. “Jamais deixar ninguém fazê-las se sentirem mal por sua aparência, enfrentar de forma assertiva aqueles que apontam só por puro prazer em machucar”, enfatiza.

Lopes acrescenta que as pessoas precisam valorizar e praticar as palavras respeito e empatia. “Se a pessoa está satisfeita com sua forma física, você não tem o direito de distorcer ou de ser invasivo na vida do outro só porque é a sua ideia de corpo perfeito”.

O nutricionista e professor do Centro Universitário Estácio São Luís, Marcos Macedo, acrescenta que ter uma vida saudável não é ser somente magro, pois podem ter pessoas magras com problemas de colesterol e até mesmo com doenças crônicas. Vários fatores contribuem para ser saudável, como alimentação, atividade física, dormir bem, o estilo de vida.

“Inclua, diariamente, na sua rotina, frutas e vegetais. Evite o consumo de preparações fritas, beba no mínimo três litros de água por dia, pratique exercícios de forma regular, consuma bebidas alcoólicas de forma ocasional, aprecie o sabor das refeições, durma de 6 a 8 horas regularmente, sorria sempre que possível e não tente ser igual a outra pessoa, procure sempre o melhor que você pode ser”, ´pontua.

Três palavrinhas para excluir do vocabulário e dar adeus à gordofobia:

“Gordice"

Essa expressão tem os dois pés na gordofobia, então você deveria parar de usá-la agora. É usada para referenciar pratos e guloseimas cheias de calorias, reforçando a ideia de que todo gordo é uma pessoa que se abastece de comidas pouco saudáveis, cheias de gordura, açúcares e afins. E não é verdade. São tantas as variáveis que fazem uma pessoa engordar, que é pura gordofobia pensar automaticamente que uma pessoa gorda é uma máquina de comer.

“Estou enorme de gorda”

Em geral, essa expressão é dita por uma pessoa magra, que engordou um ou dois quilos, ou mudou um número para cima do manequim. É triste e completamente gordofóbico, pois a ênfase nos quilos a mais é como se estivesse feia ou deslocada.

“Você é linda(o) de rosto”

Essa frase é muito utilizada para elogiar uma pessoa gorda. Ninguém olha uma pessoa magra e diz que “é linda de rosto”. Somos lindos de rosto, de corpo, por dentro e por fora. Não importa o tamanho que se tenha. Então se você acha que está elogiando ao dizer essa frase, você está bem enganado.

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