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Balneabilidade das praias da Ilha precisa ser melhor avaliada

Segundo cientista ambiental, é preciso levar em consideração características da maré, frequência de banhistas, densidade de ocupação, entre outros

Evandro Júnior / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Especialista afirma  que ideal é fazer análise baseada no modelo conceitual, ou seja, buscar entender a dinâmica do sistema para determinar balneabilidade
Especialista afirma que ideal é fazer análise baseada no modelo conceitual, ou seja, buscar entender a dinâmica do sistema para determinar balneabilidade (Balneabilidade)

São Luís - O estudo de balneabilidade das praias de São Luís, que atualmente estão impróprias para o banho, conforme mais recente laudo divulgado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema), precisa ser contextualizado, levando-se em consideração fatores como características da maré, frequência de banhistas, densidade de ocupação, entre outros, para que o cidadão seja melhor orientado.

Quem defende é o cientista ambiental Márcio Vaz, baseando-se no que já vem sendo feito em países desenvolvidos. Ela diz que o atual estudo reflete apenas o pior cenário. “O índice indireto, por si só, que é o empregado pelas autoridades maranhenses, apenas serve para orientar grupos de risco. O ideal é fazer uma análise baseada no modelo conceitual, ou seja, buscar entender a dinâmica do sistema. Pelo atual modelo empregado, teríamos praias poluídas aos domingos, mas não necessariamente durante a semana”, explica o cientista ambiental.

Em 2012, Márcio Vaz apresentou o modelo ainda hoje empregado para identificar a situação geral, baseada nas estações seca e chuvosa, que implicariam em um lançamento maior ou menor de dejetos nas praias. “Mas é preciso avançarmos mais em estudos mais aprofundados”, defende. Segundo o cientista ambiental, o problema maior está relacionado à estrutura de saneamento, pois o Maranhão precisa de um sistema adequado de abastecimento de água, coleta de esgoto e tratamento dele, além da coleta de lixo.

“São Luís é uma cidade com 80% de seu território formado por invasões, sem estrutura de saneamento, sem área verde, entre outras deficiências, ou seja, é uma cidade difícil de sanear. E tudo isso compromete na qualidade da água das praias”, frisa.

Conforme um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado há três anos, o Maranhão tem a menor porcentagem do país de municípios com esgotamento sanitário por rede de coleta de esgoto, dados que integram a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, Na opinião do professor de Antônio Carlos Leal, professor de Oceanografia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o problema está relacionado com a deficiência das estações de tratamento de esgoto.

“Os governos estaduais têm até 2033 para se adequar ao novo marco legal do saneamento básico, cujo principal objetivo é universalizar e qualificar a prestação de serviços no setor. A meta é garantir que 99% da população brasileira tenha acesso à água potável e 90% ao tratamento e à coleta de esgoto”, lembra o professor, atentando para o fato de que todos os rios da Grande São Luís também estão poluídos.

Laudo
Depois de quase cinco meses sem divulgar atualizações sobre a balneabilidade da orla da Grande São Luís, devido à pandemia do novo coronavírus, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos voltou a relacionar os trechos impróprios para banho.

O laudo mais recente refere-se ao período compreendido entre 27 de julho e 10 de agosto. Foram avaliados 22 pontos nas praias da Ponta d’Areia, Ponta do Farol, São Marcos, Calhau, Olho d’Água, Meio, Araçagi, Olho de Porco e Mangue Seco. A maior quantidade de dejetos lançados na praia provém de prédios erguidos próximo à orla marítima, o que poderia ser uma das explicações para a poluição, uma vez que as praias tiveram redução significativa no número de banhistas desde o mês de março, voltando ao normal apenas recentemente.

Balneabilidade
Na Praia da Ponta d’Areia, por exemplo, estão impróprios os trechos em frente ao Condomínio Jardins de Bordaux e à Praça de Apoio ao Banhista, bem como ao lado do Espigão. Na Praia de São Marcos, os banhistas não podem tomar banho de mar nos trechos em frente aos bares do Chefe e Desfrute, ao Grupamento Batalhão do Mar, ao Heliporto e no perímetro da banda de jornal, conforme a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos.

No Calhau, os trechos proibidos são em frente à Elevatória da Caema, à Pousada Vela Mar e à direita da Pousada Suíça. No Olho d’Água, foram coletadas amostras em frente à descida da Rua São Geraldo, à direita da Elevatória Iemanjá e em frente à casa com pirâmides no teto, antes da falésia.

O órgão também avaliou a Praia do Meio e os trechos poluídos são em frente ao Kactus Bar e ao Bar do Capiau 2. Já na Praia do Araçagi, estão impróprios os trechos em frente à descida principal da praia e ao Bar da Atalaia.

A Sema informou que não é possível determinar se o aumento da poluição das praias está relacionado à maior permanência de moradores de prédios próximos à orla em suas residências, em decorrência da pandemia, uma vez que seriam necessárias pesquisas aprofundadas sobre o assunto.

O órgão informou, no entanto, que atua constantemente no monitoramento da balneabilidade e mantém a população informada quanto às condições de banho nos 22 pontos de coleta da orla. Informou, também, que medidas estão sendo adotadas por meio do grupo de trabalho composto por secretarias e entidades, com objetivo de desenvolver campanhas informativas e educativas, aumentar a fiscalização de esgoto irregular e ampliar o tratamento de esgotamento sanitário.

A secretaria, além disso, disse que executa ações de educação ambiental por meio de ações de conscientização dos donos de bares, banhistas e ambulantes, para reduzir a poluição da orla. O Estado pediu informações obre o funcionamento da Estação de Tratamento de Esgoto do Vinhais, uma vez que ela atende a vários bairros, inclusive próximos à orla marítima.

A Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) informou que a ETE do Vinhais está operando normalmente, conforme os padrões estabelecidos. E que a Estação, que atende toda a área do Vinhais, Cohama e adjacências, é responsável pelo tratamento de 90% do esgoto produzido nessas regiões. Informou ainda que, para garantir o correto funcionamento da ETE do Vinhais, a equipe operacional realiza, rotineiramente, trabalhos preventivos de limpeza e manutenção no local.

SAIBA MAIS

Critérios de coleta

Sobre a água coletada em dos trechos de praia da Ilha, a Sema informou que segue a Resolução n° 274/2000, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A resolução introduziu outros indicadores de contaminação fecal e manteve a classificação das praias de acordo com as densidades resultantes de análises feitas em cinco semanas consecutivas.

Conforme a Resolução, o monitoramento realizado pelo Laboratório de Análises Ambientais (LAA) da Sema é feito, preferencialmente, nos dias de maior afluência do público às praias ou balneários. Desde abril de 2019, o LAA realiza a coleta das praias nas segundas, excetuando o período entre março e julho de 2020 por causa das medidas sanitárias contra a pandemia da Covid-19.

No processo de retomada das atividades, houve a necessidade de realizar coletas em um período inferior a uma semana, seguindo as diretrizes do artigo 6º da Resolução. A Sema destacou, no entanto, que desde o dia 3 de agosto, as coletas retornaram a uma frequência semanal.

Sobre o procedimento de coleta de amostragem, esta se inicia na estofa da maré vazante, objetivando o momento em que há menor influência do poder de autodepuração do mar. Atualmente são cobertos 22 km da faixa do litoral, além dos principais corpos hídricos que deságuam diretamente nessa faixa. Portanto, esse é o cenário ideal para alertar aos banhistas que há aumento significativo nos indicadores microbiológicos empregando os kits QuantiTray da IDEXX.

Sobre a análise das amostras

Após a coleta das amostras no local, estas são transportadas em caixa térmica com controle de temperatura. Em seguida, no laboratório, são colocadas na estufa e, utilizando os indicadores enterococos para as amostras das praias e Escherichia coli para as águas dos corpos hídricos, e os kits QuantiTray da IDEXX, para a etapa seguinte de análise. Após 24 horas de incubação, as cartelas são submetidas à luz ultravioleta em câmara, para contagem dos poços fluorescentes.

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