Editorial

Todo cuidado é pouco

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

Em tempos de pandemia da Covid-19, quando o medo de contrair a doença ou evitar um desfecho fatal leva as pessoas a procurarem os mais diversificados recursos para uma possível cura da doença, um medicamento - entre outros - tem se destacado com grande procura nas farmácias do país, notadamente em São Luís. Trata-se da hidroxicloroquina, que de acordo com estudo divulgado na última segunda-feira, 11, não evita mortes. E o que é tão grave: pode afetar seriamente o coração, tanto sozinha como quando associada à azitromicina. Há informações de que a hidroxicloroquina estaria sendo ministrada a pacientes com a Covid em São Luís.

A pesquisa, publicada no Journal of the American Medical Association, foi realizada em pacientes de hospitais do estado de Nova York (EUA), e é a maior deste tipo, além de corroborar com outro estudo publicado na semana passada, no New England Journal of Medicine, que também mostrou que o medicamento não funciona contra o novo coronavírus.

O estudo revela que 1.438 pacientes de 25 hospitais nova-iorquinos foram avaliados pelos pesquisadores. A maior parte (59,7%) era formada por homens com 63 anos, em média. Apenas pessoas que estavam internadas há pelo menos 24 horas entre 15 e 28 de março foram consideradas elegíveis para o estudo. O último acompanhamento foi feito em 24 de abril.

Os pacientes foram divididos em quatro grupos: o primeiro foi tratado apenas com hidroxicloroquina; o segundo, só com azitromicina; o terceiro, com ambos os medicamentos; o último, com nenhum dos dois. Aqueles que foram medicados (com cloroquina, azitromicina ou os dois) ficaram mais propensos a desenvolver problemas como diabetes, baixa saturação de oxigênio e manchas anormais nos pulmões, de acordo com imagens de raio-x. Dos que receberam ambos os medicamentos, 15,5% registraram paradas respiratórias e 27,1%, anormalidades nos eletrocardiogramas.

Entre os pacientes hospitalizados com Covid-19, o tratamento com hidroxicloroquina, azitromicina ou os dois não foi associado à diminuição significativa da mortalidade, segundo conclusão dos cientistas norte-americanos, acrescentando que os resultados da pesquisa podem ser limitados por sua natureza observacional.

E no momento em que o país é duramente atingido pela pandemia Covid, o presidente Jair Bolsonaro - diante de tantos problemas na área de saúde - anunciou ontem que o governo vai enviar um projeto de lei federal, em caráter de urgência, ao Congresso para proibir a chamada "ideologia de gênero” no país, pouco mais de duas semanas depois de Supremo Tribunal Federal (STF), declarar inconstitucional, por unanimidade, uma lei municipal de Nova Gama (GO) que vetava a discussão de gênero em escolas. O presidente fez o anúncio diante de crianças levadas ao Palácio do Planalto por um padre.

Bolsonaro tem direito a solicitar que projetos de lei de sua autoria tramitem em regime de urgência. Nesse caso, a Câmara dos Deputados e o Senado terão 45 dias, cada uma, para votar a matéria. Se o prazo não for respeitado, o projeto passará a trancar a pauta de deliberações da Casa em que estiver tramitando, impedindo a votação de qualquer outro item.

As crianças arregimentadas pelo religioso, apoiador de Bolsonaro, disseram em seguida que não querem a lei da alienação parental, sem especificar ao que se referiam. Já existe uma lei em vigor, de 2010, que dispõe sobre "a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente". As crianças usavam camisas com a mensagem "Brasil Vivo! Sem aborto!".

Em geral, os defensores da ideologia de gênero se negam a classificar o seu posicionamento dessa maneira e preferem utilizar o termo "identidade de gênero".


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