Coronavírus

78% dos infectados que morreram no Maranhão possuíam outras doenças

De um total de 88 infectados que morreram no estado, 69 estavam sofrendo de comorbidades, que são doenças paralelas a outras

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
As comorbidades são situações em que uma pessoa possui alguma doença em conjunto com outra. Isso significa a coexistência de enfermidades
As comorbidades são situações em que uma pessoa possui alguma doença em conjunto com outra. Isso significa a coexistência de enfermidades (coronavírus)

São Luís - O novo coronavírus continua causando diversas mortes no mundo e no Brasil. Esse fato demonstra o quanto a infecção viral tem uma forma de contágio muito rápida, como alertam especialistas e pesquisadores. Mas grande parte dos mortos pela enfermidade já possuía comorbidades, como diabetes, doenças renais crônicas e hipertensão arterial. No Maranhão, 78% das vítimas da Covid-19 estavam sofrendo por outras doenças, de acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (SES).

O boletim epidemiológico mostra que já foram registrados 88 óbitos no estado, de um total de 1951 infectados. Dessa quantidade contaminados que faleceram, 69 estavam com outras doenças e apenas 19 não possuíam comorbidades. Por faixa etária, a mais afetada com relação aos óbitos é a de 70 anos para cima. Os idosos, inclusive, estão no grupo de risco para o coronavírus, devido ao enfraquecimento do sistema imunológico, que fica mais frágil para combater invasores parasitas.

As comorbidades são situações em que uma pessoa possui alguma doença em conjunto com outra. Isso significa a coexistência de enfermidades. Na população de idosos, por exemplo, nos maiores de 65 anos, é muito comum que eles sejam diagnosticados com hipertensão arterial sistêmica, conhecida como pressão alta, e tenham outra condição patológica.

No que tange ao coronavírus, isso representa uma maior vulnerabilidade à Covid-19, com risco grande de morte. Muitos idosos, por exemplo, já possuem doenças-bases, como diabetes e hipertensão arterial.

Grupos de riscos

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), algumas pessoas são mais suscetíveis ou vulneráveis ao coronavírus. Esse grupo de risco diabéticos e hipertensos, além de quem possui doença insuficiência renal crônica, respiratória crônica e doença cardiovascular. Quem tem acima de 60 anos também está entre aqueles afetados pelos maiores índices de letalidade quando atingidos. Isso acontece porque, conforme infectologistas, o sistema imunológico dos mais velhos costuma ser deficiente por causa da idade.

Além disso, os pulmões e mucosas tornam-se mais frágeis e vulneráveis a doenças virais. No organismo dos idosos, há menos anticorpos, pois as vacinas tomadas na juventude já não são tão eficazes. Segundo o infectologista Kleber Luz, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, deterioração do sistema imunológico pela idade é chamada de imunossenescência.

Já com relação aos hipertensos, uma série de fatores colabora para que esse grupo seja mais afetado que a população em geral. De acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão, o vírus pode afetar o músculo cardíaco dos pacientes, que já têm o coração sobrecarregado e causar miocardite (inflamação do miocárdio). Também pode gerar necrose pulmonar, com acúmulo de líquido no pulmão.

Por este motivo, é importante que o hipertenso esteja com a pressão arterial controlada, com as vacinas em dia e procurar ajuda médica imediatamente após o aparecimento do primeiro sintoma.

Medidas efetivas

Segundo o pesquisador Antônio Augusto Moura da Silva, do Departamento de Saúde Pública, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), três medidas se mostraram efetivas no combate à transmissão do novo coronavírus: proteção dos profissionais de saúde com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs); identificação dos sintomáticos, por meio da realização de testes, disponibilidade dos resultados de forma rápida e isolamento; e identificação dos comunicantes, colocando-os em quarentena. O professor destacou que a China conseguiu reduzir o contágio adotando essas precauções.

“As evidências estão se acumulando e ainda há uma chance de parar essa epidemia. Não podemos achar que esse vírus vai se instalar entre nós e ser apenas mais um responsável pela gripe, pois ele tem taxas de transmissibilidade muito elevadas e sua letalidade não é baixa”, pontuou o pesquisador em seu artigo intitulado “Sobre a possibilidade de interrupção da epidemia pelo coronavírus (COVID-19) com base nas melhores evidências científicas disponíveis”.

Augusto Moura salienta que a pandemia está se espalhando no mundo, em parte, porque os testes nos suspeitos demoram, o que adia os resultados e o isolamento. Outro fator é o desleixo dos comunicantes, que não procuram os serviços de saúde, pois desenvolvem doença leve. Isso, na opinião do pesquisador, dificulta a identificação dos casos e controle da doença. “A China está conseguindo bloquear a epidemia provavelmente porque está identificando e isolando pelo menos 80% dos contactante”, explicou o professor da UFMA, que tem pós-doutorado em Epidemiologia Perinatal pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.

“há chance de parar essa epidemia, pois os casos assintomáticos parecem não alimentar de forma importante a transmissão. São prioridades absolutas: proteger os profissionais de saúde, testar e colocar em quarentena pelo menos 80% dos comunicantes. É preciso agir rapidamente, porque, associando-se a taxa de letalidade com a rapidez da transmissão do vírus, o número de casos tem dobrado de tamanho a cada cinco dias. A Coreia do Sul também está tomando essas providências e já conseguiu estabilizar a epidemia rapidamente nos últimos dias. Precisamos agir rápido”, alertou o pesquisador.

De acordo com ele, a China, por exemplo, deslocou 1.800 epidemiologistas para rastrear os contactantes na província de Hubei e enviou 40 mil profissionais de saúde de outras localidades para atender os casos em Wuhan, onde a pandemia começou, em dezembro do ano passado.

Covid-19

O novo coronavírus é classificado como um betacoronavírus da linhagem 2B. Segundo a médica infectologista Maria dos Remédios Freitas Carvalho Branco, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), do final de dezembro de 2019 até meados de fevereiro deste ano, não houve mutações significantes. Em média, de acordo com ela, o período de incubação é de 5 a 6 dias, variando de 1 a 14 dias.

Os sintomas também são variados. O infectado pode sentir febre (87,9%), tosse seca (67,7%), fadiga (38,1%), produção de escarro (33,4%), falta de ar (18,6%), dor de garganta (13,9%), calafrios (11,4%), náuseas ou vômitos (5,0%), congestão nasal (4,8%) e diarreia (3,7%). O tempo médio do início dos sintomas até a recuperação clínica, em casos leves, é de 2 semanas. Já nos casos graves ou críticos, é de 3 a 6 semanas. Entre os que morreram, o tempo de doença variou de 2 a 8 semanas.

Com relação ao tratamento, a pesquisadora observa que os casos graves ou críticos requerem ventilação mecânica (25%) e somente suplementação de oxigênio (75%). Já a taxa de letalidade pelo COVID 19 está realmente entre 0,5 e 3%. “Essa taxa de letalidade é semelhante à da gripe espanhola (2 a 3%) e muito mais elevada do que a da epidemia pela influenza A H1N1 (0,02%) em 2009 ou da gripe sazonal”, frisou a professora da UFMA.

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