Sarney 90 anos

O Nascimento de José Sarney

O escritor narrou fatos do seu nascimento no livro Galope à Beira-Mar, publicado em 2018

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
José Sarney aos 14 anos de idade
José Sarney aos 14 anos de idade (sarney 14 anos)

SÃO LUÍS- Nasci em 24 de abril de 1930, na cidade de Pinheiro, situado na chamada Baixada Maranhense.
Chama-se Baixada porque são imensos campos, a perder de vista no horizonte, com largos bolsões de terras localizados no meio deles, chamados de ilhas.
Numa delas, que avança numa ponta de terra e pode se comparar a uma península, está localidade a cidade.

Àquele tempo, Pinheiro tinha cerca de 1.200 casas, num total de quatro mil e poucos habitantes.
Havia apenas duas ruas: a primeira terminava na beira do campo, com uma larga curva, e se dirigia para a ponta da península. Ali ficava localizada a igreja, cujo padroeiro era Santo Inácio. Dizia-se ter sido construída pelos jesuítas, que tinham fazendas naquelas áreas.

Minha mãe ali chegara com oito meses de gravidez. Tinha dezoito anos e eu era o primeiro filho.
A lua estava em quarto minguante e se punha às 2h45 da manhã. Nasci cercado por duas parteiras, Dona Severa e Mãe Calu e uma cria de minha avó, Emília, que depois foi minha babá e viveu quase cem anos.

O parto não foi fácil. Às 7 horas da noite do dia 23, as contrações pararam. Meu pai, meu avô e minha avó, que também estavam persentes, decidiram chamar o único farmacêutico da cidade, José Alvim, proprietário da Farmácia Paz, hoje a mais antiga do Estado.

A farmácia possuía belos móveis antigos, com prateleiras torneadas, onde, antigamente, ficavam os potes de manipulação.

José Alvim era um tipo moreno atarracado, que gostava de contar histórias. Muitas delas, relatadas por meu pai, que eu guardo até hoje.

Ele mandou uma injeção de pitruitina, que foi aplicada na barriga de minha mãe e as contrações voltaram. E assim os meus olhos se abriram para o mundo.

Banho de Ouro
Nasci às 7h30 da manhã, empelicado - e até hoje não sei o que significa isso – com o cordão enrolado em volta do pescoço, depois de uma noite de agonia.

Deram-me o famoso banho de recém-nascido, em que se colocavam joias dentro da água para que a criança fosse feliz: minha mãe colocou as alianças, minha avó, um cordão de ouro; e a vizinha, esposa de Jeco Gomes, também colocou um cordão de ouro dentro da bacia.
Evidentemente, essa prática só servia para trazer germes e aumentar a possibilidade de doenças na criança.

Passei 30 dias em casa, no famoso resguardo do interior; só saí de casa para ser levado por minha mãe à Igreja de Santo Inácio, onde me apresentou ao padroeiro da cidade.

As mudanças de nome
Minha avó, quando dei o primeiro choro de recém-nascido, gritou: - Nasceu José Adriano, porque quando Kyola começou a ter problemas no parto, fez promessa para São José de Ribamar de que, se fosse homem, colocaria o nome do santo, José Ribamar.
Foi a primeira vez que mudei de nome. Depois passei de José Ribamar para José Sarney.

Transcrito do livro da autoria de José Sarney, intitulado Galope à Beira-Mar, publicado em 2018, pela LEYA.

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