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Como investir na bolsa em tempos de crise

Assessor de investimentos financeiros, Gustavo Matos, listou as principais dicas para quem busca driblar a crise e emplacar bons aportes em cenário de volatilidade econômica no período complexo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Investimentos podem trazer benefícios no período de crise
Investimentos podem trazer benefícios no período de crise (bolsa)

A pandemia do novo coronavírus tem gerado impactos significativos tanto no que se refere às questões sanitárias quanto à economia de diversos países, entre eles o Brasil, que, nas últimas semanas vivencia uma crise histórica no Índice Bovespa (Ibovespa) como consequência do avanço do Covid-19. A situação se expandiu a tal ponto que afetou, até mesmo, fundos de investimentos alavancados, preocupando investidores dos mais diversos perfis e exigindo, além de cautela, ainda mais atenção para definir onde e como aplicar sua renda, como alertou o assessor de investimentos financeiros Gustavo Matos.

De acordo com Matos, a singularidade da crise atrelada ao novo vírus é tanta que, na bolsa nacional, já ultrapassou os índices de volatilidade da crise internacional de 2008 – marcada pela quebra do banco Lehman Brothers, em razão da especulação imobiliária nos Estados Unidos –, característica que requer cuidado redobrado dos agentes que integram o
mercado de investimentos.

“No período de crise que estamos vivendo é necessário ter muita cautela no momento de selecionar os ativos que vão compor sua carteira de renda variável. Estamos em um período de extrema volatilidade, em que o chamado ‘índice do medo’, VIX, chegou a superar o da maior crise financeira que já tivemos nos últimos anos, a crise de 2008. Em momentos como estes, muitos investidores são pegos pelo sentimento de medo ou ganância e, no mercado financeiro, seguir emoções como estas, geralmente, é uma atitude muito perigosa que pode pôr em risco o seu patrimônio”, frisou o assessor.
Segundo Gustavo Matos, para investir capital sem grandes sustos e de forma segura, é necessário seguir um planejamento saudável, levando em consideração pontos relacionados, entre outras coisas, ao perfil de cada investidor, como destacado a seguir.

Ajuste de portfólio
Em primeiro lugar, tenha um portfólio equilibrado, seguindo as recomendações de alocação de acordo com o seu perfil. “Esta recomendação é essencial para que o investidor tenha caixa em momentos de crise e compre as ações cada vez mais baratas para poder vendê-las em momento propício. Por exemplo, se o seu perfil lhe permite ter 30% em Renda Variável e manter 70% em renda fixa, incluindo caixa e reserva de emergência, você tem uma relação (30/70)”, descreveu o assessor.

Neste caso, se a bolsa corrigir 50%, a parcela de renda variável passaria dos 30% para 15% e a nova relação seria (15/85). “Dessa forma, no mês seguinte, você poderia fazer o ajuste mensal para a relação (30/70), seja por meio de mais aportes em renda variável ou venda de 15% dos 85% que estão em renda fixa para este fim”, esclareceu.

Por outro lado, em um cenário de valorização de 50% da parcela de renda variável, o investidor teria, no portfólio, não mais 30%, mas 45% de Renda Variável, o que o deixaria com uma relação (45/55) e então seria saudável a venda desses ativos para realocação no percentual de renda fixa que inclui o caixa.

Intervalos entre compras de ativos
Neste ponto, a recomendação para quem possui capital extra é não aportar tudo de uma só vez. “O ideal, em momentos de alta volatilidade do mercado, é dividir em entradas diferentes.

Digamos que você possua 90 mil para ser aplicado. Uma maneira interessante de fazer o seu aporte seria dividir o capital em três e aplicar 30 mil a cada mês. Dessa forma, você consegue entrar a um preço médio mais favorável, caso a ação se desvalorize no período”.

Prefira empresas de qualidade no momento
As discussões sobre o impacto do “lockdown” na economia não cessam e ninguém tem dúvidas de que o cenário é preocupante. No Brasil, o Ibovespa já acumula queda de 60% (em dólar) e não dá para prever quando o fundo do poço chegará. Contudo, em meio a este forte fluxo vendedor, algumas oportunidades começaram a surgir na bolsa de valores. Ações de boas empresas ficaram “baratas”, mas é preciso levar em consideração alguns indicadores antes de investir.

“Um indicador comumente utilizado por analistas fundamentalistas é o Valor Patrimonial por Ação (VPA). Este indicador representa quanto valeria cada ação se contabilizarmos apenas o patrimônio líquido atual da empresa. Em outras palavras, o patrimônio líquido total da empresa dividido pelo número de ações. Quando a relação entre o preço atual da ação for menor ou próximo ao VPA, sinaliza que o mercado está precificando a empresa abaixo ou igual ao que seria o valor dela pelo patrimônio. O que pode sinalizar um preço barato ou justo”, explicou Gustavo Matos.

No entanto, o assessor ressalta que este indicador, avaliado isoladamente, não é o suficiente para configurar uma boa compra. Segundo ele, é interessante avaliar, conjuntamente, o nível de endividamento da empresa, o quanto ela possui de dívida de curto prazo e o valor disponível em caixa. “Empresas com caixa significativo e dívidas bem controladas são bons indicativos de que a empresa pode se manter durante crises e caracteriza uma boa gestão”, frisou.

A visão macro em relação ao setor em que a empresa está inserida é outro aspecto muito relevante a ser considerado. Empresas do setor elétrico e saneamento, por exemplo, possuem maiores previsibilidades nas receitas e menor volatilidade, se comparadas a empresas do setor de construção civil, por exemplo, setor diretamente relacionado à aceleração econômica.

Por fim, Matos indica a procura por empresas boas pagadoras de dividendos. “Atualmente, no mercado, com as projeções de lucros das empresas ao preço de hoje, é possível encontrar distorções muito expressivas no indicador “Dividend Yield”, que nada mais é que o valor esperado de dividendos pagos pela companhia no ano dividido pelo preço da ação, ou seja, quanto de rendimento é gerado para o dono da ação pelo pagamento de dividendos.”, destacou.

Proteja sua carteira com instrumentos de Hedge
Existem alguns ativos no mercado financeiro que funcionam como proteção da sua carteira em períodos de crise, se utilizados corretamente. Algumas alternativas são o investimento em Ouro, contrato de índice futuro e opções de venda.

O contrato de ouro (OZ1D) é negociado em bolsa e é muito procurado em momentos de crise, uma vez que o ouro é visto como reserva de valor, possui alta liquidez e costuma ser aceito como garantia para negociação de outros ativos. “Em momentos de incerteza econômica, expectativa de guerras, crises mundiais e alta do petróleo, este ativo tende a se valorizar”, pontuou o assessor.

O contrato de índice futuro é derivado do Índice Bovespa, logo, varia segundo este índice. Para proteger sua carteira, o investidor deve, inicialmente, calcular o Beta de cada ação e, em seguida, a média ponderada do Beta de todas as ações que compõem a sua carteira.

Mas o que é o Beta? Todas as ações na bolsa variam para mais ou para menos em relação ao índice, por conta do chamado risco sistêmico. Entende-se que as empresas estão economicamente interligadas e, por conta disto, a variação do índice sempre afeta direta ou indiretamente a cotação das empresas listadas em bolsa individualmente. O Beta é, justamente, a demonstração do quanto a ação varia se o índice variar.

“O beta do ativo alvo é a covariância entre o ativo e o mercado, dividido pela variância do mercado em uma janela de tempo específica. O Beta é uma medida que não é constante e varia em função da janela de tempo que você usa para calcular. Com o beta calculado, o investidor pode, então, vender contratos de índice futuro na proporção do resultado obtido, para que, assim, consiga receber ajustes financeiros proporcionalmente à desvalorização da carteira, obtendo a sua proteção”, explicou Matos.

Opções de Venda (puts) também são uma alternativa interessante para quem almeja um boa proteção e até obter ganhos com o aumento da volatilidade do mercado. Uma opção de venda é um contrato que garante, ao investidor, vender um ativo a um preço pré-estabelecido até uma data de vencimento pré-determinada. “O investidor que tem por objetivo se proteger de uma queda generalizada de preços no mercado brasileiro pode comprar puts de Ibovespa ou put de Bova11, que é a Exchange Traded Funds (ETF) – fundos de índices comercializados como ações –, capaz de replicar o índice. Os valores a serem investidos nesses seguros variam segundo o tamanho da carteira e o tempo de proteção, além da volatilidade do mercado”, ressaltou.

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