Orgulho para a classe!

Mulheres talentosas e de personalidade que fizeram história em SL

Personagens importantes são lembradas por O Estado, especialmente em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado neste domingo, 8

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

[e-s001]Se no século XXI, assuntos como o empoderamento feminino e, principalmente, luta por igualdades e outras melhorias são debatidos com facilidade, séculos atrás eram temas considerados verdadeiros tabus. Por isso, algumas representantes do sexo feminino, por suas personalidades e ideais políticos, se destacaram e, anos mais tarde, passaram a ser lembradas por suas carreiras, opiniões e, principalmente, atitudes.

Tratar sobre mulheres à frente de seu tempo é remeter a cidadãs que, por seus papéis na sociedade ludovicense e por seu destaque, cujas habilidades foram reconhecidas “além fronteiras da cidade”, permaneceram lembradas. O Estado contará parte da história de algumas delas, que mantiveram laços com a cidade, seja por batizarem ruas, escolas, viadutos ou pela ligação obtida com conhecidos espaços culturais.

Enquanto nomes como Ana Jansen e Maria Aragão são conhecidas de forma merecida e tiveram suas biografias plenas divulgadas por vários veículos de comunicação e outras ferramentas, mulheres como Catarina Mina e, principalmente, Maria Firmina dos Reis e Apolônia Pinto foram representativas nos aspectos da literatura e teatro, respectivamente.

As duas últimas, em especial, carecem de maior valorização e conhecimento pelos ludovicenses. Maria Firmina, por exemplo, foi a primeira romancista brasileira e uma precursora de seu tempo, por lutar pela causa escravocrata.
Mas, lembrar de mulheres a frente de seus tempos e descritas de forma tímida é contar a história de uma das divas do nosso teatro que, desde criança, começou a mostrar o seu talento.

Estrela que nasceu no camarim e ganhou respeito do país: a história de Apolônia Pinto
Uma das referências do teatro brasileiro e que fez carreira e história entre a segunda metade do século XIX e a boa parte do século XX foi Apolônia Pinto. Uma mulher que se aproveitou dos pensamentos liberais de uma sociedade que, aos poucos, criava mecanismos para equilibrar a igualdade entre os gêneros e se desgarrava da imagem de exploração social.

O seu próprio nascimento foi um misto de história real e ficção, pelo aspecto pitoresco. Nascida no dia 21 de junho de 1854, sua mãe, Adelaide Pinto (uma atriz relativamente conhecida) deu luz a Apolônia no Camarim nº 1 do Teatro S. Luiz (atual Teatro Arthur Azevedo).

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O espaço original, após intervenções, não existe mais, porém, os corredores do teatro apresentam, até hoje, um camarim que simularia o local onde ela teria nascido. O camarim, inclusive, é visitado por turistas e amantes da arte e contém fotos da artista em vida.

Pela relação familiar, Apolônia foi criada nos corredores dos bastidores de representações famosas. O talento era perceptível desde os primeiros anos de vida. Tanto que, no dia 21 de junho de 1866 (quando completou 12 anos), Apolônia já era protagonista na peça “A Cigana de Paris”.

O seu nascimento, inclusive, é descrito pela própria, em entrevista ao jornal “O Combate”, de 17 de novembro de 1936, pouco antes de deixar os palcos. Em uma das respostas, Apolônia expunha todo o seu orgulho por ter nascido desta forma. “Nasci num camarim do Teatro S. Luiz, em 1854, durante a representação de uma peça cujo nome não me recordo agora”, explicou.

[e-s001]A tal peça famosa foi organizada pela Companha Miró, da qual faziam parte os pais de Apolônia. O pai dela, inclusive, Feliciano Silva Pinto, era 1º ator e do cunho dramático. Na mesma entrevista, Apolônia também descreve a saudade da terra natal, já que, apesar de apresentações em São Luís, fez a sua carreira deslanchar em outras praças, especialmente o Rio de Janeiro. “Criei-me e eduquei-me na minha terra e dela guardo doces recordações”, disse.

Apolônia deixou a capital no início do século XX e pouco manteve contato com a cidade. Apesar disso, sempre procurava informações com a madrinha, Apolônia Fragoso, casada com o “bom” Agostinho Fragoso. À frente do seu tempo, não limitava seu papel apenas no teatro e costumava dar declarações fortes, reivindicando especialmente apoio para os artistas. “No Brasil, os artistas tem apenas o coração, e mais nada. Seria bom que houvesse amparo real, o das leis sociais, como aposentadoria por exemplo”, afirmou.

Em 1882, antes de ganhar repercussão nacional, Apolônia Pinto participou na capital maranhense do espetáculo “Um drama em alto mar”. Na representação, Apolônia era Joanna, uma criada que tentava vencer na vida. A direção era da própria artista ludovicense e consistia em cinco atos, ornada de música, composta pelo consagrado maestro português Alvarenga.

Além de atriz, Apolônia Pinto tornou-se empresária e financiadora de outras peças, como “As Indiscretas”, do original francês Dumanoir e “Mariquinhas dos Apitos”, produção do escritor brasileiro Anastácio do Bom Sucesso. No intervalo do apresentação, em solo ludovicense, executou-se uma “linda valsa” denominada de Apolônia Pinto.

Outra peça marcante da Grande Companhia Dramática, empresa de Apolônia Pinto, foi “Helena”, considerada a mais preciosa joia do teatro português. Na peça, Apolônia fazia a protagonista Helena e mantinha aspectos originais da história, composta pelo português Pinheiro Chagas.

Na estreia, na capital, houve elogios dos fãs do teatro. Inclusive, Apolônia Pinto fora definida nos jornais da época como uma “artista de merecimento, digna de entusiásticos aplausos”. Em 1900, Apolônia representou a Margarida de “O Fausto” e, ainda, personagens masculinos. Em 1905, retoma carreira em Portugal, onde também se destacou.

Vinte anos mais tarde e a artista volta para fazer carreira por países da América do Sul. Em 1923, ela vai até Montevidéu (capital do Uruguai) para apresentar “1830”, no Teatro Urquiza.

Em 28 de novembro de 1936, o jornal “O Combate”, por crônica descrita por João Luso, citou os últimos atos da carreira da ilustre e importante representante da arte do Maranhão. Segundo ele, assim que se conheceram, “Apolônia já fazia as damas centrais”. E ainda encarnava com perfeita expressão da verdade as mães de família, “sentindo deveras e fazendo prodigiosamente sentir a ternura singela mãe suspectível de todas as veemências”.

Em 24 de novembro de 1937, o plantão de “O Combate” trazia a informação do falecimento da artista, após ser acolhida pelo famoso Retiro dos Artistas . Segundo o periódico, todos receberam com consternação a notícia de sua morte. De acordo com o jornal, “na carreira que abraçou da qual fez verdadeiro sacerdócio, poucos foram os que conseguiram acompanhar-lhe os voos alcandorados”.

Os restos mortais de Apolônia Pinto são guardados em um espaço preservado no Teatro Arthur Azevedo. Nele, é possível ver a descrição do nome da artista, com as datas de nascimento e de morte.

[e-s001]Uma personagem que, sem dúvida, esteve a frente de seu tempo. Por seu talento, personalidade e, principalmente, espírito para manifestar-se a favor da classe e de seu gênero. Sem dúvida, uma ludovicense de respeito! Mas outros nomes também se destacaram entre as mulheres e também devem ser conhecidas e citadas.

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