Ensino

Especialistas apostam na tecnologia e escola integral na reformulação da educação

Profissionais ouvidos por O Estado destacaram a realidade aumentada como ferramenta de aprendizado nas salas de aula

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

[e-s001]O modelo de escola integral está se popularizando no Brasil. Dentre as vantagens, estão o aumento do rendimento escolar, favorecimento das atividades extracurriculares e orientação nutricional. Muitos professores apostam no novo modelo educacional como ferramenta de aproximação do aluno com a carreira que ele deseja. Aliado a isso, os docentes destacam o incremento da tecnologia para a produção do conhecimento em sala de aula, como a realidade aumentada. No Maranhão, esse progresso ainda é considerado tímido pelos especialistas em educação.

O professor de Artes e desenhista Tony Alves, durante entrevista a O Estado, disse que, na prática, a escola em tempo integral significa o envolvimento do aspecto emocional, da empatia, do conhecimento e do respeito à natureza nos estabelecimentos de ensino. No entanto, ele destacou que esse conceito não pode ser confundido, em hipótese alguma, com reforço escolar, que também é importante para o processo de ensino-aprendizagem, mas não é amplo.

“A educação no Brasil precisava de um novo vislumbre, até porque as demandas tecnológicas e outras situações, que envolvem o crescimento e Tecnologia da Informação, mostravam que a educação precisava ser reformulada”, pontuou o professor. De acordo com Tony Alves, foi muito importante que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) - documento que regulamenta quais são as aprendizagens essenciais a serem trabalhadas nas escolas brasileiras públicas e particulares de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio – tenha contemplado, em todos os aspectos, a oportunidade do oferecimento de uma escola digna aos alunos brasileiros.

Segundo ele, a educação permeia as 10 competências (elencadas na BNCC), que vão direcionar o que a escola deve fazer para que o discente tenha a possibilidade de desenvolvimento, nesse ritmo de tempo integral. “Quando falamos em educação integral, não significa fazer da escola um reforço escolar. A escola deve ser uma bússola para nortear o projeto de vida que todo aluno tem para si”, ponderou Tony Alves, que atua na área da docência há quase 20 anos.

Ele explicou que, dentro desse projeto de escola integral, se um aluno demonstrar interesse em cursar Medicina, por exemplo, esse discente será acompanhado pelos professores para conseguir esse objetivo. O ambiente escolar vai mostrar os meios para que isso aconteça. Uma das formas é promover o estudo da Biologia e outras atividades mais interativas. A alternativa seria despertá-lo para uma disciplina eletiva, que fará esse direcionamento.

[e-s001]Realidade no Maranhão
Ainda de acordo com Tony Alves, essa metodologia de ensino é muito comum na Europa e nos Estados Unidos da América (EUA), com ocorrências em outros locais do planeta. “Uma escola pública em Sidney, na Austrália, tem esse perfil, no qual o aluno estuda o que quer ser. Você experimenta outras áreas. As escolas devem se apresentar vislumbrando as habilidades, o lado socioemocional, e outros aspectos. De 800 horas de aula, vai passar para 1.800 horas. Por isso que se torna integral”, esclareceu o entrevistado.

No que se refere ao Maranhão, o professor destacou que esse projeto ainda está tímido, embora todas as escolas, públicas e privadas, tenham que aderir até 2023 em todo o Brasil. “Para ser integral, precisa de cozinha industrial, para que o aluno almoce. Precisa de ambientes temáticos. Por exemplo: se um aluno quiser estudar Matemática, haverá um lugar adequado para isso, como um que incentiva a exploração da Robótica”, enfatizou o docente.

Tony Alves comentou que algumas escolas maranhenses estão se adequando à realidade, mas, no geral, ainda estão desacolhendo as necessidades dos educandos. O desenhista ressaltou que essa adaptação é importante porque o Exame Nacional do Médio (Enem) será digital, como já anunciou o Ministério da Educação (MEC). “Vai ser um grande desafio. Alguns professores precisam se adequar a nova realidade. Todas as habilidades estão exigindo isso. Há professores que ainda dão aula como se dava há 30 anos. Isso não pode mais acontecer”, analisou o docente.

Em outras palavras, como frisou Tony Alves, o professor deve se ressignificar, para compreender o fenômeno de forma abrangente. Aquela ideia de aula com lousa, de acordo com o entrevistado, não tem o mesmo efeito cognitivo que uma aula interativa e dinâmica, com a presença de Ipad e outros recursos tecnológicos. “Não pode ficar estagnado. Os alunos serão protagonistas do processo. As escolas não podem excluir disciplinas, que são necessárias para integrar. Como acontece nos EUA e Europa, as notas do Fundamental e do Médio vão direcioná-los para a faculdade que pretendem fazer”, assinalou o desenhista.

Sobre o tema, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) informou, em nota, que a rede pública de Tempo Integral do Maranhão tinha, até 2019, 49 escolas em Tempo Integral, sendo 36 Centros Educa Mais (ensino médio em tempo integral) e 13 Iemas (ensino médio em tempo integral com educação profissionalizante). A partir deste ano, a rede contará com 25 novas escolas, que abrirão suas portas para centenas de estudantes, nos mais diversos municípios maranhenses. Serão 22 novos Centros Educa Mais, dois Iemas e uma Escola Bilíngue. No total, em 2020, serão 74 escolas ofertando educação em tempo integral, em todo o estado.

Nas escolas de educação em tempo integral, os alunos passam sete horas e 50 minutos, de segunda a sexta-feira, e possuem intervalos de 1h20 (almoço) e dois intervalos de 20 minutos para o lanche (manhã e tarde). Durante a permanência nas dependências da escola, os estudantes trabalham disciplinas eletivas definidas a partir de temas escolhidos por eles e pelos professores. Nos Iemas, além dos componentes da Base Comum Curricular, os estudantes optam por um curso profissionalizante, que é integrado ao Ensino Médio.

[e-s001]Realidade aumentada
Especialista da Apple para a área da educação, Antonio Ferro analisou, dentro desse contexto de escola integral e de atualização da BNCC, que não estamos precisando de uma nova tecnologia. Na verdade, o objetivo deveria ser utilizar as tecnologias existentes para os avanços no ensino. De acordo com o Apple Distinguished Educator (ADE), essa ferramenta, que será adaptada para as salas de aula, possibilitarão a incrementação de metodologias modernas para a aprendizagem.

Um dos pontos destacados pelo especialista é a realidade aumentada, que diz respeito a um ambiente de imersão criado por meio de ferramentas computacionais no qual o usuário realiza determinadas tarefas. Também conhecido como “realidade expandida” e “realidade ampliada”, o recurso agrega muito em um ambiente de sala de aula, ainda mais quando técnicas antigas de transmissão de conteúdo são preponderantes, o que não coloca o aluno no centro do processo educacional.

“É um recurso grandioso. Traz para dentro da sala de aula, na mão do professor e do aluno, uma diversidade de conteúdos que podem ser trabalhados em novas formas de aprendizado”, salientou o especialista. Ele pontuou que um tablet, na realidade aumentada, possibilita que o aluno não perceba o aparelho como um objeto de entretenimento, e sim como uma experiência de conhecimento.

Se cada aluno tiver acesso a um tablet, assim como o professor, o grupo junto vai observar um sapo, por exemplo, na realidade aumentada, como se o animal estivesse ali, na sala de aula. É possível dissecar o anfíbio, para que os discentes conheçam sua estrutura muscular. “O protagonismo do aluno se torna permanente. Antes, a gente tinha a realidade aumentada pronta. Agora, você pode criar a sua própria realidade expandida. É um leque de possibilidades. Esses aplicativos fornecem uma gama de conteúdos”, pontuou Antonio Ferro.

Dez competências
A BNCC estabelece as 10 competências gerais para nortear as áreas de conhecimento e seus componentes curriculares. Segundo o documento, o desenvolvimento dessas competências é essencial para assegurar os direitos de aprendizagem de todos os estudantes da Educação Básica. Dentre as quais, podemos citar a valorização e utilização dos conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital.

Outra competência é exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade. Além de exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promover o respeito ao outro e aos direitos humanos.

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