Vida Educação

Crianças que têm dificuldades na fala podem não ouvir bem

Mesmo tendo feito o Teste da Orelhinha ao nascer, é fundamental que a criança passe por novos exames ao longo da infância, pois a perda auditiva pode ser genética, progressiva ou ser causada por infecções e prejudicar fala

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Quanto mais cedo for diagnosticado, melhor para o desenvolvimento da criança
Quanto mais cedo for diagnosticado, melhor para o desenvolvimento da criança (ouvir)

Rio de Janeiro - A dificuldade para ouvir pode afetar a vida de uma criança de várias maneiras. Uma delas é no desenvolvimento da fala. Por isso, é importante que os pais estejam atentos a um possível atraso na linguagem oral, nos primeiros dois anos de vida, a fim de que a criança não sofra efeitos negativos em seu desenvolvimento e que podem causar embaraços por toda a vida.

Apesar de o atraso ou dificuldades na fala, além da falta de diálogo, serem os sinais mais importantes de perda auditiva, muitos pais relacionam esses problemas a outros distúrbios e só buscam tratamento quando novos sintomas começam a surgir. Diagnósticos equivocados e o costume de esperar que a criança desenvolva o diálogo naturalmente podem acarretar danos irreparáveis na infância e até na vida adulta; além de atrasar o tratamento do déficit auditivo.

“Quanto antes o tratamento for iniciado, maiores as chances de desenvolvimento da criança, além de melhores resultados no processo de tratamento que possibilitam que o desempenho comunicativo seja alcançado mais rapidamente, muito próximo ao de crianças ouvintes”, explica Marcella Vidal, fonoaudióloga da Telex Soluções Auditivas, especialista em tratamento infantil, que complementa: “a perda auditiva pode ser diagnosticada com uma audiometria, um exame simples que detecta a doença em até 90% dos casos, dependendo da idade e da colaboração da criança”.

Mesmo que a criança, quando recém-nascida, tenha passado pelo Teste da Orelhinha sem apresentar alterações, ao menor sinal de dificuldade na fala é importante que ela seja submetida a novos exames, pois a perda auditiva pode ser genética ou progressiva, ou mesmo ser causada por medicamentos ototóxicos ou por infecções, como sarampo, rubéola e meningite, se manifestando, portanto, ao longo da infância. Exames como o PEATE (Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico) e o EOA (Emissão Otoacústica) podem detectar o grau de perda auditiva, servindo como ponto de partida para que o médico otorrinolaringologista indique o tratamento mais adequado para cada caso.

“O processo de maturação do sistema auditivo central ocorre durante os primeiros anos de vida. Por isso, a estimulação sonora neste período de maior plasticidade cerebral é imprescindível, já que para o aprendizado da linguagem oral e, consequentemente, o desenvolvimento intelectual, emocional e de habilidades, é preciso que as crianças interajam com seus interlocutores e, assim, estabeleçam novas conexões neurais. É importante enfatizar também que há diferenças entre ouvir e escutar. Os sons que entram pelos ouvidos precisam fazer sentido, ter significado”, pontua a fonoaudióloga da Telex, que é especialista em audiologia.

Com o passar do anos, por causa da falta de diálogo com outras pessoas, a perda auditiva afeta a socialização e a autoestima das crianças e também pode prejudicar bastante seu desenvolvimento cognitivo e alfabetização. De acordo com o Censo Escolar, entre 2011 e 2016 houve redução de 23% no universo de estudantes surdos, o que dá a entender que esse público estaria deixando a escola. Não raro, há pessoas que só identificam a perda auditiva na universidade e descobrem que problemas de aprendizagem e até mesmo o déficit de atenção diagnosticado na infância eram, na verdade, oriundos de dificuldades para ouvir.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que aproximadamente 32 milhões de crianças, no mundo inteiro, têm algum tipo de deficiência auditiva, sendo que 40% dos casos ocorrem devido problemas genéticos e 31% por infecções, como sarampo, rubéola e meningite. No Brasil, segundo dados do Censo de 2010 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), um milhão dos 9,7 milhões de pessoas que têm deficiência auditiva são jovens de até 19 anos. Estima-se que três em cada 1.000 crianças sofrem algum tipo de perda auditiva.

OUTROS ESPECIALISTAS

Os pais tendem a acreditar que se a criança balbucia é porque não apresenta nenhum comprometimento das capacidades cognitivas. No entanto, balbuciar é comum naqueles que ouvem e nos que não ouvem, porque envolve apenas uma das funções de linguagem – a diferença é que a criança com problemas auditivos vocaliza sons sem o objetivo de se comunicar.
Outra crença muito popular afirma que é preciso esperar até que a criança que não fala complete 2 anos para se preocupar. “Se os pais percebem que a criança não olha quando a chamam e que não se distrai com sons, não deve aguardar até os 2 anos para levá-la ao médico. Eles devem ficar atentos e tomar uma atitude muito antes disso”, afirma o otorrinolaringologista Brito Neto.

Deve-se procurar um médico antes que ele complete 1 ano de vida, pois depois dessa fase a surdez é muitas vezes irreversível. Há vários métodos para reverter a falta de audição, como o uso de aparelhos e o implante, que pode ser aplicado desde os primeiros meses de vida do bebê. “Nos casos em que a criança nasceu prematura, com baixo peso ou tomou muitos antibióticos nos primeiros meses de vida é obrigatório fazer um teste de audição, mesmo que os pais não suspeitem de nenhum problema. A criança pode conseguir escutar, mas pode não ter boa audição”, diz Brito Neto.

O otorrinolaringologista Norimar Hernandes Dias explica a que os pais devem estar atentos, seja qual for a idade da criança: “Nos recém-nascidos, observe se o bebê para de chorar ao ouvir a voz da mãe, se se assusta com sons ou acorda com barulhos. Para as crianças mais velhas, veja se ela responde aos chamados distantes, se ouve a televisão em volume muito alto ou se tem um bom desempenho na escola.”

A criança que tem problemas de audição pode sofrer vários prejuízos, caso a deficiência não seja identificada e tratada logo. “Esses distúrbios afetam imensamente a qualidade de vida da criança, levando a atrasos no amadurecimento emocional, educacional e social. A criança acaba não conseguindo se relacionar com o mundo ao seu redor e preferindo ficar isolada”, conclui Dias.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.