Saudosismo

Da boêmia à juventude e elemento de nostalgia: a tradição dos bares

Enquanto alguns estabelecimentos se mantêm em eterno anonimato, outros, seja pelo ambiente e/ou criatividade dos proprietários, são mais conhecidos e não devem ser esquecidos; O Estado apresenta alguns deles

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

[e-s001]A lógica de convivência em grupo e a necessidade que todo ser humano tem de viver em coletividade fez com que, desde antes de Cristo, surgissem locais em que era possível conversar, bater um papo e interagir entre familiares e conhecidos. Estar em um bar é, de costume, criar laços de proximidade com pessoas que, em outro local, não seriam tão próximas. É curtir uma música, uma boa conversa, quase sempre bem servido com boas doses de bebida e outras delícias.
Frequentar um estabelecimento do gênero pode ser ainda um exercício do tempo. Uma nostalgia que diferencia um de outro bar, independentemente do cardápio ou endereço. Pode ser ainda uma referência aos mais jovens ou a um bairro, ou ainda uma lição de vida pela história de seus donos.

Em São Luís, os primeiros bares são ainda do período colonial. Assim como em outras partes do Brasil, a capital maranhense acompanhou a tendência de formação destes empreendimentos durante a permanência lusa. A referência na cidade é o início do século XIX. Não há, em registros oficiais, uma certeza sobre o primeiro bar montado no país e estado.

No mundo, o bar (que faria referência à expressão “barra”, onde a maior parte dos clientes permanece, apoiando os pés e desfrutando de iguarias servidas) registra existência no território babilônio. Especula-se que a partir de 1.772 a.C. (antes de Cristo) eram catalogadas na sociedade as chamadas tavernas, estabelecimentos fechados onde eram servidas bebidas e outras especiarias.

À época, os bares serviam como elementos de entretenimento e, ao mesmo tempo, de necessidade. As antigas tavernas serviam como recebedores de quem queria degustar uma cerveja ou por quem apenas buscava uma moradia temporária. Na Europa, no período do velho oeste, havia os chamados saloons, onde os vaqueiros e outros integrantes da sociedade amarravam seus animais e consumiam, em especial, uísque e conhaque.

Um dos países europeus que, até hoje, são referência quando o assunto é bar é a Inglaterra. Nos séculos XV e XVI, começou o boom de abertura dos bares em várias esquinas das principais cidades. Até hoje, existem os chamados pubs, com a lógica de bares, e que misturam música, dança e muita bebida.

Mas a linha mais estilizada nem sempre é seguida por donos destes estabelecimentos. Um exemplo disso é o Bambu Bar, um dos pontos do gênero mais conhecidos na cidade e situado na Rua Nestor Ferreira, no bairro Sá Viana, área Itaqui-Bacanga. Outro estabelecimento que foge a esta regra mais casual e pensa no estilo é o Bar do Léo.

[e-s001]Ambiente da boemia e saudade
Entre as esquinas das ruas do célebre bairro do Vinhais, mais especificamente na feira do bairro, está situado um dos bares mais famosos da capital maranhense e que, há mais de três décadas, serve bebidas e iguarias únicas. Administrado por Leonildo Peixoto, o Bar do Léo (que carrega a abreviação do nome de seu proprietário) é emblemático, pela localização, tempo de permanência e, principalmente, pela valorização da memória – seja na música, arte, política e outros setores.

Quem jamais foi ou pisou no local, se espanta com a quantidade de itens antigos colecionados por seu Léo e que servem como elementos de decoração do ambiente. São discos antigos, velhos rádios, objetos de valor sentimental (como antigos ferros de passar movidos a carvão) e outros utensílios que, individualmente, carregam histórias e suscitam boas conversas.

Para seu Léo, carregar parte da história brasileira em discos e outros itens e usar os materiais como ornamentação do espaço não é a grande sacada do bar. “É na verdade o bom ambiente, a tranquilidade, o bom papo, a bebida gelada. Se não tivesse estes e outros itens, provavelmente não servia de nada ter todas estas atrações. Pelo contrário...”, afirmou seu Léo.

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E as capas dos discos não são apenas objetos de decoração. Em cada um deles, há aquela gravação original que, a pedido dos clientes mais especiais, é colocada na velha vitrola ainda em funcionamento que, por sua vez, propaga aquele som que faz qualquer um que tem memória e lembranças viajar no tempo. “Aqui a gente faz o que for necessário para agradar ao cliente. É ele quem manda , quem diz o que pode tocar. Mas atenção, somente os clientes mais especiais [risos]”, diz seu Léo.

Acervo de itens e ornamento
Quem vai pela primeira vez ao Bar do Léo se espanta com a quantidade de itens originais de peças e discos que, de tão conservados, parece que foram fabricados há pouco tempo. São peças musicais, objetos de casa (com baús, antigos ferros de passar), além de coxos, artigos de peça, brinquedos de madeira. Enfim, tudo o que possa virar item de decoração está no espaço destinado ao bar.

No começo, de acordo com o proprietário, não havia esta preocupação com a conservação deste rico material. “Num primeiro momento, não tinha essa preocupação. Aos poucos, fui juntando alguns velhos rádios, colocando aqui em volta do estabelecimento. Os rádios se juntaram com outros itens, e ai foi ficando isso aqui que vocês estão vendo”, afirmou.
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O conhecido proprietário de bar de São Luís já perdeu as contas de quantos itens possui. “Até três anos atrás, ainda fazia essa conta. Hoje não tenho nem ideia. É algo que não me preocupa mais”, afirmou.

Um dos últimos itens angariados por Léo foi uma antiga charrete. Em breve, para os frequentadores, está vindo uma antiga “lambe-lambe”, câmera usada popularmente pelos profissionais fotógrafos que desejavam os cliques mais clássicos e posados.

A tradição dos bares na capital maranhense e que ainda sobrevive

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