Os bares da moda

Ponto de encontro da juventude, "palco do poeta" Diniz e points

Estabelecimentos que já fecharam e os que ainda marcam época ainda são comuns na capital maranhense; outros representam apenas a lembrança

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

[e-s001]Em São Luís, é comum ver grupos de amigos reunidos em volta de uma mesa ou escorados em um balcão de um bar, seja proseando sobre a política, o time de coração ou qualquer outro assunto. Uma tradição que, a priori, não possui uma origem certa na cidade. O costume de se abrir um bar é mais comum em bairros da periferia e/ou em regiões próximas ao Centro e adjacências.

O Estado, nas últimas semanas, buscou lembranças e informações de bares que ainda permanecem abertos e vivos na preferência da clientela e outros que marcaram época em endereços tradicionais. Se por um lado alguns donos deles apostam ou apostaram na excelência na oferta de espaços, outros pensaram que o simples pode vir a ser atrativo.
Um exemplo desta despreocupação com a lógica do espaço é o famoso Bambu Bar, um estabelecimento com estrutura simples e que, há décadas, atrai em especial o público universitário.

Três décadas do Bambu Bar
Quando começou o ano de 1990, no bairro Sá Viana, um senhor humilde chamado José Carvalho Garcês teve a ideia de abrir em uma restrita área comercial um bar para receber inicialmente frequentadores da própria localidade. Anos mais tarde, e devido à proximidade com o campus da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o bar – já ornamentado na fachada com bambus, mas sem ainda a referência ao nome tão famoso – começa a ganhar popularidade.

Era o impulso que o bar precisava para cair no gosto do povo. Com um ambiente acolhedor, aos poucos os calouros e veteranos passaram a se encontrar no bar que era feito “de bambus”. “A comunidade acadêmica foi muito importante para que o nosso bar passasse a ser ainda mais conhecido”, disse Valtinho do Bambu, um dos proprietários atuais do estabelecimento.

Lurdimar Garcês Fonseca, esposa do fundador falecido do Bambu Bar, lembra com carinho daquele 16 de fevereiro de 1990, dia de abertura do local. “Era muita gente, mas ainda não estava no gosto do pessoal da universidade. Isso foi depois”, afirmou.

No expediente inaugural, show de Roberto Ricci (que começou a apresentação por volta das 17h) e seresta durante praticamente toda a noite. Com a concentração acadêmica e popularidade, o bar executou melhorias e colocou mesas de sinuca, por exemplo.

Atualmente, do Bambu Bar, é possível apreciar uma das mais belas vistas da cidade (do Rio das Bicas e Ponta d´Areia). Uma programação especial está sendo montada para lembrar as três décadas do local. Para José Carlos Fonseca, um dos fundadores vivos do Bambu Bar, falar do espaço é também mexer com as emoções. “Isso aqui é nossa vida, a nossa família toda está envolvida nisto aqui. É muito bom saber que as pessoas ainda valorizam este espaço”, disse.
A direção do bar pensa em expandir a marca para outros bairros. Os donos receberam convites para abrir novas unidades. “Estamos vendo como faremos, mas nada está descartado”, afirmou Valtinho do Bambu.

Clientes de longe
Não somente a rapaziada e mulherada da UFMA frequenta o espaço. Pessoas de outros bairros e universidades também organizam eventos e reuniões sociais no local. “A gente já ouve falar de Bambu Bar há muito tempo. Mas até conhecer, fica naquela curiosidade. Aqui é bem legal, todas as tribos são aceitas e faz parte da nossa vida conviver por aqui”, disse Leidiane Lopes, de 25 anos, universitária e fã do Bambu Bar.

[e-s001]Bar de Paulo Diniz e outros: lembranças do Odara, do Apeadouro
Nas esquinas do conhecido bairro do Apeadouro (cuja história fora contada por O Estado no ano passado) existia um antigo bar entre os anos de 1992 e 1995, marcante pela trilha e por ser ponto de encontro. O bar Odara (em referência à canção famosa de Caetano Veloso), com sua estrutura simples, mas charmosa, e que confirmava a simpatia no bom atendimento, reunia não somente moradores apeadourenses como ainda pessoas de outros bairros e, há quem garanta, até de outros estados.

O endereço era a Rua Padre Manoel da Nóbrega – ao lado da Avenida dos Franceses - nas proximidades do Monte Castelo. O grande diferencial do bar era a capacidade de atrair nomes consagrados para tocar uma música ou fazer um som maneiro, de vez em quando.

É inesquecível na memória de quem viveu a “passagem do poeta” Paulo Diniz. O cantor e compositor pernambucano conhecido por suas canções, como “Um chope pra distrair” e “Quero voltar para a Bahia” era o mais ouvido, apesar de nunca ter pisado no antigo bar. As caixas de som ressoavam as músicas de uma das vozes regionais mais conhecidas da história.

Até mesmo distante, era possível ouvir – vindo das desgastadas caixas de som do bar – a trilha oriunda de um poeta do agreste. “Bem localizado, o bar era um point para namorar, paquerar e apreciar o movimento da Avenida dos Franceses”, disse o professor e pesquisador, Ed Wilson, nascido e criado no Apeadouro.

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As lembranças ainda existentes do velho Odara
Na fachada de onde já funcionou, não há mais sequer o letreiro ou a referência no muro acerca do antigo Odara. Mas engana-se quem pensa que tudo foi perdido. Pelo contrário, os antigos LPs e sons usados no velho estabelecimento ainda permanecem guardados na “suíte” do morador de quatro décadas do Apeadouro, Braga Filho.

Para ele, lembrar-se do Odara é viajar no tempo e nas boas recordações. “Para mim, não havia outro lugar igual. Era um berço de boa gente e, apesar de pequeno, era um lugar único e que parecia que acomodava todo o tipo de pessoa”, disse.

O começo do estabelecimento remonta a uma quase tragédia. Em fevereiro de 1991, o professor, historiador e um dos responsáveis pelo Odara, Ed Wilson, sofreu um acidente automobilístico grave e, impossibilitado de locomover-se, passou a vender churrasquinho em frente a casa da mãe, no Apeadouro.

O negócio deu tão certo que foi preciso construir um lugar para vender o alimento. “Tinha um conhecido com um trator, que limpou o terreno. Depois, fizemos com uma estrutura simples os primeiros alicerces. Por fim, foi só pensar no nome”, disse.
Não há, por ora, nenhum projeto para retomar as atividades do Odara. Apenas o sentimento positivo de quem passou boas horas curtindo um som “maneiro” vindo do bar famoso.

Outros bares
Um dos bares mais lembrados e que marcaram época no cotidiano ludovicense foi o antigo Carajás. Situado na Avenida Colares Moreira, no São Francisco (ao lado da agência dos Correios), o prédio – atualmente “abandonado” – abrigava pessoas de várias partes da cidade. Era uma espécie de happy hour durante a semana e um ponto de encontro marcante de amigos.

Há quem diga que o local também era usado como rota de fuga para quem não queria ficar no trampo até mais tarde e desejava tomar o quanto antes aquela bebida refrescante. Estima-se que o bar permaneceu aberto até meados da década de 1980. Depois do fechamento, o Bar Carajás não foi reaberto em outro ponto.

Outro estabelecimento do gênero bastante conhecido do público amante da boa música e bebida é o “Ponto de Fuga”, situado na Madre Deus. O bar é estratégico e fica no coração da cultura da capital maranhense ao lado do Largo do Caroçudo. No local, é comum ver grupo de músicos fazendo aquela roda esperta de samba e moradores batendo aquele papo sobre política, cultura e, principalmente, esportes.

O original “Ponto de Fuga” fica no Largo do Caroçudo. É em frente ao bar que, por exemplo, há a concentração do desfile da charanga C.de Asa, que desfila pelas ruas da Madre Deus em 25 de dezembro. Lá, também há o “esquenta” da Máquina de Descascar´alho, grupo que abriu os trabalhos do Carnaval deste ano.

O setor de bares em expansão
Apesar da recessão financeira vivida no país, especialistas afirmam que o cenário para a abertura de empreendimentos, como bares por exemplo, ainda é favorável. De acordo com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o setor de bares e restaurantes (que recebe a classificação de “alimentação fora de casa”) expande cerca de 10% ao ano.

No país, levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) aponta que o segmento é responsável por gerar 450 mil novas oportunidades de trabalho. Somente a função de garçom equivale a 60% do total de empregos gerados.

Economistas entendem que o segmento passa alheio aos reflexos da elevação da taxa de juros e da inflação. Somente em 2018, no país, foram movimentados R$ 250 bilhões oriundos da comercialização de bebidas e serviço de alimentos relacionados a bares.

[e-s001]O segredo do Bar do Léo – a boa música e a tripinha frita

É unanimidade afirmar que o segredo da popularidade de décadas do Bar do Léo, na feira do Vinhais, é a música selecionada e ainda propagada pelas velhas e conservadas caixas de som instaladas no estabelecimento. É a trilha que dá o clima para o frequentador se sentar, esquecer dos problemas do dia a dia, se deliciar com uma cerveja bem gelada e com um dos muitos petiscos ofertados pelo anfitrião. Falando em iguarias, uma das mais emblemáticas e marcantes do local é a tripinha frita. A matéria-prima, vinda de fornecedores únicos há vários anos, é temperada apenas com sal e limão e, ao ser
colocada na frigideira em uma mistura de óleo quente e outros itens, produz um alimento único.

Acompanhada por uma apetitosa vinagrete e farinha d´água (com limão para quem quiser ou uma pimenta caseira), o prato é uma das vedetes da casa. “É sem dúvida o prato que mais sai por aqui”, afirmou Léo.
Além da tripinha famosa, há outras delícias para quem, digamos, quer um prato mais caseiro e tradicional. Desde a carne de sol, passando por peixes e frutos do mar, o que há de mais típico na culinária maranhense e de outros estados é encontrada no Léo. O que ainda chama a atenção dos clientes é o uso por parte do proprietário do espaço da Feira do Vinhais. Mesmo com as bancas fechadas e expediente interno de compras encerrado, o Bar do Léo mantém a tocada do expediente. O local funciona desde 1979 de terça a domingo, das 17h às duas da manhã do dia seguinte. E nem uma hora a mais ou a menos.

“Quando dá duas da manhã, definitivamente estou encerrando. Aconteça o que acontecer”, afirmou Léo. A regra é tão seguida que, de acordo com ele, em uma oportunidade foi necessário “expulsar” até um famoso governador do Estado. “Ele [gestor] veio aqui com a turma dele, e quando deu duas da manhã foi o jeito falar para ele sair. Na outra vez que veio, preferiu vir mais cedo pois já sabia da norma [risos]”, afirmou.

Clientes de fora apreciam
Em pleno dia de semana, seu Léo – ao abrir para mais um dia de trabalho – recebe um grupo de turistas do Distrito Federal. Elas souberam do bar pela internet. “Nossa, mas só se falava nesse tal bar, e realmente valeu a pena a visita!”, disse Iracema Castro, que veio com a irmã Raquel Castro e a filha, Mariane Castro, ao local conhecido.

No cardápio, uma cerveja gelada e petiscos. “Além, claro, dessa música maravilhosa”, disse Raquel Castro ao curtir uma trilha marcada por Roberto Carlos num fim de tarde nublado no bar do Vinhais.

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