Protestos

Mobilizações contra reforma da Previdência crescem na França

Governo reafirma ''total determinação'' de levar adiante mudanças, mas marca reunião com sindicatos; ferroviários, professores e funcionários públicos estão mobilizados há 13 dias

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Manifestantes balançam bandeira gigante da França em protesto contra reforma
Manifestantes balançam bandeira gigante da França em protesto contra reforma (Reuters)

PARIS - Sindicatos franceses interromperam o transporte público, fecharam escolas e levaram centenas de milhares de manifestantes às ruas das maiores cidades do país ontem, 17, em um esforço intenso para forçar o presidente Emmanuel Macron a abandonar seus planos de reformar a Previdência, um dos pontos centrais de sua agenda.

Segundo jornais, embora não haja ainda cálculos oficiais do número de pessoas ao redor do país, os protestos pareciam no mínimo ter igualado os 800 mil manifestantes que foram às ruas há duas semanas.

A convocação para os protestos foi bem sucedida na intenção de reanimar uma das maiores ondas de greves e protestos em décadas, que, após um começo vigoroso, tinha começado a perder fôlego na última semana.

Ferroviários, professores e funcionários públicos estão mobilizados há 13 dias. Após o dia de manifestações, o primeiro-ministro Édouard Philippe deve se encontrar com representantes de sindicatos e de empresários nesta quarta-feira à tarde.

Enquanto acontecia o protesto, Philippe reafirmou no Parlamento a "total determinação" do governo de avançar com a reforma.

"Minha determinação, a do governo e a da maioria (parlamentar), é total", disse ele aos deputados. "A oposição democrática e sindical ao nosso projeto é perfeitamente legítima. Mas declaramos claramente qual era o nosso projeto, e meu governo está totalmente determinado a reformar o sistema de aposentadorias e equilibrar o orçamento do sistema".

Centrais sindicais

Os protestos de ontem,17, foram a primeira vez desde 2010 que as cinco principais centrais sindicais francesas (CFDT, CGT, FO, CFTC e CFE-CGG) fizeram uma convocatória conjunta. Na ocasião, a mobilização também foi contra uma reforma da Previdência, proposta por Nicolas Sarkozy, que acabou sendo aprovada, embora tenha sido considerada tímida.

"Quando todos os sindicatos dizem 'não queremos essa reforma', o governo deve repensar", disse Philippe Martinez, chefe da Central Geral dos Trabalhadores, na Praça da República em Paris. "Eles precisam abrir os olhos e destapar os ouvidos".

Os protestos tiveram força principalmente em Paris, onde as lojas foram fechadas nas ruas próximas à marcha, que, segundo a CGT, reuniu 350 mil manifestantes. Para inibir depredações, a tropa de choque da polícia se enfileirou nos dois lados do Boulevard Beaumarchais e ergueu barricadas na rotatória da Praça da Bastilha. Um caminhão de canhão de água estacionou nas proximidades.

No final do protesto, em geral pacífico, um confronto entre um grupo de manifestantes e policiais foi registrado. O grupo de manifestantes, que teria ignorado um ultimato para se dispersar, arremessou pedras e coquetéis molotov contra as forças de segurança, que lançaram gás lacrimogêneo para afastá-los.

Serviços suspensos

A greve forçou a maioria dos trens de longa distância, trens e linhas de metrô de Paris a suspender o serviço. Até a Torre Eiffel estava fechada. Muitas escolas estaduais foram fechadas ou tiveram aulas reduzidas. A operadora de rede RTE culpou a greve por falta de energia em Lyon.

De manhã, as estradas estavam cheias de pedestres, bicicletas e motos elétricas, enquanto as pessoas iam para o trabalho. Dados oficiais sugeriram que o número de ferroviários participantes da greve havia aumentado, embora o número de professores tenha diminuído.

"Queremos justiça social", disse Veronique Ragot, editora de livros de 55 anos. "Vimos nossos benefícios sociais derreterem ao Sol, e essa foi a gota d'água".

Pressão

Os sindicatos e Macron esperam pressionar um ao outro a recuar antes do Natal, com a perspectiva de que greves durante o feriado frustrem cada vez mais amplos setores da população.

Na segunda-feira, em meio à crise, Macron sofreu um golpe, com a renúncia do alto comissário do país para a Previdência, Jean-Paul Delevoye, que deixou o cargo após virem a público denúncias sobre suas atividades profissionais não declaradas, que gerariam conflito de interesse em relação ao cargo.

Uma das promessas de campanha que levaram Macron à Presidência, o plano de reforma previdênciária prevê o fim de 42 regimes especiais e a adoção de um sistema de Previdência “universal”, com regras iguais para o cálculo das aposentadorias. O sistema previdenciário francês é considerado um dos mais generosos dentro da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), com pagamentos que representam, em média, 75% da renda antes da aposentadoria, em comparação com a média de 58% nos países ricos.

Macron quer alinhar o setor público ao privado, e, também, aumentar a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos. Apenas os nascidos após 1975 seriam afetados.

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