Protesto

Índios ocupam prédio pelo 3º dia e ameaçam interditar rua na Jordoa

Mais dois índios chegaram para reforçar o movimento de ocupação; grupo anunciou que vai fazer um protesto em frente ao prédio do Distrito Sanitário Indígena; eles estão exigindo a construção de uma casa de saúde

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Índios reclamam da ausência de uma casa de saúde, pois a única existente fica muito longe das aldeias
Índios reclamam da ausência de uma casa de saúde, pois a única existente fica muito longe das aldeias (índios)

Um grupo composto por 47 índios continua ocupando o prédio do Distrito Sanitário Especial Indígena do Maranhão, localizado no bairro Jordoa, em São Luís, em protesto por melhorias nas aldeias dos povos Geralda de Toco Preto e Urucu Juruá, da cidade de Itaipava de Grajaú/MA. Eles estão aguardando a chegada de mais 200 membros da etnia Guajajara, para reforçar o movimento. E também prometeram interditar a Rua 5 de Janeiro, caso suas reivindicações não sejam atendidas.

Nesta quarta-feira, 11, chegaram mais dois índios da Geralda Toco Preto, para aumentar o grupo que está acampado no Distrito Sanitário, segundo informado pelo cacique Cássio Timbira. Os indígenas estão no local desde o último dia 9, quando vieram em duas vans do município de Itaipava de Grajaú. No pátio, eles montaram redes de descanso. Alguns estão posicionados na recepção, por onde passam os funcionários.

Membro da Geralda de Toco Preto, Cássio Timbira disse que está pedindo ao Governo do Estado a compensação financeira, pois gastaram com transporte e alimentação para se manterem no prédio. Somente em locomoção, o valor é de R$ 5 mil, como o cacique frisou. “Nós estamos reivindicando o que é um direito básico de sobrevivência. Nas aldeias, as condições estão precárias. Queremos melhorias. Não é um favor que estamos pedindo. É obrigação do Estado oferecer condições de vida às pessoas”, declarou.

Reivindicações
Os índios estão exigindo a construção de uma casa de saúde, pois as comunidades não possuem. Quando adoecem, eles se deslocam para a parte urbana de Itaipava de Grajaú. A distância, dependendo do povo, varia de 25km a 50km. O cacique José Amorim Guajajara, da Urucu Juruá, disse que o caminho até as unidades hospitalares é repleto de obstáculos, o que dificulta o tráfego de veículos.

“Nós somos 1.300 pessoas, em 19 aldeias. O território da Geralda é composto por 4 aldeias, com aproximadamente 320 pessoas. A distância até a cidade é muito grande. Demora muito. É capaz até do paciente morrer no percurso”, expressou o cacique. Ele pontuou que existe apenas uma escola em Urucu Juruá, mas a estrutura é precária. As paredes estão desgastadas, de acordo com José Amorim.

“Os alunos estão sem estudar. Eles pararam no Ensino Fundamental, porque não tem espaço para o ensino médio. Isso é um absurdo”, desabafou a liderança indígena. Outra reclamação é sobre a energia elétrica, pois o fornecimento só ocorre em algumas aldeias. Quando anoitece, os locais ficam praticamente na escuridão. A iluminação fica por conta de lamparinas e fogueiras.

Além disso, os índios pedem água encanada, uma vez que o abastecimento é inexistente em algumas aldeias dos dois povos.

Promessa de interdição
Caso a situação nas aldeias não seja resolvida, os índios anunciaram que vão interditar a Rua 5 de Janeiro, na Jordoa, na manhã de hoje, 12. Essa manifestação será feita com o reforço de mais 200 indígenas que devem chegar a São Luís vindos de Itaipava de Grajaú. “Vamos fechar tudo aqui. Não vai passar nenhum veículo. E também vamos ocupar esse prédio por completo, para que o atendimento seja interrompido. Vamos fazer isso para que o Estado olhe para os nossos povos, que precisam desses investimentos”, comentou Fábio Timbira.

Reunião
Uma reunião entre os índios e representantes do Governo do Estado aconteceu na terça-feira, no prédio do Distrito Sanitário. Mas, segundo o grupo que ocupa o local, não houve avanço no diálogo. Dessa vez, ocorreria ontem, com outros convidados, como a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional maranhense (OAB/MA), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Secretaria de Estado da Saúde (SES) - mas, não ocorreu.

Outros protestos
Não foi a primeira vez que índios de Itaipava de Grajaú se manifestam pedindo melhorias nas comunidades. Em setembro de 2015, eles reivindicaram avanços na infraestrutura da única escola existente na região, que reúne cerca de 350 indígenas, entre crianças e jovens. O grupo pedia material de estudo e assentos para os estudantes, pois os alunos estavam assistindo às aulas sentados no chão.

Também foi reclamado sobre a qualidade da merenda escolar. Na época, o professor Fábio Timbira expressou que os alunos estavam há quatro meses sem lanches na unidade de ensino. “A merenda escolar aqui ela atrasa. Passa até quatro meses sem vir. Esse ano a gente já recebeu uma parte porque foi atrás”, declarou o docente.

O Estado manteve contato com o Governo do Estado, mas, até o fechamento desta edição, não houve resposta.

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