Reforço

Força Nacional atuará por 90 dias em área indígena em conflito no Maranhão

Efetivo chega hoje ao estado; ministério autorizou ontem o envio da FNSP à Terra Indígena Cana Brava, onde dois caciques foram mortos

Nelson Melo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Clima de comoção marcou o sepultamento de um dos índios mortos
Clima de comoção marcou o sepultamento de um dos índios mortos (Sepultamento)

São Luís - - Foi anunciado, nessa segunda-feira, 9, o envio da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) à Terra Indígena Cana Brava, na região de Jenipapo dos Vieiras/MA, onde dois caciques foram mortos em um ataque que aconteceu no início da tarde de sábado, 7. O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) autorizou o deslocamento do efetivo para reforçar o patrulhamento no local durante 90 dias. A Polícia Federal (PF) está investigando o caso e já recebeu um relatório da Polícia Civil acerca da ocorrência.

O anúncio do envio da Força Nacional ao Maranhão foi realizado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, em suas redes sociais. O objetivo, segundo frisou, é evitar qualquer novo incidente criminoso no território indígena, entre as aldeias Boa Vista e El Betel, às margens da BR-226, e também apoiar a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a PF, durante 90 dias, com previsão de prorrogação, caso seja necessário.

O efetivo deve iniciar os trabalhos no Maranhão já nesta terça-feira, 10, até o dia 8 de março, segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública. O número de servidores deslocados, porém, não foi informado. O MJSP já havia declarado, no domingo, 8, que poderia autorizar a participação da FNSP no reforço da segurança em Jenipapo do Vieiras.

Envio de relatório

Após morte dos indígenas Firmino Silvino Guajajara e Raimundo Bernice Guajajara no atentado que ocorreu na BR-226, a Polícia Civil do Maranhão repassou um relatório sobre o caso à Polícia Federal, que assumiu as investigações. O material já está sendo analisado pela PF para que a apuração sobre o ataque avance, com a identificação dos autores. O delegado Guilherme Campelo, titular da Superintendência de Polícia Civil do Interior (SPCI), disse que esses primeiros levantamentos serão fundamentais para a elucidação dos assassinatos dos caciques.

Segundo Campelo, uma motocicleta, que estava em um dos locais do crime com um projétil alojado em sua estrutura, foi apreendida e será periciada. A Fundação Nacional do Índio também está acompanhando as investigações.

Sepultamento dos índios

Os dois caciques que morreram no atentado foram sepultados ontem na Terra Indígena Cana Brava, em Jenipapo dos Vieiras. Firmino Silvino foi enterrado primeiro, no fim da manhã. O outro, Raimundo Bernice, foi sepultado à tarde. Vários indígenas se reuniram para a cerimônia, que foi marcada por forte comoção e lamentação pela perda de dois líderes de aldeias.

Os índios também cobraram celeridade nas investigações, para que o crime não fique impune. Outros dois indígenas que foram baleados no atentado continuam sob observação médica. Um deles passou por uma cirurgia no Hospital Macrorregional de Presidente Dutra/MA.

O ataque

De acordo com a Funai, os índios estavam às margens da BR-226, logo depois de saírem da Aldeia Coquinho, onde lideranças indígenas participaram de uma reunião com representantes da Eletronorte, por volta das 12h30. O grupo tratou da compensação aos índios pela passagem do linhão de energia elétrica dentro dos territórios indígenas. Firmino Silvino Guajajara morreu no local. Já Raimundo Bernice Guajajara morreu ao chegar à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Jenipapo dos Vieiras.

Em um vídeo que circula nas redes sociais, um indígena identificado como “Nelsi” contou que foi surpreendido por um veículo de cor branca, cujo ocupante disparou diversas vezes contra a motocicleta onde ele e Firmino Guajajara estavam. Outros dois índios foram atingidos pelos disparos e continuam internados na UPA sob proteção policial.

Um dos índios foi atingido em uma das pernas. A motivação para o ataque continua desconhecida. No entanto, a Funai não descarta que o ataque possa ter relação com os assaltos que acontecem naquela região, na extensão da BR-226.

Interdição da rodovia

Em resposta ao atentado, os índios interditaram três pontos da BR-226, na tarde de sábado, entre os municípios de Barra do Corda e Grajaú, dentro do perímetro da Reserva Indígena Guajajara. Durante os protestos, ao menos dois caminhões foram tomados de assalto e colocados atravessados na rodovia, de acordo com informações divulgadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Os habitantes das aldeias também bloquearam os trechos com galhos de árvores, para impedir o tráfego de veículos. “As cargas dos dois caminhões foram saqueadas. Uma fila de aproximadamente um quilômetro e meio se formou para cada lado. Equipes da PRF e da Polícia Militar encontram-se no local, mas não estimaram o horário de liberação da rodovia, vez que a concentração de índios é grande, vindos das aldeias vizinhas”, comunicaram os inspetores.

Os trechos interditados só foram liberados na tarde de domingo, 8, por volta das 16h30, como a PRF informou.

Confronto anterior

No dia 1º de novembro deste ano, ocorreu a morte do líder indígena Paulo Paulino Guajajara, conhecido como “Lobo Mau”, em uma emboscada na Terra Indígena Arariboia, em Bom Jesus das Selvas. Ele era membro dos “Guardiões da Floresta”, grupo que faz a vigilância dentro da vegetação por contra própria. No confronto, também morreu o madeireiro Márcio Greykue Moreira Pereira. O primo de Paulo, Laércio Guajajara, saiu ferido do combate.

Os índios daquela região já haviam denunciado as ameaças de madeireiros, que se intensificaram após a apreensão de veículos utilizados na extração ilegal de madeira dentro do território das aldeias.

Índio atropelado

Enquanto o cacique Firmino Silvino era sepultado nessa segunda-feira, um índio morria atropelado na BR-226, entre as cidades de Barra do Corda e Grajaú, no início da tarde. Ele estava em uma motocicleta, quando foi colidido por um carro Agile branco. O corpo da vítima foi arremessado em virtude do impacto da batida. Uma equipe da Polícia Rodoviária Federal acompanhou o procedimento de recolhimento do cadáver e de limpeza da pista.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também compareceu ao trecho do acidente fatal, mas, quando chegou, o índio já estava morto.

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