Um local tradicional

De Uçaguaba a Vinhais: a história de bairro tradicional da capital

Surgido do Sítio do Vinhais Velho, bairro homônimo carrega lembranças e fatos importantes para a história de São Luís; hoje, localidade vive com problemas

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

[e-s001]Em 1612, com base na historiografia oficial, São Luís foi fundada pelos franceses a partir da consolidação da missão comandada por Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière. Era o início de uma história de quatro séculos que, em 1615 - ainda com base nos registros oficiais - aponta para a intervenção dos portugueses na consolidação dos fatos da cidade entre os séculos XVII e XVIII, especialmente.

Naquele período, a partir daquele ano, a missão portuguesa em especial passou a fixar as primeiras vilas que, em conjunto, passariam a compor a topografia oficial da cidade. Com a vitória de Portugal na famosa Batalha de Guaxenduba, os procedimentos lusitanos de oficialização da então nova colônia foram executados.

Foi a partir daquele ano que os então responsáveis pela terra descoberta, e conquistada, fundaram Uçaguaba (“lugar onde se comem caranguejos”), que cerca de dois séculos mais tarde se tornaria o Vinhais Velho. De acordo com o brilhante exemplar intitulado “Vinhais Velho: arqueologia, história e memória” de Arkley Marques Bandeira - o fato foi acelerado com a chegada da segunda missão jesuítica ao Maranhão, capitaneada pelos padres Luís de Figueira e Benedito Amodei.

O exemplar cita, por exemplo, obras como “A questão jesuítica no Maranhão colonial”, de Cavalcanti Filho, para enfatizar que, no Maranhão, a missão católica somente começou com a chegada dos padres “à aldeia de Uçaguaba”. Neste território, foi erguida uma capela.

O famoso historiador César Marques, em “Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão” aponta o nascedouro do Vinhais Velho. Segundo ele, o local “foi que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Pernambuco, e como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, diz o padre José de Morais”.

Ainda de acordo com Marques, no mesmo texto, o então Vinhais dos tempos coloniais compunha-se de aproximadamente 30 índios, entre homens e mulheres. Inclusive, segundo o historiador, em 12 de maio de 1698, a Câmara local encaminhou um missionário para “educá-los”.

No dia 1º de agosto de 1757, a então Uçaguaba passou a ser denominada de Vinhais. Além da elevação de vila, foi delimitada - na mesma data - a freguesia (que nos séculos XVI e XVII correspondia à paróquia) de São João Batista foi erguida.

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De indígenas a particulares
A partir da segunda metade do século XVIII, foram tomadas medidas para estimular a manutenção do povoamento do Vinhais Velho, com a cessão de “terras devolutas” às pessoas que ali residiam. De acordo com “Vinhais Velho: arqueologia, história e memória”, as terras - que até pouco tempo atrás eram ocupadas por indígenas - foram sendo apropriadas por colonos e particulares.

Esses lotes de terra eram referendados pelo então estado português, que as cedia para os cidadãos produzirem gênero de distintas naturezas. Inicia-se, com isso, um processo oficial de expulsão dos índios dessa região, situação que perdurou por todo o século XIX.

Foi nesse período que começou o desenvolvimento pleno da região, com o estímulo das atividades econômicas e boom com a presença da Companhia de Comércio Grão-Pará e Maranhão e com o investimento do estado em algumas obras. A Vila do Vinhais passou a ser centro de produção e distribuição de gêneros alimentícios. Nesta área, foram construídas olarias e unidades de abastecimento de cereais com agregação e aproveitamento da mão de obra dos indígenas que lá habitavam.

De acordo com pesquisadores, a relação entre colonizadores e indígenas no Vinhais, assim como em outras regiões do então território recentemente descoberto e brasileiro, era de desprezo. Ao mesmo tempo, a região passou a ser, a cada ano, mais referência no polo comercial do então território maranhense.

[e-s001]Esta condição favorável à economia atraiu mais moradores. Dados da época apontam que a Vila do Vinhais (ou Vinhais Velho), até o fim da segunda metade do século XVIII, contava com 630 pessoas. Neste período, São Luís continha aproximadamente 13 mil moradores. Ainda no Vinhais, na primeira década do século XIX, a então Vila do Vinhais possuía quase “mil pessoas”.

Arqueologicamente, a presença europeia no Vinhais Velho foi materializada por diversos vestígios produzidos na Europa e trazidos com eles. A existência da Igreja de São João Batista do Vinhais representa um marco da presença portuguesa no território. Foi uma consolidação do domínio colonial.

Outros dados
De acordo com Antônio Bernardino Pereira Lago, em Itinerário da Província do Maranhão - publicada pela primeira vez na primeira metade do século XIX - a Província do Maranhão registra, à época, 12 vilas e 19 aldeias. Sobre o vinhais, o então oficial da Coroa Portuguesa revelou que “a Vila do Vinhais tem câmara e juiz ordinário do civil, crime e órfãos”.

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