Projeto

Crianças e adolescentes recebem aulas gratuitas de música e informática

Projeto existe há 13 anos, na Liberdade, e atua na educação, esporte, cultura e capacitação; ideia é afastar os menores dos perigos da criminalidade e das drogas

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

As áreas conhecidas como periféricas são vulneráveis a problemas sociais que, geralmente, afetam os jovens, situação que pode causar desestruturação familiar e evasão escolar. No intuito de prevenir essa realidade caótica, moradores do bairro Liberdade, em São Luís, se uniram e criaram um projeto. Sob a coordenação da Associação Desportiva Cultural Recreativa e Social (Adecres), a iniciativa oferece aulas gratuitas de música e informática a crianças e adolescentes da comunidade. Os pais também participam do movimento.

As crianças e adolescentes recebem as aulas na sede da Adecres, na Rua Correia de Araújo. Lá, o professor Moisés Dias ensina jovens, de forma voluntária, a tocar flauta e teclado, às segundas-feiras, quartas-feiras e quintas-feiras, nos turnos matutino e vespertino, na Escola de Música Coronel Carlos Augusto. No total, são 72 alunos, da Liberdade e bairros adjacentes, como Camboa e Fé em Deus. Aos sábados, ocorrem as aulas de violão. Os meninos e meninas chegam empolgados com seus instrumentos musicais para o projeto.

“Eles não pagam nada para o projeto, apenas exigimos que eles tenham bom comportamento e bons modos em suas casas, nas ruas, nas escolas e aqui. Nosso objetivo é fazer com que essas crianças se tornem adultos conscientes de suas cidadanias e do seu valor, enquanto seres sociais. Por exemplo, quando pedem a bênção para os pais, quando esperam a vez de falar quando os pais estão falando, quando pedem desculpas por um erro cometido”, explicou o professor Moisés Dias. Segundo ele, as aulas de música possuem um aspecto disciplinar que contribue para um convívio saudável.

Para Lohran Santos Moraes, de 11 anos, aluno do projeto, que existe há 13 anos, as aulas de música estão sendo muito produtivas, não somente na sede da associação, como no seio familiar. “Eu aprendi a respeitar mais os meus pais, os vizinhos, os moradores, os professores na escola. Eu aprendi a respeitar meus irmãos mais velhos, que têm 14 e 18 anos”, disse o garoto, que já está tocando flauta sem dificuldades. O menino está recebendo as instruções do professor Moisés Dias há duas semanas.

Os pais dos alunos também sentem as mudanças dentro de casa, ainda mais em um bairro marcado pelo intenso tráfico de drogas. E muitos deles, igualmente participam do projeto, em modalidades que permitem a entrada de adultos. “Eu fiz aqui o curso preparatório para o Enem. Aproveitei bastante. Matriculei minha filha nas aulas de música. Ela está gostando muito de tocar violão. É uma novidade. Ela está muito animada”, pontuou Cristiane Machado, mãe de Helena Vitória, de 11 anos.

Outras aulas
Um dos voluntários do projeto, José de Arimateia contou que, além de música, os inscritos recebem aulas de informática básica, jiu-jitsu e outras atividades esportivas, educacionais e profissionalizantes. “Recentemente, oferecemos um curso de refrigeração para a comunidade. Eles aprenderam a limpar ar-condicionado. Eu vejo que é uma alternativa boa diante de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. O importante é darmos oportunidade nessa área tão carente, como a Liberdade”, assinalou ele. O curso de Informática Básica é ministrado pela pedagoga DulLiberdade.

Desistências
Apesar da gratuidade do projeto, ocorrem muitas desistências, como Maura Martins Costa, de 70 anos, outra voluntária que atua no apoio pedagógico, frisou. Uma das moradoras mais antigas da Liberdade, ela declarou que muitas crianças e adolescentes ficam dois meses na associação, recebendo as aulas, mas, depois, desaparecem. Quando isso acontece, a idosa vai até a casa desses jovens, para saber os motivos de não terem mais ido ao local.

“Geralmente, os pais me falam que o filho não estava mais conseguindo acordar cedo. O fato é que o problema, na maioria das vezes, está nas próprias famílias. Os pais precisam motivar os filhos para não perderem uma oportunidade de crescimento na vida”, comentou Maura Martins. Ela lembrou que, em 2017, dois alunos do projeto, que assistiram às aulas preparatórias para o concurso da Polícia Militar do Maranhão, foram aprovados.

“Eles receberam aulas de Matemática, Português, Informática, Raciocínio Lógico e Geografia, tudo de forma gratuita pelos nossos voluntários, que moram aqui no bairro. A gente ficou muito feliz quando soube que eles passaram no concurso”, ressaltou a idosa.

Biblioteca Comunitária
O projeto ganhou, recentemente, uma nova frente, a Biblioteca Comunitária Doutor João Damasceno Corrêa Moreira, que fica na mesma rua da associação. Os moradores se reuniram e fizeram doações de livros. O presidente da Academia Maranhense de Letras (AML), Benedito Buzar, também colaborou e levou várias obras para a biblioteca, que funciona em uma casa alugada.

Na biblioteca, há um telecentro, onde qualquer morador da Liberdade e bairros adjacentes podem acessar a internet e fazer suas pesquisas gratuitamente. “Toda hora vêm crianças da comunidade aqui, para estudar. É muito legal isso. Aqui, o funcionamento é de manhã e de tarde. Sem contar que os livros doados são todos escritos por autores maranhenses”, observou Dalynajara Chagas, recepcionista e voluntária.

Na tarde desta terça-feira, 5, ocorreu uma ação social na Biblioteca Comunitária, com a participação das escritoras Priscila Trindade e Márcia Montenegro, que escreveram a obra infantil “Pitoco”. Elas contaram histórias para crianças da Unidade de Ensino Básico (UEB) Deyse Linhares de Sousa, da rede municipal. No chão, em uma sala repleta de brinquedos, as autoras se divertiram com os alunos, que sorriram muito durante o momento de descontração.

LIBERDADE, O BAIRRO

A Liberdade é um bairro localizado na periferia do centro de São Luís. No dia 25 de maio, completou 101 anos de fundação. Na década de 1970, era chamado de Campina do Matadouro. Depois, recebeu o nome de Matadouro, pois os bois que eram transportados em barcos e trens eram abatidos naquela região. Em 1985, o antigo “matadouro” foi substituído por uma escola, que se chama Mário Andreazza, existente até hoje. O bairro é composto por outras localidades, que são a Floresta, Japão, Maruim, Pró-Morar e Brasília.

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