Referências

Origem e tradição da Família Viveiros Raposo

A família formou-se em Alcântara, a partir do casamento do Comendador José Cursino Raposo e Maria Tereza de Viveiros, filha do político Alexandre José de Viveiros, e tem uma forte influência nas letras e no jornalismo combativo

Luiz Alexandre Raposo (*)/ Especial para O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Tela a óleo exposta no Museu Nacional de Belas Artes (RJ) retratando o poeta maranhense Inácio de Viveiros Raposo
Tela a óleo exposta no Museu Nacional de Belas Artes (RJ) retratando o poeta maranhense Inácio de Viveiros Raposo

SÃO LUÍS- É da antiguíssima Alcântara que se originaram as mais tradicionais famílias maranhenses, já que do final do século XVIII até a metade do século XIX a cidade viveu seu apogeu econômico, advindo principalmen­te da lavoura do algodão, sustentada pela mão de obra escrava.

Os Viveiros Raposo são um exemplo de uma dessas famílias. Formada inicialmente pelo enlace matrimonial do Comendador José Cursino Raposo e Maria Tereza de Viveiros Raposo.

O Comendador José Cursino recebera o mesmo nome do pai, o Tenente-Coronel José Cursino Raposo, Comandante das Armas do Maranhão, herói da nossa Independência, companheiro dos revolucionários de 1824 e um dos chefes do Partido Político “Bemtivi Puro”. Enquanto sua esposa, Maria Tereza, era filha do influente político Alexandre José de Viveiros (1817-1864), formado em Ciências Jurídicas pela Universidade de Coimbra, deputado à Assembleia Provincial e agraciado, em 1854, com o Oficialato da “Ordem de Rosa” pelo Imperador D. Pedro II.

Destaca-se ainda que Alexandre José de Viveiros era irmão de Francisco Mariano de Viveiros Sobrinho (1819-1860), o famoso Barão de São Bento, que também se formou pela Universidade de Coimbra em Matemática e exerceu o cargo de Deputado Geral.

Voltando aos jovens que uniram as duas tradicionais famílias, José Cursino Raposo e Maria Tereza de Viveiros Raposo, o casal gerou dois filhos, ambos nascidos em Alcântara: Alexandre e Inácio de Viveiros Raposo.

O primogênito da nova família, Alexandre de Viveiros Raposo, tornou-se Coronel da Guarda Nacional. Dono de forte temperamento, o coronel Alexandre Raposo destacou-se na sociedade maranhense nos anos 1930 como político aguerrido e fazendeiro. Oposicionista, não guardava segredo de suas ideias, sempre trazidas a público por meio da imprensa em que também atuava sob o pseudônimo de “Canário”.

Proprietário da Fazenda Buritirana, considerada a maior reserva de babaçu da Baixada Ocidental Maranhense, localizada em Macapá (atualmente município de Perí-Mirim), o coronel Alexandre Raposo revelou-se, também, um homem à frente de seu tempo, assumindo a postura de um autêntico ambientalista, numa época em que o mundo ainda não havia despertado para a grave questão ambiental. Escrevendo constantemente, como colaborador, nos jornais de São Luís, procurava alertar o poder público para as drásticas consequências de ações antrópicas predatórias, praticadas nos campos de São Bento, que levavam ao assoreamento de lagos e igarapés da região. Consciente ainda dos danos causados pelas periódicas invasões das marés, propunha a construção de barragens para impedir a penetração da água marinha naquele frágil ecossistema dulcícola.

O coronel Alexandre Raposo te­ve também marcante atuação na política local, merecendo realce sua forte oposição à nomeação de um militar pernambucano para o cargo de interventor do Maranhão, após o gaúcho Getúlio Vargas ter assumido o comando do país à frente da histórica Revolução de 30. Tal oposição, ao lado de outros líderes políticos maranhenses, resultou na nomeação de um trio maranhense para governar provisoriamente o Maranhão. Conhecida como “junta governativa” o trio era composto por Reis Perdigão, Celso Freitas e José Ribamar Campos.

Casado com Antônia Virgínia da Silva Raposo, o Coronel Alexandre Raposo (que hoje empresta seu nome ao aeroporto de Paço do Lumiar) faleceu em São Luís, aos 73 anos de idade, em 18/2/1947, deixando seis filhos: Manoel João da Silva Raposo, Américo da Silva Raposo, José Cursino da Silva Raposo e Zara Raposo Tenreiro, além de Ovídio e Longuinho Raposo, nascidos antes de seu casamento com Antônia Virgínia.

O segundo filho do casal José Cursino Raposo e Maria Tereza de Viveiros Raposo recebeu na pia batismal o nome de Inácio de Viveiros Raposo. Nascido em 16 de julho de 1875, o jovem Inácio formou-se pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e, mais tarde, em Filosofia pela Faculdade Nacional de Filosofia e Letras, da qual se tornaria, posteriormente, professor de Antropologia, Lógica, Psicologia e História da Literatura.

Retornando ao Maranhão, Inácio Raposo enfileirou-se nas lutas jornalísticas da capital e fundou, em 2 de abril de 1902, o jornal A Campanha, órgão que fazia radical oposição ao Governo do Estado. Utilizando-se de uma linguagem atrevida, o jornal criticava com veemência o governo, o que expunha seus redatores a agressões por parte dos alvos de suas críticas mordazes.

De volta ao Rio de Janeiro, trabalhou como redator do Jornal do Brasil, enquanto colaborava com grande número de jornais e revistas de todo o país, escrevendo contos, poesias e artigos folclóricos. Em 1936, publicou o romance “Vingança de Amor”, cujo enredo tem como cenário a velha Alcântara e que serviria, décadas depois, de valioso subsídio para o também escritor Josué Montello compor o pano de fundo de sua obra “Noite sobre Alcântara”, segundo depoimento do próprio Josué.

Inácio Raposo radicou-se, anos mais tarde, na cidade de Vassouras (RJ), destacando-se na vida cultural e na história daquele município fluminense.

Homem que dedicou toda a sua vida às letras, ao falecer, no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1945, o maranhense Inácio de Viveiros Raposo deixou uma vasta e rica bibliografia que abrange contos, poesias, romances, peças teatrais, traduções, estudos filosóficos e pesquisas de folclore.

No Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, existe um retrato a óleo de Inácio de Viveiros Raposo. Intitulado “O poeta e a rosa”, o quadro destaca a figura de um jovem escritor, em fundo neutro, debruçado sobre uma escrivaninha entre livros, papéis, caneta e tinteiro, objetos que simbolizariam o mundo literário de então. Obra do artista plástico Daniel Bérard, a tela foi pintada em 1907, quando Inácio Raposo tinha 32 anos de idade.

Em reconhecimento à memória desse intelectual maranhense foi criada em sua cidade natal, Alcântara, a Escola Municipal Inácio Raposo.

(*) Jornalista, escritor e membro da Academia Vianense de Letras (AVL)

Família Viveiros Raposo

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