Origem e tradição da Família Viveiros Raposo
A família formou-se em Alcântara, a partir do casamento do Comendador José Cursino Raposo e Maria Tereza de Viveiros, filha do político Alexandre José de Viveiros, e tem uma forte influência nas letras e no jornalismo combativo
SÃO LUÍS- É da antiguíssima Alcântara que se originaram as mais tradicionais famílias maranhenses, já que do final do século XVIII até a metade do século XIX a cidade viveu seu apogeu econômico, advindo principalmente da lavoura do algodão, sustentada pela mão de obra escrava.
Os Viveiros Raposo são um exemplo de uma dessas famílias. Formada inicialmente pelo enlace matrimonial do Comendador José Cursino Raposo e Maria Tereza de Viveiros Raposo.
O Comendador José Cursino recebera o mesmo nome do pai, o Tenente-Coronel José Cursino Raposo, Comandante das Armas do Maranhão, herói da nossa Independência, companheiro dos revolucionários de 1824 e um dos chefes do Partido Político “Bemtivi Puro”. Enquanto sua esposa, Maria Tereza, era filha do influente político Alexandre José de Viveiros (1817-1864), formado em Ciências Jurídicas pela Universidade de Coimbra, deputado à Assembleia Provincial e agraciado, em 1854, com o Oficialato da “Ordem de Rosa” pelo Imperador D. Pedro II.
Destaca-se ainda que Alexandre José de Viveiros era irmão de Francisco Mariano de Viveiros Sobrinho (1819-1860), o famoso Barão de São Bento, que também se formou pela Universidade de Coimbra em Matemática e exerceu o cargo de Deputado Geral.
Voltando aos jovens que uniram as duas tradicionais famílias, José Cursino Raposo e Maria Tereza de Viveiros Raposo, o casal gerou dois filhos, ambos nascidos em Alcântara: Alexandre e Inácio de Viveiros Raposo.
O primogênito da nova família, Alexandre de Viveiros Raposo, tornou-se Coronel da Guarda Nacional. Dono de forte temperamento, o coronel Alexandre Raposo destacou-se na sociedade maranhense nos anos 1930 como político aguerrido e fazendeiro. Oposicionista, não guardava segredo de suas ideias, sempre trazidas a público por meio da imprensa em que também atuava sob o pseudônimo de “Canário”.
Proprietário da Fazenda Buritirana, considerada a maior reserva de babaçu da Baixada Ocidental Maranhense, localizada em Macapá (atualmente município de Perí-Mirim), o coronel Alexandre Raposo revelou-se, também, um homem à frente de seu tempo, assumindo a postura de um autêntico ambientalista, numa época em que o mundo ainda não havia despertado para a grave questão ambiental. Escrevendo constantemente, como colaborador, nos jornais de São Luís, procurava alertar o poder público para as drásticas consequências de ações antrópicas predatórias, praticadas nos campos de São Bento, que levavam ao assoreamento de lagos e igarapés da região. Consciente ainda dos danos causados pelas periódicas invasões das marés, propunha a construção de barragens para impedir a penetração da água marinha naquele frágil ecossistema dulcícola.
O coronel Alexandre Raposo teve também marcante atuação na política local, merecendo realce sua forte oposição à nomeação de um militar pernambucano para o cargo de interventor do Maranhão, após o gaúcho Getúlio Vargas ter assumido o comando do país à frente da histórica Revolução de 30. Tal oposição, ao lado de outros líderes políticos maranhenses, resultou na nomeação de um trio maranhense para governar provisoriamente o Maranhão. Conhecida como “junta governativa” o trio era composto por Reis Perdigão, Celso Freitas e José Ribamar Campos.
Casado com Antônia Virgínia da Silva Raposo, o Coronel Alexandre Raposo (que hoje empresta seu nome ao aeroporto de Paço do Lumiar) faleceu em São Luís, aos 73 anos de idade, em 18/2/1947, deixando seis filhos: Manoel João da Silva Raposo, Américo da Silva Raposo, José Cursino da Silva Raposo e Zara Raposo Tenreiro, além de Ovídio e Longuinho Raposo, nascidos antes de seu casamento com Antônia Virgínia.
O segundo filho do casal José Cursino Raposo e Maria Tereza de Viveiros Raposo recebeu na pia batismal o nome de Inácio de Viveiros Raposo. Nascido em 16 de julho de 1875, o jovem Inácio formou-se pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e, mais tarde, em Filosofia pela Faculdade Nacional de Filosofia e Letras, da qual se tornaria, posteriormente, professor de Antropologia, Lógica, Psicologia e História da Literatura.
Retornando ao Maranhão, Inácio Raposo enfileirou-se nas lutas jornalísticas da capital e fundou, em 2 de abril de 1902, o jornal A Campanha, órgão que fazia radical oposição ao Governo do Estado. Utilizando-se de uma linguagem atrevida, o jornal criticava com veemência o governo, o que expunha seus redatores a agressões por parte dos alvos de suas críticas mordazes.
De volta ao Rio de Janeiro, trabalhou como redator do Jornal do Brasil, enquanto colaborava com grande número de jornais e revistas de todo o país, escrevendo contos, poesias e artigos folclóricos. Em 1936, publicou o romance “Vingança de Amor”, cujo enredo tem como cenário a velha Alcântara e que serviria, décadas depois, de valioso subsídio para o também escritor Josué Montello compor o pano de fundo de sua obra “Noite sobre Alcântara”, segundo depoimento do próprio Josué.
Inácio Raposo radicou-se, anos mais tarde, na cidade de Vassouras (RJ), destacando-se na vida cultural e na história daquele município fluminense.
Homem que dedicou toda a sua vida às letras, ao falecer, no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1945, o maranhense Inácio de Viveiros Raposo deixou uma vasta e rica bibliografia que abrange contos, poesias, romances, peças teatrais, traduções, estudos filosóficos e pesquisas de folclore.
No Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, existe um retrato a óleo de Inácio de Viveiros Raposo. Intitulado “O poeta e a rosa”, o quadro destaca a figura de um jovem escritor, em fundo neutro, debruçado sobre uma escrivaninha entre livros, papéis, caneta e tinteiro, objetos que simbolizariam o mundo literário de então. Obra do artista plástico Daniel Bérard, a tela foi pintada em 1907, quando Inácio Raposo tinha 32 anos de idade.
Em reconhecimento à memória desse intelectual maranhense foi criada em sua cidade natal, Alcântara, a Escola Municipal Inácio Raposo.
(*) Jornalista, escritor e membro da Academia Vianense de Letras (AVL)
Família Viveiros Raposo
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