Análise

Para 65% dos professores, formação é inadequada para o dia a dia em sala de aula

Pesquisa do Instituto Península mostra que, mesmo satisfeitos com sua atuação e querendo seguir na profissão, docentes não se sentem preparados ou reconhecidos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Os professores querem fazer a diferença na sociedade, mas sabem que sua formação não é suficiente para a realidade em sala de aula
Os professores querem fazer a diferença na sociedade, mas sabem que sua formação não é suficiente para a realidade em sala de aula (professor)

São Paulo - Quase sete em cada dez professores brasileiros concordam que sua formação é falha em relação às complexidades que enfrentarão em sala de aula. É o que aponta o mais recente estudo do Instituto Península, organização social que foca na melhoria da qualidade da educação brasileira e acredita que os principais agentes de transformação são os professores, em parceria com a agência La Maison.

O levantamento ouviu 1800 professores, de todas as regiões brasileiras, etapas de ensino e tipos de financiamento. Desses, cerca de 1.200 (65%) concordam que a formação de professores no Brasil não prepara para a complexidade das situações que têm que lidar diariamente nas escolas.

Chamada de “Retratos da carreira docente”, a pesquisa do Instituto Península também ouviu professores sobre outros temas, mapeando as perspectivas individuais e coletivas ligadas ao ensino, seus propósitos e as relações interpessoais no ambiente escolar. Por exemplo, 78% dos professores se consideram importantes na vida dos alunos e 57% não pretendem mudar de carreira. Porém, a falta de reconhecimento é o primeiro ponto negativo da profissão, segundo eles.

“A pesquisa mostra que os professores querem fazer a diferença na sociedade, mas sabem que sua formação não é suficiente para a realidade em sala de aula”, diz Heloisa Morel, diretora executiva do Instituto Península. “Existem ações efetivas que podem ser levadas aos cursos de formação de professores para prepará-los melhor para o dia a dia da escola, como a inclusão de mais horas de experiência prática obrigatória nos currículos das faculdades. O nosso desafio é fazer mudanças como essa serem adotadas em larga escala no Brasil”, completa

Satisfação com a profissão
Quando perguntados sobre o contentamento em realizar sua atividade, 77% dos docentes afirmaram estar satisfeitos ou muito satisfeitos. Esse número revela que os próprios professores se sentem motivados no cotidiano com os alunos, e querem fazer a diferença, mas, ao mesmo tempo, carecem de uma rede de apoio que envolve a comunidade escolar e a sociedade em geral. Isso porque 56% dos docentes não acreditam que são valorizados por alunos, pais, colegas e sociedade.

Há, ainda, um consenso de que o ambiente entre os professores precisa de atenção e de um olhar mais cuidadoso no que diz respeito ao incentivo às relações entre os pares dentro da escola. 81% acreditam nisso, pois os docentes dizem que se sentem sozinhos (28%), que existe muito julgamento (26%) e até isolamento (17%).

Para Heloisa Morel, dentro da sala de aula, os professores brasileiros estão dispostos a trabalhar pela transformação da Educação. Porém, a forma como a sociedade os enxerga e a formação que lhes é oferecida fazem com que se sintam pouco valorizados.

“O docente de hoje não é mais um transmissor de conhecimento, mas um mediador, que precisa ser capaz de desenvolver estratégias de ensino e aprendizagem nos mais variados contextos. Para que esteja preparado para lidar com esses complexos cenários, temos que incentivá-los e oferecer as ferramentas para tanto, como cursos de formação continuada que levem em consideração, por exemplo, o desenvolvimento integral desse professor, incluindo múltiplas perspectivas na sua atuação como docente. Também é preciso aprimorar os cursos de formação inicial de professores, colocando no currículo mais horas práticas obrigatórias para que eles tenham um contato maior com as realidades que enfrentarão diariamente na profissão. Senão, seguiremos mantendo profissionais que pedem por mais preparo e correndo o risco de perder talentos valiosos para o ensino de crianças e jovens”, diz.

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