Especial / O Estado

Da modernização aos problemas atuais: Aldenora Bello precisa de ajuda

Após reinauguração na gestão de José Sarney na Presidência da República, o hospital ampliou demanda; hoje, precisa de apoio

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

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Após a inauguração do Hospital Aldenora Bello, em meados da década de 1960, a unidade começou aos poucos a consolidar-se como referência no atendimento oncológico no estado. Se nos primeiros anos a assistência se dava de forma paliativa, sem a estrutura mínima devida, com o incentivo externo e do poder público, a unidade modernizou-se e ampliou a sua capacidade de atendimento. Atualmente, o hospital sofre com a carência no incentivo público e o nú­mero insuficiente de doadores.

Desde antes da entrega oficial, havia a preocupação para que a diretoria reunisse o máximo possível de recursos para a manutenção da unidade. No dia 25 de junho de 1963, o jornal O Combate trouxe a informação de que dois dias depois, seria registrada na sede do Grêmio Lítero uma festa “caipira” promovida pela então primeira-dama do estado, Aldenora Bello. Esposa do então governador maranhense, Newton Bel­lo, ela também era presidente da Companhia contra o Câncer.

Na referida festa, ainda segundo o periódico, houve um desfile infantil com a participação de Aldenora Maria Bello Sá, Edwiges Maria Barbosa Ribeiro, Tatiana Duailibe, Viviane Cantanhede Pereira, Fátima Maia Rosa, Lisiane Nina Costa e outras crianças.

O evento serviu, além do intuito de entretenimento, para chamar a atenção quanto à causa do câncer. Meses mais tarde, o Hospital Aldenora Bello foi “construído em tempo recorde”, tendo recebido do vice-governador Alfredo Duailibe e da primeira-dama, Aldenora Bello, o “máximo de dedicação”. Segundo o antigo Jornal do Maranhão (exemplar ligado à Igreja Católica), não faltou estímulo e cooperação financeira do Governo do Maranhão e do Ministério da Saúde.

Apoio financeiro
Semanas após a primeira inauguração, no dia 10 de novembro de 1965, uma mensagem governamental à Assembleia Legislativa do Maranhão abriu “crédito especial” de 3 milhões de cruzeiros para “fazer face às despesas de manutenção do Hospital Aldenora Bello no corrente exercício de mandato.

A primeira grande cirurgia
Registros históricos da unidade apontam que a primeira grande cirurgia da unidade de saúde foi realizada pelos médicos Antônio Augusto Fernandes Ribeiro e Antônio do Espírito Santo Monteiro, no dia 23 de maio de 1978. O procedimento era para tratamento de uma paciente com câncer de mama. A então acadêmica de Medicina e futura diretora do Aldenora Bello, Célia Jorge Dino Cossetti, foi a instrumentadora da cirurgia. Ela seria mais tarde, também, presidente da Fundação Antônio Dino (FAD) – mantenedora do hospital.

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Modernização do Aldenora Bello a partir da intervenção de José Sarney e dona Marly
A segunda metade da década de 1980 fez parte da consolidação dos serviços do Hospital Aldenora Bello na capital maranhense. Foi a partir deste período histórico que a unidade passou a ser referência para pacientes em todo o estado.

Nos arquivos do hospital, na sede da FAD, ao lado do atual endereço da unidade, é possível ver registros de reuniões em Brasília, da então diretoria do hospital, com o ex-presidente da República, José Sarney.
Incentivadora da causa, dona Marly Sarney (então primeira-da­ma do país) também chamou a atenção para a causa e foi defensora da aplicação de recursos na modernização do Aldenora Bello. Em 1985, por meio de grande plei­to feito por Enide Dino, o então presidente da República, José Sarney, concordou em construir e equipar o Hospital do Câncer. O novo Hospital Aldenora Bello foi reinaugurado em 9 de abril de 1989.

Os registros deste fato histórico à unidade são vistos na sede da FAD. Com orgulho, o atual vice-presidente da FAD, Antônio Dino Tavares, citou com orgulho a melhoria na unidade. “Passamos por um processo de readequação de processos e melhorias que, à épo­ca, foram de suma importância pa­ra que a unidade iniciasse a década de 1990 com qualidade”, disse.

A renomeação
Em 1996, o hospital foi renomeado Instituto Maranhense de Oncologia Aldenora Bello (Imoab). Segundo a diretoria, a mudança serviu para a readequação no foco de atuação da unidade, “facilitando a comunicação das atividades com entidades nacionais e internacionais”.
Em 2014, como forma de renovação e simplificação do nome, o nome oficial do hospital mudou novamente para Hospital do Câncer Aldenora Bello.

[e-s001]Aldenora como referência
O Aldenora Bello, atualmente, permanece como referência no tratamento de câncer. E dados oficiais ressaltam a importância do local. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta que são diagnosticados mais de 3.500 casos novos da doença por ano.

Por isso, de acordo com a diretoria, a demanda relativa aos procedimentos internos é crescente. Por ano, são realizadas no Aldenora Bello mais de 56.756 consultas, 896 cirurgias, 30.141 quimioterapias e 6.025 radioterapias. Segundo os responsáveis, não é possível mensurar qual parcela de atendimento é referente aos pacientes do interior maranhense.

Com uma área de 8.145,19m², com 4444,50 m² de área construída, atualmente o Hospital do Câncer Aldenora Bello tem 175 leitos de internação, divididos em enfermarias clínica, cirúrgica, pediatria, UTI e apartamentos. O Hospital conta com um serviço de radioterapia e braquiterapia, que está sendo ampliado para duplicar sua capacidade de atendimento neste setor.

Segundo a direção, as obras estão avançadas, mas, por enquanto, sem prazo para finalização. A ampliação será em um prédio que se localiza ao lado do atual hospital. Considerado o único Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) no estado do Maranhão, o hospital conta com equipe médica, que atua em todas as áreas da oncologia, além de equipe multiprofissional completa para o atendimento integral ao paciente oncológico.

Há risco de fechamento?
Com a crescente demanda (atualmente são de 750 a 900 pacientes diários atendidos), o Aldenora Bello precisou, ao longo dos anos, renegociar seus vínculos legais e repasse de valores para manutenção. Sob responsabilidade federal (via Ministério da Saúde), no momento 90% dos recursos totais do hospital são oriundos da chamada tabela SUS (Sistema Único de Saúde). Os outros 10% se juntam a doações recolhidas, bondade de abnegados e convênios firmados com o poder público.

A própria direção da unidade admite que há em vigência um acordo com o Governo do Maranhão que, periodicamente, é responsável pelo financiamento de melhorias internas. No entanto, apesar dos esforços, a situação é considerada crítica em alguns setores.
O Serviço de Pronto Atendimento (SPA), por exemplo, está fechado e sem prazo para retomada das atividades. As cirurgias também foram suspensas. Em contrapartida, a FAD informou há alguns dias, por meio de nota, que o tratamento quimioterápico será retomado a partir do dia 25, data estimada para “a chegada de materiais e medicamentos”. Apesar da boa notícia, os donativos serão suficientes para apenas 15 dias de tratamento.

Neste período, serão realizadas reuniões com o Conselho do Fundo Estadual de Combate ao Câncer, ligado à Secretaria Estadual de Saúde (SES). “Esperamos que, neste período, a unidade consiga retomar os serviços por mais tempo”, explicou Antônio Tavares.

O gestor explica ainda que os valores atuais recebidos via SUS são insuficientes, pois há uma defasagem de, pelo menos, dez anos entre os valores devidamente aplicados e os recebidos. “Estamos trabalhando com um déficit mensal de um milhão aproximado. Nunca há folga no orçamento. Pelo contrário, estamos quase sempre trabalhando no vermelho”, explicou.

Do valor fechado do chamado ativo circulante, grande parte é usado para o pagamento de funcionários, manutenção de pacientes (alimentação e hospedagem) e acompanhantes. Ou seja, não há “sobra” para investimentos. As melhorias aplicadas na unidade são oriundas apenas da benevolência de parlamentares (deputados em geral) e empresários da região. “Se não fossem estas doações, creio que já teríamos fechado”, frisou Tavares.

VOLUNTÁRIA
[e-s001]Gente unida e abnegada mantém o hospital funcionando

A união de gente abnegada (voluntários e médicos que muitas vezes abrem mão de reivindicar seus direitos) ainda mantém o hospital em funcionamento. Enquanto isso, pacientes de outros estados chegam diariamente em busca de atendimento. E o exemplo de pessoas que entendem a causa do Aldenora Bello é fundamental para o bom funcionamento. Dona de casa por boa parte da vida, em 2006, Pedrolina Araújo soube que teria que lidar com o câncer de mama. Ela chegou ao diagnóstico após o autoexame.
“Quando apalpei a minha mama, percebi um caroço bem grande”, disse. Ao ir à médica, a primeira avaliação descartou qualquer doença. “A profissional disse que eu não tinha nada”, afirmou a dona de casa. Quando o marido dela decidiu examinar a mama da esposa, percebeu algo errado. “O meu marido me alertou e corri para a mesma médica do primeiro diagnóstico que refez sua avaliação”, disse. O tratamento causou dor e comoção à família, que se juntou inicialmente para pagar os exames. Ao fazer a cirurgia, a paciente fez quimioterapia e conseguiu a sua cura. “Graças a Deus a doença regrediu após a retirada da mama”, disse.
Vivendo atualmente com uma prótese, a ex-paciente tornou-se voluntária no hospital e assiste pacientes adultos e adolescentes. Um deles é J.P., de 14 anos de idade. Natural de Vitorino Freire (MA), o jovem está na Ilha há dois meses após descobrir que está com leucemia. Ao conversar com o paciente, Pedrolina conta seu exemplo de vida. “Eu conto a eles tudo o que vivi e digo que não vão morrer, pelo contrário, ficarão bem”, afirmou.

[e-s001]GRAÇAS AO SABONETE?
Apesar dos problemas, o Aldenora Bello foi responsável pela mudança positiva na vida de muita gente. Durante um banho, a dona de casa Conceição de Maria Santos Ferreira percebeu que poderia estar com algo sério. “O sabonete, sem querer, caiu na minha mama direita e causou aquela dor. Não tive dúvida de procurar um médico logo”, disse. Foi quando a paciente descobriu que estava com câncer de mama em estágio inicial. “Não sabia o que fazer”, afirmou. Religiosa, a dona de casa passou por cirurgia, por doloroso pós-operatório e restaurou a mama. Ela enquadrou-se na estatística do Aldenora que, de cada 10 mulheres mastectomizadas (que retiram a mama total ou parcialmente), oito receberam próteses. “Estou muito feliz. O atendimento aqui no Aldenora foi irretocável, médicos educados e enfermeiros nota dez”, disse.

ABRINDO O JOGO

“Uma em cada oito mulheres terá câncer de mama”, aponta mastologista

A coordenadora do setor de Mastologia do Aldenora Bello, Gláucia Cordeiro, aponta para a importância do diagnóstico precoce para o tratamento do câncer de mama, uma das especialidades da unidade. Segundo ela, uma em cada oito mulheres terá a doença e descobri-la cedo é fundamental.

Qual a importância do autoexame?
Fundamental, pois pode significar a sobrevivência. O mais importante é a mulher entender que aquele nódulo foi pequeno, no entanto, não quer dizer que não seja maléfico. Esses diagnósticos somente são feitos com exames de imagem. Por isso, é importante a busca constante pelo atendimento médico

Assim que é constatada a doença, quais são as etapas seguintes?
Primeiro, entender a gravidade do nódulo. Quando ela o encontra, é preciso entender que existem vários tipos. Alguns são benignos, outros não. A maioria dos nódulos não traz malefícios. E quando trazem, é preciso tratamento.

A checagem do câncer de mama é recomendada quando?
O ideal é quanto mais cedo, melhor. No entanto, a ida ao médico é recomendável para mulheres acima dos 40 anos de idade. Neste caso, é preciso ainda seguir medidas para evitar a doença, como controle de peso corporal, estímulo à atividade física e evitar o consumo de álcool e cigarro.

Sobre o Aldenora Bello

Área total: 8.145,19m² (metros quadrados)
Área construída: 4444,50m² (metros quadrados)
Leitos de internação: 175
Casos de câncer por ano: 3.500
Consultas por ano: 56.756
Cirurgias por ano: 896
Quimioterapias: 30.141
Radioterapias: 6.025

Fonte: http://fundacaoantoniodino.org.br

Estrutura Administrativa (Fundação Antônio Dino e Hospital Aldenora Bello)

Presidência
Enide Moreira Lima Jorge Dino – Presidente da FAD
Antônio Dino Tavares – Vice-Presidente da FAD
Silvia Jorge Dino – Assessora da Presidência da FAD
Diretoria
José Generoso da Silva – Diretor Administrativo do HCAB
Ruy Lopes de Freitas – Diretor Financeiro do HCAB
Marcus Aurélio Vasconcelos – Diretor Médico do HCAB

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