Artigo

A volta de Joe Seashore à casa paterna

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

A querida Dodô (née Doralina Gonçalves) avisa ao telefone que nosso amigo quase-irmão Joseph Seashore virá a São Luís. É uma visita de reencontro com suas raízes, talvez de retorno, me segreda ela. Joseph - Joe para os íntimos -, vive há trinta anos em Nova Iorque, justo os anos que não vem ao Maranhão. Figura muito badalada à época, era conhecido pelo nome de batismo, José de Ribamar Pereira, nascido em Codó e morador de São Luís, desde criancinha.

Cinéfilo roxo, assistiu a todos os filmes americanos do Roxi e do Éden e os da cinemateca de Fernando Moreira, seu amigo de fé e também cinéfilo apaixonado pelos Estados Unidos. Concretizando um sonho antigo, Joe decidiu-se pela mudança de país e radicou-se em New York. Ah, sim, a troca do nome para Joseph Seashore deveu-se à dificuldade dos americanos pronunciarem José de Ribamar.

Preparada por Dodô, não me surpreendo com o telefonema de Joe. Ribinha! Digo eu, que bom será te ver novamente. Oh, darling, mal posso esperar 2020 para o meu regresso, se pudesse iria hoje. Ano que vem é melhor, penso eu, dizem que vão recuperar a Praça João Lisboa, Joe não vai ver aquela ruína. São Luís é uma cidade sui generis, um mar de buracos, casarões e residências desabando, praças sem flores, lixo por todos os cantos, e, de repente, despontam lugares pontuais, em desacordo com o contexto, novinhos em folha, tipo Rua Grande e Praça Deodoro.. Parecem caídos do espaço.

E o terraço do aeroporto, já foi construído? Ainda não, respondo, Mas Tirirical é um aeroporto internacional! Às vezes é, às vezes não é. E não é mais Tirirical - vai que os turistas pensem que foi uma homenagem ao Tiririca -, é Marechal Cunha Machado. Ora, que importa um terraço, não me interesso por ver aviões, o que mais desejo ver é o Forte da Ponta d’Areia. Lembra quando a gente, antes da Ponte, vinha na canoa de Pedro Olhudo e a primeira coisa a avistar eram as altas muralhas do Forte? Oh, se me lembro, aterraram as muralhas pra fazer uma estrada de contorno e os canhões, alguns sumiram, dizem que foram para Belém, as muralhas estavam desabando, a água cobra seu espaço, não fosse o Espigão... Mas é muita informação de uma vez só. Desvio o assunto, Olha, sabes aquela parte da Ponta d’ Areia, nas cercanias do Forte, chama-se agora a Península da Ponta, virou um lugar muito chique... Sou interrompida pela estupefação de Joe: Não seria a ponta da ponta? Oh, Deus, mais uma coisa que não sei responder. Assim, boi não dança...

Joe volta à carga, vou levar dois amigos, doidos pra conhecer os sobradões de azulejos, ah, my dear, eu lhes mostrei um monte de fotos e postais da cidade, da Rua Rio Branco, Praça João Lisboa, do Reviver novinho em folha (aqueles que tu me mandaste), eles ficaram apaixonados. Vamos ouvir umas rodas de samba e choro naquele ambiente de sonho e tranquilidade, um pedacinho do passado. Abobada, só falo hen, hen. Devo dizer dos buracos, dos bares sem higiene, dos pedintes, dos drogados, da falta de estacionamento, dos ladrões, dos prédios desabando, dos azulejos roubados das fachadas? É melhor não desiludir de vez o querido amigo. Esperarei. Quem sabe as autoridades tomam alguma providência, põem um tantinho de ordem no caos, ainda falta um ano, vai ver acontece um milagre.

Venha, meu amigo, estaremos de braços abertos. Quem sabe os amigos de Ribinha pedem asilo e ficam por aqui mesmo, porque São Luís, mesmo depredada, esburacada, suja, rota, tem visgo. A gente reclama, mas não consegue ficar longe dela, nós, os seus filhos mal-amados.

Ceres Costa Fernandes

Mestra em Literatura e membro da Academia Maranhense de Letras

E-mail: ceresfernandes@superig.com.br

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.