Fé e história

Monumento com traços bizantinos e tradição: a Igreja do Desterro

Localizada no Largo do Desterro, entre os becos da Caela, do Desterro e do Precipício, o templo religioso encontra-se sob a administração do MHAM

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
A igreja do Desterro,  em meados  do século XX
A igreja do Desterro, em meados do século XX (Igreja do Desterro)

Situada no Largo do Desterro, entre os becos da Caela, do Desterro e do Precipício, a Igreja do Desterro é um exemplo de construção com feições neoclássicas que, com o passar dos anos, recebeu a classificação arquitetônica de bizantina. O templo passou por diferentes fases de abandono e reconstrução e, apesar dos problemas físicos atuais, é uma das referências na afirmação da fé da comunidade católica ludovicense. Entender sua história é vislumbrar, ainda, parte da história de um dos bairros mais tradicionais de São Luís.

De acordo com Ernesto Cruz, em “Igrejas e Sobrados” - conforme traz a publicação “Museu Histórico e Artístico do Maranhão” -, a primeira versão da igreja remonta ao século XVII. Historiadores não determinam, com exatidão, a data da construção. Estima-se que seja anterior a 1641 e era, com a simplicidade da comunidade da época e em referência ao período inicial de colonização, “coberta de palha” e voltada para a praia (em referência à maré que ali chegava, às margens do bairro tradicional Desterro).

Segundo a referência em história maranhense, o pesquisador César Augusto Maques, a construção também foi usada para “a última morada”. Segundo Marques, “trata-se da primeira construção sagrada, e onde dormiam o sono eterno os primeiros habitantes do Maranhão”.

A Igreja de São José do Desterro, como é denominada oficialmente, é influenciada pela presença da comunidade holandesa. A marca estrangeira na cidade foi responsável, ainda de acordo com César Marques, com a destruição da então “pequena igreja”, também entre a primeira e segunda metade do século XVII.

Segundo o pesquisador Domingos Vieira Filho, em artigo publicado no “Jornal do Maranhão: Semanário de Orientação Católica”, de 19 de novembro de 1967, “com a invasão holandesa, deu-se um verdadeiro sacrilégio”. De acordo com ele, a frota holandesa era comandada por Corneliszoon Lichthardt, que chegou à cidade com 18 naus que ancoraram na “enseada fronteiriça à capela de Nossa Senhora do Desterro”.

De acordo com Vieira Filho, os holandeses “entraram a pilhar e saquear a cidade indefesa e inerme, entregue à fúria do invasor”. Na pesquisa, Vieira Filho constatou que, na passagem, os batavos (ou holandeses) despedaçaram a veneranda imagem de “N.S. do Desterro”.

Após este fato, houve um hiato na cronologia da igreja até a primeira metade do século XIX, quando um devoto de São José, conhecido como José Lé, surgiu como protagonista. Segundo a publicação “Museu Histórico e Artístico do Maranhão” e corroborada por Domingos Vieira Filho, Lé – acompanhado por outros populares – juntou-se com populares e conseguiu madeiras, cal, barro e pedras para cumprir seu objetivo, até a sua morte.

De acordo com César Marques, o “negro” José Lé ergueu sozinho e com fé algumas das paredes do templo. Com a morte de Lé, coube a José Antônio Furtado de Queixo, um modesto escrivão e morador da região, juntou dinheiro pedindo esmolas e, com muito esforço, entregou ao promotor eclesiástico Manoel Ignácio de Mendonça, no dia 14 de abril de 1839, o novo templo.

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Segunda metade do século XIX: a igreja “ganha vida”
Este período é considerado um marco para a Igreja do Desterro, pois foi a partir daí que a irmandade religiosa responsável pela administração e conservação da unidade para ritos religiosos passou a tomar conta da igreja. Com a morte de José Queixo, não havia quem “zelasse” pela então construção, o que causou o abandono “progressivo” da igreja.

Alguns pesquisadores apontam que, à época, o arquivo da unidade foi destruído pela ação das traças. Quase quatro décadas após o erguimento da então igreja do Desterro, a Câmara Municipal de São Luís exigiu que o Bispado Diocesano demolisse as então paredes do templo, com o objetivo de ser feita na área uma praça e um “mercado de peixes”.

O anúncio não foi bem recebido pela população e, após o fato, foi instalada uma comissão que seria responsável pela restauração da igreja, em meados de 1870. Coube a Marcelino José Antunes organizar os reparos.

Nova reforma
De acordo com a publicação “Museu Histórico e Artístico do Maranhão”, em 1954, a igreja passaria por reforma já que, de acordo com os frequentadores, a construção não contemplava mais as funções prioritárias. A direção do Museu reconheceu o valor histórico e sociocultural do templo e a entidade procedeu em obras de consolidação e restauro.

Em 2001, foi entregue a última reforma da Igreja do Desterro, ainda na gestão da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney.

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