Escultura

Cauda da 'Sereia da Ponta d'Areia' segue sem preservação

Parte do monumento ressurgiu na orla marítima, em janeiro deste ano; a escultura desapareceu com o projeto de readequação dos bares da orla

Nelson Melo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Cauda da sereia reapareceu em janeiro deste ano
Cauda da sereia reapareceu em janeiro deste ano (Sereia)

SÃO LUÍS- A história de São Luís é rica em relatos e construções artísticas. Alguns aspectos da cultura maranhense sobrevivem ao impacto de eventos naturais e à intervenção humana para projetos urbanísticos e paisagísticos. A “Sereia da Ponta d’Areia”, por exemplo, é um monumento que ainda se mantém para além da memória intelectual. A cauda dessa escultura, feita pelo ex-frade italiano Luigy Dovera na década de 1980, permanece na orla marítima de São Luís. A cauda da sereia, que estava desaparecida há 30 anos, foi reencontrada em janeiro deste ano, possivelmente trazida pelo vaivém das ondas do mar e, até o momento, segue sem manutenção, deixada na areia.

O monumento, quando estava íntegro, foi fixado na Praça do Sol, na orla da Praia da Ponta d’Areia. Vendedora de churrasquinho naquela praia há alguns anos, ‘dona’ Isabel disse a O Estado que ninguém se atreve a tocar na cauda. As pessoas apenas batem fotos. “O pessoal não deixa ninguém mexer, não deixa ninguém levar. A cabeça está enterrada na areia e fica descoberta quando a maré enche e seca”, comentou.

Na pedra que a sustenta, há a assinatura de Luigy Dovera e a data da construção do monumento: 25/09/1983. Quem se lembra? Essa memória está sendo arrastada pela maré, mas essa não é a explicação. Com o projeto de readequação de bares no entorno da Ponta d’Areia, a “Sereia” foi ignorada. Com esse esquecimento, uma parte do que o ludovicense tem de valor histórico se perdeu. A lembrança só ressurge com o sentido da visão ou com o tato.

Ouvir não é o suficiente. É preciso ver e sentir que a cauda contém o fragmento de uma mensagem cujo significado é mais do que mitológico. Enquanto as pessoas se divertem e tomam banho na praia, bem ali perto há um legado. Há, talvez, um pouco sobre uma lenda conhecida mundialmente e que está no inconsciente coletivo. “Sinceramente, não conheço a história dessa escultura, mas deve ser algo bem interessante. É muito chato quando as autoridades não preservam o que há de bom para o povo”, opinou Iara Melônio, que curtia uma brisa na orla da Ponta d’Areia.

Ela não sabe como o monumento foi construído, assim como muitos ludovicenses e turistas. As pessoas passam pelo local e se espantam com uma sereia sem cabeça. A sensação é de uma história incompleta. O que nos resta é reunir os pedaços para concluir um pensamento de Dovera, italiano que desembarcou no Maranhão após fugir dos horrores da 2ª Guerra Mundial. Natural da região de Milano, Luigy se casou com uma maranhense e, como escultor, transformou a paisagem de São Luís com sua habilidade artística.

O momento é propício para resgatar uma realização de quase 36 anos atrás, quando São Luís não possuía espigão costeiro e outros avanços urbanísticos. A “Sereia da Ponta d’Areia” não é uma lenda. Na verdade, é tão real quanto a destruição das nossas riquezas culturais.

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