Comércio informal

Sem bancas na Rua Grande, camelôs usam a criatividade para vender

Ambulantes estão proibidos de usar suas bancas na via até nos sábados e após fechamento de lojas; queda nas vendas, nas transversais, já supera 80%; agora, eles levam seus produtos no corpo para vender na Rua Grande

Ismael Araújo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Impedidos de montar bancas na Rua Grande e com prejuízos nas transversais, camelôs acharam alternativa
Impedidos de montar bancas na Rua Grande e com prejuízos nas transversais, camelôs acharam alternativa (Rua Grande)

“Na Rua Grande, considerada o cen­tro comercial da capital, não vai ter a presença dos ambulantes durante o fim de semana”, afirmou o diretor do Sindicato do Comércio de Vendedores Ambulantes de São Luís, Nélio Braga. Com o fim das obras do Complexo Deodoro e Rua Grande, os vendedores ambulantes, no último dia 7, foram transferidos da Rua Grande para as transversais e, segundo a categoria, suas vendas caíram mais de 80%.

Nélio Braga ressaltou que os ambulantes estão proibidos de montarem suas bancas em toda a extensão da Rua Grande, até mesmo no decorrer do fim de semana e no horário em que as lojas estão de portas fechadas. “Era de praxe, o ambulante colocar a sua banca na Rua Grande após o fechamento das lojas, no sábado, mas até isso foi proibido”, comentou Braga.

Ele disse que as vendas caíram muito após os ambulantes terem se instalado nas transversais. Para fugirem da crise, muitos vendedores estão perdurando os produtos no corpo e saem andando pela Rua Grande, à procura da clientela.
“Estamos no aguardo de alguma decisão do poder público”, comentou Braga.

O vendedor ambulante, popularmente chamado de camelô, Wallyson Araújo, de 23 anos, contou que está deixando a sua banca montada na transversal e sai andando pela Rua Grande, oferecendo o produto em suas mãos. “Caso não ande oferecendo o produto pelo centro, não consigo clientes”, afirmou.

Venda caiu
Maria das Dores, de 58 anos, trabalha na área do centro como vendedora ambulante há mais de duas décadas e, neste momento, vive uma crise nas vendas. “Quando a minha banca era na Rua Grande chegava a faturar por dia R$ 300,00, mas, atualmente, o meu lucro é de R$ 30,00. Estou pensando em deixar o comércio”, desabafou a ambulante.

A outra vendedora, Pamela Pereira, declarou que há mais de 10 anos negocia produtos importados na via, mas, desde a transferência, foi registrada queda substancial de clientes. O espaço é reduzido e, principalmente, a referência do ponto comercial, foram fatores para a redução no número de clientes. “Nunca deixei de vender tanto”, disse.

Já a ambulante Maria de Fátima está com a sua barraca de forma improvisada na Rua de São João. Ela disse que o tráfego de veículos impede a comercialização de todos os produtos. “Na Rua [Grande], eu tinha espaço para expor todos os produtos. Aqui, não tenho essa possibilidade”, afirmou.

Sem benefício
Para alguns consumidores, a alteração não foi benéfica. “Eu gostava mais quando a gente via os vendedores [ambulantes] na própria rua mesmo. Estou sentindo falta deles por aqui”, disse o auxiliar de serviços gerais, José Aparecido Silva.

A funcionária pública, Maria Clara Azevedo, declarou que muitas pessoas não costumam transitar pelas transversais e isso vai atrapalhar o trabalho dos vendedores ambulantes. “Quando venho ao Centro somente entro nas lojas e vou embora. De fato, não costumo andar pelas transversais da Rua Grande”, disse.

Fiscalização
Os funcionários da Blitz Urbana realizaram fiscalização na área do Centro para evitar a volta dos vendedores ambulantes para a Rua Grande. Ainda no período da ma­nhã de sexta-feira, 16, eles fiscalizaram as barracas e orientaram os ambulantes.

Nélio Braga informou que a categoria está procurando manter a padronização das barracas para facilitar até mesmo o trabalho. “Va­mos adotar uma tela de ferro, móvel e com tamanho padrão para todos os ambulantes”, explicou o diretor do Sindicato dos Ambulantes de São Luís.

Retirada
A retirada dos vendedores do logradouro foi realizada para garantir a originalidade no projeto executado pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na reforma da Rua Grande, cuja obra deve ser concluída até o fim deste mês. Em contrapartida, o Sindicato dos Vendedores Ambulantes de São Luís tenta, via judicial, impedir a consolidação da mudança dos trabalhadores para as transversais.

De acordo com o Município, a inclusão dos vendedores em um Shopping Popular faz parte do projeto macro do Complexo Deodoro que inclui intervenções na Rua Grande e adjacências.

Reunião
Uma reunião, realizada no último dia 8, na Câmara Municipal de São Luís, debateu a situação do comér­cio informal na área do centro e contou com a presença de vereadores, representantes do Sindicato do Comércio de Vendedores Ambulantes de São Luís, Associação dos Vendedores Ambulantes, Defensoria Pública, Ministério Público, Associação Comercial, Câmara dos Dirigentes Lojistas e Secretaria Municipal de Urbanismo e Habitação (Semurh); além do deputado estadual Wellington do Curso (PSDB).

No encontro, ficou definido que os comerciantes ganharão o Shopping do Comércio Informal de São Luís, localizado no Centro, para exercer suas atividades. O projeto entrará na fase de licitação até setembro desde ano. Enquanto isso, os ambulantes terão de ficar fora da Rua Grande.

De acordo com o secretário da Semurh, Mádison Leonardo, os comerciantes informais foram informados antes e durante a obra de requalificação da Rua Grande que a retirada seria necessária. “Estamos abertos a sugestões para que a melhor decisão seja tomada para todos”, destacou.

Ainda durante a reunião, o presidente Sindicato do Comércio de Vendedores Ambulantes de São Luís, conhecido como Ribinha, pediu que os vendedores ficassem na Rua Grande até a entrega do shopping e alegou que trabalham nas ruas há décadas. “Solicitamos pelo menos a ampliação do prazo. Peço para que os órgãos responsáveis vejam o lado humano da situação”, frisou o presidente.

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