SÃO LUÍS - “Quarta e quinta em São Paulo (SP); sexta, Afrânio (PE); sábado, Areia Branca (SE) e Salvador (BA); domingo, Arraiá do GD [Gabriel Diniz] em Belém do Pará. Alô, galera de Belém do Pará!”. Foi com o bom humor e com a empolgação de sempre que o cantor Gabriel Diniz anunciou na manhã desta segunda-feira (27), em uma das suas redes sociais, a agenda de shows programados para os próximos dias. Os planos de Gabriel Diniz e a expectativa de milhares de fãs foram frustrados com a notícia inesperada da morte de Gabriel. Ele estava em um avião de pequeno porte que caiu em uma área de manguezal no sul de Sergipe. Nenhum dos ocupantes sobreviveu à tragédia.
Imediatamente após as primeiras divulgações, os fãs começaram a expressar o que sentiam, nos mais diversos meios. A conta de Gabriel Diniz no Instagram recebeu uma enxurrada de comentários incrédulos. Desde desconhecidos até famosos manifestaram pesar. “Fala que é mentira, irmão, por favor!”, disse a dupla sertaneja Henrique e Diego. “Isso tem que ser mentira, meu Deus!”, exclamou o cantor Tony Salles. Um fã chegou a dizer que a morte dele ainda não tinha sido confirmada. “Se Deus quiser, ele ainda está vivo”, comentou o admirador.
Diante da perda de um dos mais bem sucedidos ícones da música pop brasileira na atualidade, a consternação foi geral. Mas como explicar que, mesmo sem vínculos familiares ou sem aproximação alguma, tanta gente esteja tão triste?! “Primeiramente, é preciso perceber que acidentes são sempre inesperados, portanto, somente a notícia da queda do avião, independentemente de quem estava a bordo, já causa alguma comoção. Agora, quando se junta a isso o fato de que nenhum ocupante sobreviveu, e que uma dessas vítimas estava no auge na carreira profissional, não há como não se entristecer”, explica a psicóloga Celiane Chagas, do Hapvida Saúde.
A especialista também observa outro aspecto importante. Mesmo quem não ía a shows do Gabriel Diniz, de alguma forma, chegou a conhecê-lo, por meio da música mais tocada no Brasil nos últimos tempos. O nome dela? É Jeniffer! “A música alegre, pra cima, fez muita gente dançar, sorrir, brincar. Em geral, essa é a memória que a música desperta. Por isso, essa tristeza parece ser ainda mais intensa”, enfatiza Celiane.
Redes sociais
Além da arte, Gabriel Diniz também usava as redes sociais para se aproximar do público. Com mais de 3 milhões de seguidores no Instagram, Gabriel costumava mostrar bastidores de shows, viagens, passeios e festas. “Então, quem o seguia passou a se sentir muito mais próximo, como se conhecesse o Gabriel de perto. Esse fenômeno não ocorreu apenas nesse caso. Mas a própria sistemática da rede social favorece esse tipo de sentimento, com qualquer pessoa. Saber que ele não estará mais ali, gravando vídeos, e ‘falando’ com as pessoas na palma da mão delas, certamente, causa mais do que tristeza. Os faz, em especial, podem vivenciar até mesmo um estado de luto”, alerta a psicóloga.
Luto
O luto é um estado psíquico extremamente doloroso, associado à morte e às perdas. No entanto, por mais difícil que possa ser, é necessário “viver o luto” para não se “viver de luto”. A psicóloga Carmen Campos, coordenadora do curso de Psicologia da Estácio São Luís, fala que é imprescindível passar por todas as fases desse processo para que se atinja a superação. O contrário pode provocar o “luto patológico”, que é causa frequente de graves doenças psicológicas, como depressão, transtornos de ansiedade e outras patologias.
Em geral, a vivência do luto se dá em cinco fases. A primeira fase pode ser reconhecida com base em reações e frases como “eu estou bem”, “não preciso de ajuda”. Em um segundo momento, aparecem a negação e raiva, bem percebidas em colocações como “isso não é justo comigo”, “por que Deus fez isso comigo?”.
A terceira fase, de acordo com a psicóloga, é a da barganha, quando as pessoas enlutadas querem fazer uma negociação do tipo “Eu faria qualquer coisa para ter ele(a) de volta”. Nesse caso, tem pessoas que recorrem à espiritualidade e se aproximam de determinadas religiões para tentar amenizar a saudade e também a dificuldade de lidar com a perda.
Mais à frente, aparece a fase depressiva, em que a pessoa se nega a sair de casa e acredita que a dor que sente não vai passar. “Essa é a fase em que a pessoa está se despedindo do luto, quando começa a entender que é um sofrimento, mas que precisa sair do fundo do poço e que, para isso, só depende dela”, explica a especialista.
A última etapa é a mais importante e a mais demorada. Essa é a fase da aceitação, que pode ser bastante prolongada para algumas pessoas. Também conhecida como a fase da conformidade, esse momento é reconhecido quando as pessoas começam a dizer, por exemplo, que a morte trouxe a paz para quem partiu e para quem ficou.
“Aceitar o luto sempre vai ser o melhor caminho, porque quando as pessoas o negam, elas enclausuram o próprio sofrimento, fazem com que aquilo fique muito mais aparente”, defende a professora Carmen, ao lembrar que vai chegar um momento em que a saudade não vai doer mais, será considerada leve, e só trará boas memórias... Assim como as que surgem quando se escuta que “o nome dela é Jenifer”...
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