SAÚDE

Maranhão é o 8º do país em incidência de hanseníase, diz Ministério da Saúde

Cerca de 12 mil novos casos foram diagnosticados nos últimos três anos; São Luís é o 6º município em incidência no país; melhor combate é a prevenção

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Diagnóstico precoce permite um tratamento sem sequelas
Diagnóstico precoce permite um tratamento sem sequelas (Hanseniase)

SÃO LUÍS - Dados do Ministério da Saúde apontam, entre os anos de 2016 e 2018, cerca de 12 mil novos casos de hanseníase diagnosticados no Maranhão. São Luís aparece, nos últimos três anos, entre as 10 cidades com maior incidência em todo o país, com aproximadamente 1.800 casos durante o período. No estado, Balsas, Imperatriz e São José de Ribamar também se destacam como os municípios com maior número de diagnóstico da doença, caracterizada pelo comprometimento de nervos periféricos, podendo gerar incapacidades físicas permanentes. Especialistas ressaltam ações preventivas como essenciais para a reversão de quadro.

No total, 11.796 casos de hanseníase foram diagnosticados no Maranhão durante o último triênio. Destes, 3.895 foram registrados em 2016, 4.065 em 2017 e 3.836 no ano passado, colocando o estado entre as 10 unidades da Federação com maior incidência da doença. São Luís, por sua vez, ocupou a terceira pior colocação entre as cidades brasileiras durante os anos de 2016 e 2017, com, respectivamente, 599 e 625 casos. Em 2018, a capital apresentou uma queda no número de diagnósticos e, com o registro de 568 novos registros, ocupou a 6ª pior posição nacional.

Além de São Luís, que entre as cidades do estado apresentou o maior número de casos durante os três últimos anos, municípios como Balsas, Imperatriz e São José de Ribamar também se destacaram. Conforme o boletim do Ministério da Saúde, Imperatriz se manteve com o segundo pior indicativo durante o triênio, com o registro de 618 casos durante o período, enquanto Balsas, em 2016, esteve na terceira colocação, com 133 novos casos de Hanseníase, sendo substituída nos dois anos seguintes por São José de Ribamar, que apresentou, respectivamente, 152 e 117 registros de diagnóstico da doença.

De acordo com especialistas, a melhor forma de combater a hanseníase e evitar a incidência de novos casos é por meio da prevenção, uma vez que se trata de uma doença silenciosa, como destacou a dermatologista Eline Weba, do Hapvida Saúde. “O período de incubação do bacilo varia de 3 a 5 anos. Somente depois desse tempo, em média, os primeiros sintomas podem se manifestar”, ressaltou a médica.

Segundo ela, o ideal é que, ao menor sinal da doença, o paciente e seus familiares busquem atendimento médico. “O diagnóstico precoce permite um tratamento sem sequelas. Sempre que alguém for diagnosticado, é necessário que leve os familiares para que também sejam examinados”, reforçou.

Em São Luís, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Semus), um programa de controle da doença está sendo implantado em unidades da rede de assistência. Ainda segundo a Semus, além da identificação de pacientes infectados, o Município também disponibiliza medicamentos e acompanha o tratamento com profissionais especializados, a fim de tratar portadores da doença, assim como evitar o surgimento de novos casos.

O Estado manteve contato, ainda, com a Secretaria de Estado da Saúde (SES) para questionar as medidas adotadas para reverter o quadro maranhense no que se refere à doença, com resposta após o fechamento da edição impressa.

A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou, na nota, que tem avançado no processo de descentralização das ações de controle da doença na atenção básica e fortalecido o monitoramento contínuo de ocorrências de casos novos nos municípios maranhenses. Realiza, ainda, atividades de educação em saúde para alertar a sociedade civil sobre os sinais e sintomas, além de incentivar a procura pelos serviços de saúde para diagnóstico e tratamento completo no SUS. Somado a isso, a Secretaria tem mobilizado profissionais de saúde quanto à busca ativa de casos novos e realização de exame dos contatos; e promoção de atividades de educação em saúde que favoreçam a redução do estigma e do preconceito que permeiam a doença.

Centro de referência

Na edição de 12 de março, O Estado noticiou que, após problemas de infiltração e risco de desabamento do telhado, o prédio que já funcionava de forma provisória como Unidade de Apoio – destinado a casos de internação – do Hospital Aquiles Lisboa (HAL) precisou ser interditado, exigindo a transferência dos internos para um prédio anexo, que não dispõe de condições básicas para o atendimento dos pacientes.

Referência no tratamento de hanseníase no Maranhão, o hospital, localizado na Ponta do Bonfim, área Itaqui-Bacanga, em São Luís, reflete a “negligência e o descaso com a saúde pública do estado”, de acordo com pacientes e visitantes do centro. Segundo eles, funcionários relataram planos de fechamento do local, mas a informação foi negada pela direção da unidade e pela Secretaria de Estado da Saúde.

Na ocasião, pacientes e ex-pacientes que, atualmente, residem na Ponta do Bonfim (antiga colônia que abrigava pessoas em tratamento no hospital) afirmaram que as interdições se tornaram comuns no centro de referência. Segundo o aposentado Raimundo Sardinha, que mora no local há 25 anos, a primeira transferência ocorreu há cerca de oito anos, quando o prédio oficialmente destinado às internações entrou em reforma.

“Já é a segunda transferência em oito anos. O primeiro prédio está aparentemente concluído, mas continua fechado. Neste ano, antes do Carnaval, os pacientes foram novamente transferidos para este prédio anexo, que servia de apoio para os médicos, e aí ficam misturados, numa bagunça só”, relatou.

Na manhã de ontem (2), O Estado voltou ao local e constatou que os serviços ainda não foram concluídos e o prédio, interditado há cerca de um mês, permanece inativo. Sobre o assunto, a SES esclareceu que a unidade passa por serviços de reestruturação do telhado, além de substituição de peças de madeira da cobertura, desmontagem e recuperação do forro. A previsão para o término da obra é até o final do mês de maio.

Doença
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pela bactéria Mycobacterium leprae, caracterizada pelo comprometimento dos nervos periféricos, com perda/alteração de sensibilidade cutânea térmica, dolorosa e/ou tátil e de força muscular, o que pode gerar incapacidades físicas permanentes, principalmente em mãos, pés e olhos.

O diagnóstico precoce continua sendo o elemento individual mais importante na cura da doença, prevenção de deficiências e redução da transmissão e baseia-se em sinais e sintomas clínicos e histórico epidemiológico. A baciloscopia do raspado intradérmico, exame auxiliar no diagnóstico, pode ser positiva ou negativa, dependendo da classificação operacional (multibacilar/paucibacilar). O resultado negativo não afasta o diagnóstico de hanseníase.

SAIBA MAIS

Sintomas

– Manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas, em qualquer parte do corpo, com perda ou alteração de sensibilidade térmica (ao calor e frio), tátil (ao tato) e à dor, que podem estar principalmente nas extremidades das mãos e dos pés, na face, nas orelhas, no tronco, nas nádegas e nas pernas;

– Área de pele seca e com falta de suor, com queda de pelos, especialmente nas sobrancelhas; sensação de formigamento;

– Dor e sensação de choque, fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e das pernas, inchaço de mãos e pés; diminuição da força dos músculos das mãos, pés e face devido à inflamação de nervos, que nesses casos podem estar engrossados e doloridos;

– Úlceras de pernas e pés; caroços (nódulos) no corpo, em alguns casos avermelhados e dolorosos; febre, edemas e dor nas juntas; entupimento, sangramento, ferida e ressecamento do nariz; ressecamento nos olhos.

– Alguns casos não apresentam lesões de pele, apenas comprometimento de nervos periféricos, ocasionando assim alterações de sensibilidade e força muscular, além de dores na região dos respectivos nervos

Tratamento

Os medicamentos para a hanseníase são chamados de Poliquimioterapia - PQT, que é distribuída gratuitamente nas unidades de saúde. Esses medicamentos curam a doença, interrompem a transmissão e previnem as incapacidades físicas. Os esquemas terapêuticos variam de acordo com a classificação operacional do doente, podendo ser Paucibacilar (6 cartelas) ou Multibacilar (12 cartelas) e a dosagem dos medicamentos é escolhida de acordo com a idade e peso do paciente. No caso de intolerância a qualquer uma das drogas, é possível fazer a substituição por outros medicamentos.

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