SAÚDE

População em situação de rua é mais propensa à tuberculose

São Luís registrou, no ano passado, 75 casos de dependentes químicos em situação de rua com a doença; contágio no grupo é 56 vezes maior que em outras comunidades, por ser mais vulnerável devido às condições sociais

IGOR LINHARES / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

SÃO LUÍS - Ao viver em situação de rua, muitas pessoas ficam vulneráveis a diversos males, como as doenças, de forma mais incidente as infectocontagiosas, a exemplo da tuberculose, sobretudo por quem consome entorpecentes químicos, realidade de muitos que se aglomeram pelos entornos do Mercado Central, no centro de São Luís. De acordo com dados do Programa Estadual de Controle da Tuberculose, da Secretaria de Estado da Saúde (SES), neste grupo populacional foram registrados 75 casos da doença, em 2018. Últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam as chances de contágio da doença em tal população 56 vezes maiores do que em outras comunidades de risco.

Atualmente, o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS ad) estima que 300 pessoas, em dependência química, sobrevivam nas ruas do centro de São Luís, principalmente na região do Mercado Central. Sob condições degradantes, debaixo de sol e chuva, ao relento, muitos dependentes perambulam pela área e formam o cenário degradante da vida humana de quem não consegue lutar, sozinho, contra o vício por substâncias entorpecentes. Além da mácula social, outro problema, proveniente, são as doenças infectocontagiosas, como a tuberculose - impossibilitada da erradicação e preponderante nesse grupo populacional, segundo especialistas.

“A população em situação de rua, principalmente os usuários de álcool e outras drogas, tem uma maior vulnerabilidade de ser infectada e desenvolver a tuberculose por causa das condições sociais, econômicas, de moradia e alimentação com que vive, porque a tuberculose é uma doença oportunista, ou seja, o que determina se o indivíduo vai desenvolver a doença ou não é o sistema imunológico”, explicou a coordenadora do Programa Estadual de Controle da Tuberculose, da SES, Rosany Carvalho. Segundo ela, os indivíduos em situação de rua estão, comumente, com a autodefesa do corpo fragilizada pela falta de acesso à saúde e informação.

Isto é, a doença, de fácil propagação, só se desenvolverá se os mecanismos de defesa do organismo contaminado pela bactéria estiverem debilitados, como acrescenta a médica clínica geral, do Hapvida Saúde, Graziela Medeiros. “A bactéria é transmitida nas gotículas eliminadas pela respiração, por espirros e pela própria tosse. Se ela chegar aos alvéolos pulmonares, a infecção causará a doença. A partir daí, ela poderá invadir a corrente linfática e alcançar os gânglios (linfonodos), órgãos de defesa do organismo”, quadro agravante que pode levar à morte. “A [tuberculose] é a doença infectocontagiosa que mais causa mortes no Brasil”, mensurou.

Ação social
No ano passado, São Luís registrou 75 casos da doença, provenientes de comunidades que vivem em situação de rua por causa da dependência química. Número exorbitante, se comparado à quantidade atual de dependentes que moram nas ruas estimada pelo CAPS ad. De acordo com o diretor do órgão, que, em parceria com o Município e outras repartições da saúde estadual, promoveu uma ação no Mercado Central de São Luís ontem (26), retirar os dependentes químicos da rua para tratamento do vício, desde que consentido, é uma questão de saúde pública, ao ponto que a tuberculose, presente com 56 vezes mais frequência em grupos populacionais em situação de rua, é de fácil disseminação. A ação contou com serviços de saúde para dependentes químicos, como exame de baciloscopia, imprescindível para o diagnóstico da tuberculose.

“A ‘Operação Resgate’, realizada pelo CAPS ad pela quinta vez neste ano, é não só um serviço de saúde mental, mas, também, de saúde física. Portanto, em parceria com o Programa Estadual de Controle da Tuberculose, desta vez pretendemos evitar que casos de tuberculose, os quais vêm aumentando muito na população em situação de rua, diga-se de passagem pela vulnerabilidade social e pela parte imunológica que fica deprimida em razão do uso de substâncias químicas, se disseminem e causem mortes”, destacou Marcelo Soares, diretor do CAPS ad.

“A tuberculose é uma doença perigosa, porque pode matar, e o pior: é silenciosa enquanto evolui. Ela é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também chamada de bacilo de Koch. Ela tem como principais sintomas: tosse (mais de duas semanas), presença de muco (catarro), febre, suor excessivo, cansaço e dor no peito”, complementou a médica clínica geral.

Panorama local
De acordo com informações do Programa Estadual de Controle da Tuberculose, o município de São Luís contabilizou 933 casos da doença durante o ano de 2018. Destes, 75 casos da doença incidiram sobre a população em situação de rua e dependente química.

Em nota, o Governo do Maranhão, por meio da SES, informou que do primeiro dia de janeiro de 2019 até ontem (26) haviam sido notificados 307 casos de tuberculose em todo o Maranhão.

Panorama estadual
De acordo com dados da Coordenação-Geral do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (CGPNCT), do Ministério da Saúde (MS), relativos ao último balanço realizado, o Maranhão registrou cerca de 30 casos de tuberculose para cada 100 mil habitantes. Já o balanço sobre o total de óbitos, ainda conforme os dados, foram cerca de 3 registros para cada 100 mil habitantes. No ranking da região Nordeste, o Maranhão fica na 5ª posição. No ano passado foram 2.759 casos da doença.

Panorama brasileiro
Os dados da CGPNCT evidenciam que o Brasil registrou, no último ano do balanço, 33,5 casos para cada 100 mil habitantes. O resultado mostrou ainda que, dos novos casos registrados, no ano de 2017, a doença é mais incidente no público masculino, grupo que corresponde a 69% de todos os registros, enquanto as mulheres correspondem a 31% da estatística.

Por fim, os dados mostraram que o número de óbitos é de 2,1 para cada 100 mil habitantes, e que 4.426 pessoas que morreram por causa da doença, em 2016, 74,6% eram homens, e 25,4% mulheres, ponto que evidencia a maior preocupação das mulheres em procurarem o sistema de saúde para diagnóstico precoce e darem continuidade ao tratamento por, pelo menos, seis meses desde que iniciado.

SAIBA MAIS

O que é Tuberculose?

É uma doença causada por uma bactéria que ataca principalmente os pulmões, mas pode ocorrer em outras partes do corpo. “Além dos pulmões, a doença pode acometer órgãos como rins, ossos e meninges, por exemplo. Diante dos sintomas, é preciso procurar um Posto de Saúde o mais rápido possível, pois o tratamento é gratuito e deve ser iniciado imediatamente, pois a doença é altamente perigosa e letal, se não diagnosticada logo”, acrescenta a médica Graziela Medeiros. “A doença é democrática e todos estão sujeitos à infecção. O ideal é manter boa higiene e utilizar, de preferência, objetos pessoais sempre”.

Como saber se alguém está com a doença?

Quem tem tosse por mais de três semanas, acompanhadas ou não de febre no fim do dia, suor noturno, falta de apetite, perda de peso, cansaço ou dor no peito, pode ter tuberculose.

Como se pega?

A tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa. Ao espirrar, tossir e falar, o doente com tuberculose nos pulmões espalha no ar as bactérias, que podem ser aspiradas por outras pessoas.

Formas de prevenção

Ambientes fechados e mal ventilados favorecem a transmissão da doença. Luz solar e ventilação ajudam a prevenir. A vacina BCG, recomendada para menores de um ano, só protege as crianças contra as formas mais graves da doença. É importante prevenir para reduzir a chance de contaminação do ar.

Forma de tratamento

Após o diagnóstico na Unidade de Saúde, o tratamento deve ser feito o quanto antes e por um período mínimo de seis meses, todos os dias e sem nenhuma interrupção, mesmo com o desaparecimento dos sintomas. O tratamento só termina quando o profissional de saúde confirmar a cura por meio de exames.

SINTOMAS

Entre os principais sintomas da tuberculose estão:

- Tosse por mais de duas semanas;
- Produção de catarro;
- Febre;
- Sudorese;
- Cansaço;
- Dor no peito;
- Falta de apetite;
- Emagrecimento;
- Escarro com sangue em casos mais graves.

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