Função social

Carroceiro: o precursor dos primeiros meios de transporte em São Luís

Uma das funções mais antigas em vigência na capital maranhense possui regulamentação há anos, no entanto, texto é integralmente descumprido

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

Uma das funções sociais mais antigas ainda em vigência em São Luís, o carroceiro é daqueles personagens que somente é visto por suas passagens por entre os carros em ruas e avenidas da cidade. No entanto, estes trabalhadores buscam maior valorização e reconhecimento de benefícios adquiridos nos últimos 10 anos e que, sem qualquer motivo, ainda não foram concedidos pelo poder público. Antes do aparecimento da figura dos carroceiros, os veículos de tração animal, conduzidos por eles, tiveram importância histórica para o desenvolvimento do país.

No século XIX, o país atravessava uma fase de transição entre uma economia predominantemente agrária e a inclusão de mecanismos industriais. Mesmo diante desta transformação, os veículos de tração animal apresentavam valor, por sua utilidade, por exemplo, no transporte e armazenamento de grandes cargas e de plantações de cana-de-açúcar. A figura dos condutores deste tipo de veículo era comum mesmo nas grandes cidades brasileiras.

Com o passar dos anos, mais especificamente no final do século XIX, começaram a ser desenvolvidos outros meios de transporte no país. Os primeiros bondes surgiram no território nacional nas cidades consideradas mais importantes para a economia, como Rio de Janeiro e São Paulo. Os primeiros bondes a chegarem no país eram de tração animal. Ou seja, neste caso, os bondes rolavam sobre os trilhos de aço e suas rodas eram feitas de forma a não escaparem dos trilhos quando puxados pelos cavalos. O Museu Virtual do Transporte Urbano enfatiza que o primeiro bonde à tração animal do Brasil surgiu em 1859.

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Para conduzi-lo, uma espécie de cocheiro – primeira versão da figura do carroceiro – segurava as rédeas do animal. Ele, inclusive, era treinado para parar o animal e, em consequência, o veículo em caso de emergência. De acordo com o centrosampa.wordpress.com (blog para trabalho do Centro Universitário Sant'Anna), um dos primeiros empreendimentos a investir no veículo no Brasil foi a Companhia Carris Ferro, que chegou a ter em seu acervo pelo menos 50 carros de carga, número considerado um luxo para a época.

Com o estímulo do uso dos bondes à tração animal, houve um súbito crescimento das cidades brasileiras, já que passou a ser possível ir até localidades cujos acessos eram considerados bloqueados.

Se ao longo do século XIX, os bondes movidos por animais fizeram parte do cotidiano brasileiro, com a passagem para o século XX, os mesmos passaram a ser substituídos pelos chamados bondes elétricos, mais ágeis e modernos. Esta transformação, inclusive, foi considerada um marco para a história do país e foi registrada em jornais de grande circulação como, por exemplo, a Gazeta de Notícias.

Na edição do periódico do dia 14 de outubro de 1894, o escritor Machado de Assis citou a troca entre a figura do então cocheiro (que conduzia o bonde) pelo motorneiro, responsável pela condução do veículo mais moderno. Segundo o escritor, “vede o homem que vai na frente do bond elétrico. Tendo a seu cargo o motor, deixou de ser cocheiro, como os que regem bestas, e chamamos-lhe motorneiro em vez de motoreiro, por razão de eufonia. Há quem diga que o próprio nome de cocheiro não cabe aos outros, mas é ir longe demais, e em matéria de língua, quem quer tudo muito explicado, arrisca-se a não explicar nada.”

De acordo com o texto de Marta Iansen intitulado “Bondes de tração animal e bondes elétricos”, outro fator que estimulou a mudança entre o veículo conduzido pelo homem integralmente e àquele com a participação da máquina em si foi um fato relatado pela mesma “Gazeta de Notícias’ em 1896. Segundo o veículo, a “Companhia Vila Isabel”, empresa da época, foi condenada a pagar ao dono de um cavalo – morto por um de seus veículos – a soma de “sessenta contos de réis”. Ainda de acordo com o periódico, o valor vultoso se justificava pois se “tratava de animal de fina raça”.

Ou seja, as empresas preocupadas com a transformação nos modos de transporte e para evitar o pagamento deste e de outros tipos de despesas extras passaram a investir nos veículos elétricos.

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