Descaso

Sem atendimento, idosa passa mal e morre em frente a hospital

Caso ocorreu em Pinheiro; Hilda Ferreira Barbosa, de 65 anos, tinha problemas renais crônicos e retornava de uma sessão de hemodiálise em São Luís

Daniel Júnior / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

[e-s001]Sofrendo com problemas renais crônicos, a idosa Hilda Ferreira Barbosa, de 65 anos, morreu na noite da última quinta-feira (20), em frente ao Hospital Regional da Baixada Maranhense Dr. Jackson Lago, em Pinheiro, a 87 km de São Luís. De acordo com familiares, ela não recebeu atendimento médico e houve omissão de socorro pela unidade de saúde. A idosa retornava de uma sessão de hemodiálise em São Luís, quando passou mal e morreu, dentro do ônibus que transporta pacientes que fazem o tratamento na capital.
Em entrevista à TV Mirante, um dos pacientes contou que o hospital foi comunicado que uma pessoa em estado grave estava a caminho. “Avisaram que estava precisando de um leito. Disseram que, na hora em que chegasse aqui, era para procurar uma pessoa que já estava autorizada para abrir o portão, para se internar”, disse. Quando o veículo chegou, a unidade de saúde estava fechada. O vigia, que preferiu não se identificar, informou que não tinha recebido autorização para permitir a entrada do ônibus. “Este aqui é um hospital de porta fechada. Para entrar um paciente aqui, tem que estar regulado. Essa situação tinha que ser repassada”, contou. “Ela chegou viva aqui e morreu na frente da porta do hospital”, disparou outro paciente, que testemunhou a morte.
Assim como os outros passageiros do ônibus, Hilda Barbosa morava em Pinheiro, mas tinha que fazer hemodiálise na capital, pois na cidade já deveria ter sido inaugurado um Centro de Hemodiálise, mas as obras estão atrasadas. Isso obriga os pacientes a viajarem oito horas por dia, três vezes por semana, para fazerem o tratamento.
Hilda Barbosa havia participado de um protesto, há cerca de dois meses, pedindo a conclusão das obras e a abertura do Centro de Hemodiálise em Pinheiro. Ela demonstrava cansaço pelas viagens e a dificuldade em conseguir tratamento. “Estou cansada demais (...) Eu só vou porque sou obrigada, porque, se não fosse, eu não ia… e quando chega uma hora dessas a gente tá morto de cansaço”, relatou na época.
Conforme outros pacientes que estavam no veículo, no trajeto de São Luís para Pinheiro, a idosa começou a passar mal. Nesse momento, foi feito um contato com o hospital em questão para que a idosa fosse atendida. O hospital não atende em urgência e emergência, mas é o mais equipado da cidade, por se tratar de um hospital de alta complexidade. Ao chegar à porta do hospital, as pessoas que acompanharam o caso disseram que a entrada da idosa não foi autorizada e, posteriormente, ela morreu no local.

[e-s001]Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde disse que a paciente foi orientada a não sair de São Luís, por recomendação médica. A nota contradiz as testemunhas, pois a secretaria garante que “um médico da unidade entrou no micro-ônibus para realizar o primeiro socorro, e, em seguida, a paciente foi submetida aos procedimentos clínicos exigidos neste caso, dentro do hospital”, o que, segundo eles, não aconteceu.

SAIBA MAIS

O Governo do Maranhão havia reservado em 2014 quase R$ 7 milhões para a construção de sete novos Centros de Hemodiálise no estado. A obra da clínica de Chapadinha deveria ter sido entregue em 2015 e, segundo o governador Flávio Dino, em entrevista à TV Mirante, começou a funcionar agora, em setembro de 2018, mas o local onde deveria ser construído o centro de tratamento continua apenas com uma placa e sem obras. Os outros centros também não foram entregues, ainda.
Uma liminar da justiça determinou, em 2016, que o governo estadual entregasse a clínica de Chapadinha no prazo de um ano, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. Até o fim de 2017, a multa já passava de R$ 1 milhão. Para essa obra específica, o Ministério Público do Maranhão (MPMA) investiga o uso R$ 2 milhões e 400 mil que haviam sido liberados para a obra da clínica em Chapadinha em um convênio com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

NOTA DO GOVERNO DO ESTADO

"A Secretaria de Estado da Saúde (SES) lamenta a morte da paciente que estava em tratamento em São Luís e informa que a mesma foi orientada a permanecer na
capital por recomendação médica. A SES esclarece ainda, que:
1. A equipe do Hospital Macrorregional de Pinheiro prestou toda a assistência à paciente. Inclusive, um médico da unidade entrou no micro-ônibus para realizar o primeiro socorro e, em seguida, a paciente foi submetida aos procedimentos clínicos exigidos
neste caso, dentro do hospital;
2. O serviço de hemodiálise de Pinheiro será inaugurado ainda em setembro e funcionará dentro do Hospital Macrorregional;
3. Como parte da expansão do serviço de hemodiálise no interior do estado, deu-se início ao atendimento dos pacientes crônicos renais na cidade de Chapadinha esta semana e, em janeiro, o município de Balsas também contará com o serviço."

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