Beleza da Ilha

Da lágrima da filha de Itaporama nasceu a praia do Olho d’Água

Alvo do imaginário popular, com suas lendas, ao ostracismo e abandono do poder público; trecho da orla, que já foi frequentado por diversas famílias nos anos de 1970 e 1980, atualmente sofre com o descaso das autoridades públicas

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

[e-s001]Localizada no norte da Ilha e situada a 10 quilômetros do centro da cidade, com grande faixa de areia e on­das que chegam a atingir mais de dez metros de altura, a praia do Olho d’Água é conhecida por muitos devido à denominação considerada exótica e rica de elementos culturais. Se antes o trecho era conhecido pela lenda que explica sua origem, atualmente a praia é uma das mais problemáticas, em especial pela ausência das condições ideais de balneabilidade.

Antes de se tornar uma das praias com pior situação para uso e banho da cidade, foi bastante frequentada, especialmente em meados dos anos de 1970 e 1980. Com a construção de rotas na Ilha que davam acesso à sua faixa de areia, diariamente pessoas e mais pessoas deixavam seus lares e se deslocavam até o Olho d’Água.

Muitos desses banhistas desconheciam a lenda referendada por escritores que trata do surgimento deste pedaço da orla. Reza a lenda que, “há muitos e muitos anos, antes da chegada dos europeus às terras de Upaon-Açu”, existia na atual faixa da praia uma aldeia indígena, chefiada por Itapo­rama.

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Segundo consta na lenda, Itaporama tinha uma filha, que se apaixonou de forma fervorosa por um “jovem índio da tribo”, que adorava banhar nas águas do mar. Um certo dia, o “jovem índio” decidiu se refrescar quando foi visto pela “Mãe d’Água” que se apaixonou pelo guerreiro e o leva para o seu palácio, nas profundezas do mar.

A filha de Itaporama, sem o seu amor, fica desolada e, ao passar dias sem se alimentar com saudades do grande amor, é enterrada no meio das areias da praia. Mais tarde, brotaram dois olhos d’água, que teriam virado duas nascentes que correm em direção ao mar. Seria devido a esse olho d’água que a praia recebeu seu nome.


A lenda indígena é retratada por dois autores. Um deles é Carlos de Lima, em sua obra intitulada “Lendas do Maranhão”, lançada em 2006. Nela, o escritor descreve o mito como “duas fontes gêmeas” próximas ao mar, referindo-se às nascentes que teriam gerado o nome da praia. Para Carlos de Lima, “dos seus olhos nasceram as duas fontes irmãs que perpetuam até hoje esta história de um amor inatingido”.

[e-s001]É esse quase elemento utópico do amor entre membros da mes­ma tribo que chamou a atenção do escritor e imortal (ocupante da Cadeira número 11 da Academia Maranhense de Letras), José Ewerton Neto. Em nova edição de seu livro “O Entrevistador de Lendas”, que deverá estar à disposição do público até o fim deste ano, Ewerton também reunirá características da lenda que norteou a praia do Olho d’Água. “Ao contrário de outras, esta [lenda do Olho d´Água] tem um elemento muito singular, que é a presença de itens da cultura indígena. Diferentemente de outras histórias que se pautam em personagens reais e em outros contextos históricos”, disse a O Estado.

Para Ewerton, a lenda do Olho d’Água é uma das mais ricas existentes no estado. “Ela tem elementos riquíssimos e que fazem dela um enredo muito interessante. A começar pelo amor desesperador de uma mulher pelo seu amado. E ainda tem a morte, que gera uma desolação tão gran­de que, dali, nasce o que era até então uma praia belíssima”, finalizou. l

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Bares “famosos”
Com o deslocamento, a cada dia, de novos frequentadores, foram surgindo - ao longo da orla - diferentes estabelecimentos que ofereciam comidas e bebidas de qualidade e que marcaram a história de várias famílias. Entre os mais conhecidos, estiveram o “Roda Viva”, o “Caranguejo Bar” e ainda o “Bar do Bena”. Este último, aliás, era divulgado nacionalmente, pois artistas e jogadores de futebol famosos o procuravam quando queriam conhecer melhor as belezas naturais da cidade.
A praia das “oferendas”
Nos fins de ano e em outros períodos, a praia do Olho d’Água é o cenário escolhido por representantes de terreiros de umbanda de todo o Maranhão. Em 2017, os representantes da religião se reuniram pela 78ª vez e, como de praxe, montaram altar gigante e decorado com frutas, flores, luzes e outros ornamentos. O significado, para os umbandistas, é jogar oferendas para Iemanjá, considerada a “Rainha do Mar”.

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