Pesquisa

Pesquisadoras de todo o mundo discutem gênero e matemática

Encontros de mulheres matemáticas foram realizados nas últimas duas edições do ICM, mas o foco era apenas a pesquisa científica desenvolvida por elas; a discussão de gênero entrou no debate

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
Pesquisadoras de diversos países participam do Encontro Mundial
Pesquisadoras de diversos países participam do Encontro Mundial (pesquisadoras)

Rio - O Rio de Janeiro recebeu ontem (31) o primeiro Encontro Mundial para Mulheres em Matemática (World Meeting for Women in Mathematics - (WM)²), evento que faz parte do Congresso Internacional de Matemáticos (ICM 2018), da sigla em inglês), que começa hoje (1º) e vai até o dia 9 no RioCentro, na zona oeste da cidade.

A organizadora do evento no Brasil, a pesquisadora do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) Carolina Araújo, disse que, pela primeira vez, a discussão de gênero entrou no debate. Segundo ela, encontros de mulheres matemáticas foram realizadas nas últimas duas edições do ICM, mas o foco era apenas a pesquisa científica desenvolvida por mulheres.
“Um momento de muita dificuldade na carreira profissional das mulheres é o momento da maternidade, na maioria dos países, onde esse papel em geral socialmente acaba recaindo sobre a mãe mesmo. É um momento em que as mulheres são muito impactadas na carreira e muitas vezes esse impacto vai ter um efeito para o resto da vida profissional da mulher”, diz Carolina Araújo.

De acordo com ela, a discussão busca iniciativas para não perder essa cientista que virou mãe, “porque são talentos que podem contribuir para a ciência e que a gente perde se não fizer alguma coisa”.
Na matemática, Carolina Araújo destaca que existe uma sub-representação das mulheres. “No Brasil somos menos de 25% dentre os pesquisadores em matemática, em outros países a situação é ainda mais extrema. Parte do que a gente está fazendo aqui é tentando entender quais são os principais problemas, as principais dificuldades e discutir iniciativas, programas, políticas que possam ajudar a reverter essa situação”.

Segundo ela, a sub-representação é tão presente que, apenas em 2003, uma mulher foi aceita para ocupar um lugar no Comitê Executivo da União Internacional de Matemática (IMU), Ragni Piene. Apenas em 2014 uma mulher foi contemplada com a Medalha Fields, considerada o prêmio Nobel da matemática, a iraniana Maryam Mirzakhani. Morta no ano passado, vítima de câncer de mama, Maryam foi homenageada no (WM)² com uma exposição de painéis que mostram fotos inéditas da pesquisadora e seu trabalho.

Incentivo para mulheres
Conforme a especialista, iniciativas para incentivar a entrada de mulheres na carreira científica são recentes. Por isso, ela acredita que a participação das mulheres na matemática deve melhorar nos próximos anos. “Parte desse encontro tem como objetivo juntar forças, se conhecer melhor, saber o que as outras estão fazendo, aprender da experiência umas das outras para gente conseguir construir algo mais sólido nessa direção”.

Dados da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) – aplicada a estudantes de ensino fundamental e médio – mostram que a participação de meninas e meninos na prova são paritárias, inclusive entre os 5% que passam para a segunda fase da competição. Porém, entre os medalhistas, apenas 30% são meninas no nível 1 (6º e 7º anos) caindo para 20% no nível 2 (8º e 9º anos) e apenas 10% no nível 3 (ensino médio).

“Esses números são gritantes, mostra que alguma coisa precisa ser feita. A Obmep traz um diagnóstico da situação, ela também se apresenta como uma ferramenta muito potente para a gente mudar, porque a Obmep consegue ter acesso ao país todo, tem uma rede que conecta o país todo, então ela pode ser também uma ferramenta pra gente propor essas mudanças”, diz Carolina Araújo.

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