A França está em júbilo! Assim estamparam todos os jornais franceses com a conquista da Copa do Mundo de futebol. Desta feita, com a presença marcante dos afrodescendentes, frutos da colonização francesa ao longo do Continente africano e da migração massiva ocorrida nas últimas décadas. Deram mais robustez, mais velocidade e mais alegria ao futebol francês que se ressentia, nesses últimos 20 anos, de não ter obtido nenhuma conquista significativa. Tingiram em cores mais fortes o sangue azul dos franceses.
Mais de cem mil franceses, de todos os cantos, reuniram-se no Champ de Mars, ao pé da Torre Eiffel, para comemorar o feito. A Torre Eiffel foi coberta com o manto colorido da camisa bleu blanc et rouge da seleção e iluminou os céus de Paris. Mais que nunca, vale a pena repetir: Paris é uma festa!
Fui procurado, dias atrás, pelos repórteres da TV Mirante para informar sobre o local em que os franceses, residentes em São Luís, iriam se reunir para assistirem aos jogos da Copa. Desde que findou o meu mandato de cônsul da França, acabei por me afastar um pouco da colônia francesa aqui residente e lamentei por não poder ajudá-los.
Resolvi assistir ao jogo da França com a Argentina, no Jabu, uma charmosa lanchonete localizada no Shopping Tropical, onde meu amigo Rodrigo instalou uma enorme TV.
Os torcedores foram chegando, a maioria com as camisas do Brasil e tantos outros paramentados com a camisa 10 do Paris Saint Germain. De repente, entra pela porta um casal de estrangeiros, enrolados em um drapeau azul, branco e vermelho, que foram efusivamente recebidos, aos gritos, por todos. Eram franceses. Sentiram-se em casa com tamanha receptividade.
Ao primeiro gol da França, todos se abraçavam e o francês logo ensaiou o coro;
- Allez les Bleus! Allez les Bleus! Allez les Bleus... o que foi seguido, por todos, em uma só voz.
O quarto gol da França, carimbou o passaporte dos Hermanos de volta para casa e o francês, eufórico, e que jamais imaginava haver aqui no Brasil uma torcida tão fanática pela França, já pagava uma bière pression (chope) para todos os presentes. Saiu do Jabu em êxtase.
Nas quartas de final, o adversário era o Uruguai. Marcamos, todos, para assistir ao jogo no mesmo local. Quando chegamos, o francês já estava aboletado na melhor mesa em frente à TV. Ao primeiro gol da França, com um enorme grito de alegria ele saltou e, ao pousar no chão, olhou à sua volta e não encontrou um único torcedor da França. Todos haviam sumido. Estavam torcendo, desta feita, pelo Uruguai... pardon, pardon,.. desculpou-se. Mas como pode?! Deve ter pensado. O que teria acontecido a essa gente?!
Por um lado, não queríamos enfrentar a França nas etapas seguintes da Copa e por outro, tivesse ele lido um pouco sobre as rivalidades entre países vizinhos, iria entender o comportamento dos torcedores brasileiros em relação aos argentinos.
Desde o início do século passado, quando os argentinos se julgavam os europeus da Sul América, passando por Maradona querer se igualar ao Pelé, e das grandes disputas pela Taça Libertadores da América, que os torcedores brasileiros torcem o nariz para os Hermanos, nossos vizinhos.
Chegam a dizer, que o melhor negócio que se pode fazer no Mundo, é comprar um argentino pelo preço que vale e vendê-lo pelo peço que ele acha que merece... mas isso é apenas pra chatear os Hermanos. Na verdade, não temos maiores rusgas com eles. Os recebemos muito bem aqui em nossa terra, somos o maior contingente de turistas a degustar suas carnes e seus fabulosos vinhos e somos muito bem acolhidos por eles em seus prados.
Rixa, mesmo, existe entre chilenos e argentinos. Essa, sim, tem suas raízes desde as disputas pelos limites fronteiriços, agravada pela Crise do estreito de Beagle, pela guerra das Maldivas e pela disputa do gasoduto financiado pelo governo chileno e que foi interrompido pelos Hermanos quando da crise do petróleo do final do século passado.
Certa feita estava eu em Santiago, quando um amigo meu chileno, perguntou-me quem eu achava que gostava mais de tango. Se um chileno ou um argentino.
- Um argentino, é claro! Respondi de pronto.
- Ledo engano, amigo. Ninguém gosta mais de tango que um chileno... pois a cada vez que toca um tango, “sufre ou pelo menos muere un argentino”!
Pura maldade.
José Jorge Leite Soares
Ex-deputado estadual, membro da Academia Pinheirense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
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